Descrição de chapéu The New York Times

Cientistas topam com o maior encontro de baleias-fin já documentado

Grande grupo de baleias alimentando-se na Antártida aponta para um sucesso de conservação

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Winston Choi-Schagrin
The New York Times

À distância, parecia uma camada de névoa espessa no horizonte. Mas, quando o navio chegou mais perto, o oceano borbulhava com 150 baleias-fin (ou baleias-comuns), o segundo maior animal do planeta, mergulhando e lançando-se contra a superfície da água.

Seis semanas depois de iniciar uma expedição de nove semanas perto da costa da ilha Elephant, a nordeste da Península Antártica, cientistas toparam com o maior encontro de baleias-fin já documentado.

"Foi uma das observações mais espetaculares de minha vida", contou Helena Herr, ecologista da Universidade de Hamburgo que estuda mamíferos marinhos. "As baleias-fin pareciam ter ensandecido devido à concentração alimentar que encontraram. Foi absolutamente emocionante."

Baleia-fin nada perto da costa da ilha Elephant, no nordeste da Península Antártica
Baleia-fin perto da costa da ilha Elephant, no nordeste da Península Antártica - Dan Beecham/NYT

Herr e seus colegas documentaram em artigo publicado na quinta-feira no periódico Scientific Reports o retorno de baleias-fin em grande número às águas que no passado haviam sido suas áreas históricas de alimentação. A pesquisa traz uma rara boa notícia na paisagem de outro modo preocupante da biodiversidade global, em particular das espécies de animais marinhos.

Os humanos estão acelerando as extinções de espécies em ritmo sem precedentes, segundo avaliações das Nações Unidas. Segundo modelos recentes, até 2300 o aquecimento global provocado pelas emissões contínuas de gases do efeito estufa pode desencadear uma extinção em massa de espécies marinhas.

Mas a recuperação da população de baleias-fin oferece "um sinal de que, se implementamos gestão e conservação, há chances de as espécies se recuperarem", disse Herr.

A cena vista nas águas em torno da Antártida foi muito diferente por boa parte do século 20. Entre 1904 e 1976, caçadores comerciais de baleias invadiram as áreas férteis onde as baleias se alimentam e mataram estimadas 725 mil baleias-fin no Oceano Boreal, reduzindo a população da espécie para apenas 1% do que era antes do início da atividade baleeira.

Antes quase extintas pela caça predatória, as baleias-fin estão de volta na Antártida
Antes quase extintas pela caça predatória, as baleias-fin estão de volta à Antártida - Sacha Viquerat/NYT

Em 1982, quando as partes da Comissão Internacional da Baleia finalmente votaram pela proibição da caça às baleias, após uma campanha travada por entidades ambientalistas por uma década para salvar esses animais, várias espécies —entre elas a baleia-fin, os cachalotes e as baleias espadarte— já haviam sido virtualmente extintas em função da caça.

Mas, 40 anos após a proibição da caça comercial às baleias, pesquisadores que estudam outras espécies no Oceano Boreal começaram a notar o retorno de baleias-fin em número cada vez maior.

Foi o que aconteceu em 2013 para Herr e seus colegas. Na época, estavam estudando baleias-anãs quando toparam "coincidentalmente" com grandes concentrações de baleias-fin. Eles decidiram pedir verbas para estudar o ressurgimento da espécie.

Em 2018 e 2019, os pesquisadores voltaram à Península Antártica para fazer o primeiro estudo dedicado da população de baleias-fin. Por meio de levantamentos aéreos, registraram a presença de cem grupos de baleias-fin que variavam de tamanho entre um e quatro indivíduos. Também documentaram oito grupos grandes de até 150 baleias reunidas para se alimentar.

O estudo "confirma que esse padrão ainda continua e está se fortalecendo", disse o ictiologista Jarrod Santora, da National Oceanic and Atmospheric Administration, que estava estudando krill quando se tornou um dos primeiros pesquisadores a documentar populações crescentes de baleias-fin (ele não participou da nova pesquisa).

Cientistas que estudam baleias avisam que nem todas as espécies de baleias se recuperaram igualmente bem desde que a caça foi proibida. Sally Mizroch, ictiologista que estuda baleias desde 1979 e não participou da pesquisa, descreveu as baleias-fin como "muito bem-sucedidas". Diferentemente de outras espécies, como a baleia-azul, as baleias-fin percorrem longas distâncias para buscar alimentos e consomem fontes de alimento diversas.

Os cientistas não sabem ao certo por que algumas das concentrações de baleias-fin eram tão grandes. Herr notou que as cenas que eles testemunharam tinham pelo menos alguns paralelos com relatos históricos escritos antes da generalização da caça comercial às baleias. Por exemplo, em expedição à Antártida em 1892, o naturalista William Speirs Bruce descreveu ter visto as costas e os esguichos de baleias estendendo-se de "horizonte a horizonte".

Pesquisas recentes postulam que a recuperação das populações de baleias é positiva não apenas para as baleias, mas também para o ecossistema inteiro. Os cientistas sugerem que, quando as baleias se alimentam de krill, elas excretam ferro, que estava contido nos crustáceos, de volta para a água. Isso, por sua vez, pode aumentar a presença de fitoplânctons, organismos microscópicos que usam dióxido de carbono para fazer fotossíntese e estão à base da cadeia alimentar marinha.

Quando as baleias-fin trazem o krill para a superfície da água, podem também facilitar a ação de outros predadores, incluindo aves marinhas e focas, disso Santora. "Há muito mais cooperação e simbiose no ecossistema do que geralmente pensamos."

Tradução de Clara Allain

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