Só 34% dos brasileiros entendem que suas ações impactam diretamente o oceano, diz pesquisa

Um dos principais vilões da poluição marinha, resíduos plásticos ainda não estão no centro das preocupações nacionais

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Lisboa

Uma pesquisa inédita divulgada nesta terça-feira (28) indica que apenas 34% dos brasileiros entendem que suas próprias ações têm influência direta no oceano. Para 40% dos entrevistados, as atitudes individuais não têm qualquer impacto nos mares, enquanto 24% consideram haver uma repercussão indireta.

No sentido inverso, a maior parte dos brasileiros identifica que o oceano tem influência sobre suas vidas. Para 50% dos entrevistados, esse impacto é direto, enquanto 21% consideram que as repercussões são indiretas. Na avaliação de 26% dos brasileiros, os mares não têm qualquer repercussão em suas vidas.

A pesquisa "Oceano Sem Mistérios: A Relação dos Brasileiros com o Mar" entrevistou 2.000 pessoas, homens e mulheres entre 18 e 64 anos, de todas as classes sociais, nas cinco regiões do país. O trabalho foi realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a Unesco e com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Imagem do oceano atlântico
Segundo a pesquisa, 50% dos entrevistados acreditam que o oceano impacta diretamente suas vidas, mas para 26% os mares não têm qualquer repercussão - Marcio Pimenta - 12.nov.21/Folhapress

O resultado do trabalho será apresentado na Conferência dos Oceanos da ONU, que acontece até sexta-feira (1º) em Lisboa.

Integrante da equipe responsável pelo trabalho, a doutora em ecologia Janaína Bumbeer considera que o Brasil fala pouco sobre a importância do oceano, mesmo com parte significativa da população vivendo na região costeira.

"O Brasil é um país que historicamente esteve de costas para o mar. Desde sempre, todo o cidadão brasileiro ouve falar das nossas florestas exuberantes, da biodiversidade terrestre e, principalmente, do papel importante da Amazônia", diz a especialista em conservação da Fundação Boticário. "Pouco se fala, ou não de forma suficiente, sobre o oceano e a forma com que nós dependemos dele para viver."

O importante papel do oceano na regulação do clima global vem sendo destacado pelo IPCC (painel de especialistas do clima da ONU). Os mares são responsáveis por absorver mais de 30% das emissões de dióxido de carbono (CO2) e de 90% do aumento de temperatura causado pelo aquecimento global.

Um dos principais vilões da poluição dos sistemas marinhos, os resíduos plásticos ainda não estão no centro das preocupações dos brasileiros. Só 35% dos participantes afirmam evitar sempre o uso de canudinhos e de copos plásticos descartáveis, enquanto 12% evitam a maioria das vezes e 20%, somente algumas vezes.

Já 20% dos entrevistados nunca evitam o consumo desses materiais, e 13% o fazem raramente.
O trabalho também perguntou a opinião dos participantes sobre a atuação do Brasil na preservação dos oceanos. Cerca de 41% dos entrevistados avaliaram o desempenho como negativo. Para 31%, o desempenho foi neutro, enquanto 28% julgaram que a performance de forma positiva.

Embora acenda o alerta sobre o grau de compreensão dos brasileiros sobre seus impactos ambientais, a pesquisa registra uma grande disposição da população a mudar seus comportamentos.

A intenção de mudar hábitos pelo bem do oceano, em uma escala de 0 a 10, teve média de 8,3. Notas entre 7 e 10 concentram 82,2% dos participantes.

Professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro da RECN (Rede de Especialistas em Conservação da Natureza), Ronaldo Christofoletti diz que o oceano começa "na porta de casa, mesmo que estejamos a muitos quilômetros de distância do mar", e que é preciso incentivar campanhas de conscientização para reforçar essa ligação.

"A gente não cuida nem se preocupa com aquilo que a gente não entende ou não sabe dos benefícios. O oceano é uma das principais fontes de recursos para as sociedades, estando perto ou longe do mar. Mas, se a sociedade desconhece isso, talvez seja algo que diminua na lista de prioridades frente a outras questões", avalia.

"Por isso é tão importante dialogar com a sociedade e ter políticas que sejam cientificamente embasadas."

Embora haja muito espaço para melhoria, Christofoletti diz que há motivos para se estar otimista com o resultado da pesquisa, que realizou um mapeamento inédito sobre o conhecimento dos brasileiros sobre diversos pontos da causa ambiental.

"Conhecer o desconhecimento [da população sobre o tema] permite que nós possamos criar e desenvolver ações focadas", completa.

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