Calor perigoso no Brasil pode ser realidade na maior parte do ano com crise do clima

Pesquisa aponta possível extensão do impacto local de temperaturas altas sobre a saúde humana

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São Paulo

Áreas tropicais e subtropicais, entre elas o Brasil, podem ter temperaturas tidas como "perigosas" para a saúde humana pela maior parte do ano, conforme avança a crise climática pelo século 21. Lugares do planeta com bilhões de pessoas, como a Índia e a África subsariana, podem experimentar mais dias com temperaturas "extremamente perigosas".

É o que mostra uma pesquisa publicada nesta quinta-feira (25) na revista científica Communications Earth & Environment.

O planeta já aqueceu, em relação ao período pré-industrial (tido como o espaço de tempo entre 1850-1900), pouco mais de 1°C. Os autores da pesquisa afirmam que, se nenhuma mudança drástica for colocada em prática, até 2050 chegaremos a 2°C de aumento, o limite de aquecimento colocado como meta no Acordo de Paris —segundo o qual, preferencialmente deveríamos nos manter em até 1,5°C, o que, atualmente, já parece um alvo perdido.

Vista aérea da areia, com multidão em guarda-sóis
Movimento na praia de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, durante o feriado de Carnaval - Eduardo Anizelli - 28.fev.2022/Folhapress

Na pesquisa, os cientistas se utilizaram de um índice de calor, que leva em conta, além da temperatura, a umidade. Tal dado é resumido em uma temperatura. Basicamente, pode-se tomar o índice como a sensação térmica. Isso é importante porque uma das formas de o corpo humano regular a temperatura é através do suor. Porém, quando a umidade é mais alta, a evaporação do suor fica mais difícil e o corpo acaba mais quente.

Segundo o serviço climático norte-americano, um índice de calor de 39°C já é considerado "perigoso". Nessa situação já é possível experimentar câimbras e exaustão, e, em casos de exposição prolongada ou atividade física, há risco de derrames associados à temperatura.

Os 51°C, novamente seguinte o índice, marcam a entrada na zona "extremamente perigosa". Nessa situação derrames associados ao calor são prováveis, segundo o serviço climático dos EUA, e podem levar à morte.

Os cientistas aplicaram esse índice sobre as diferentes partes do globo terrestre, para entender o impacto da crise climática no estresse térmico regional.

Com base em dados históricos de 1979 até 1998, os cientistas observaram que as situações em que o índice entrava em nível de perigo ocorreram somente em cerca de 5% dos dias anualmente nas áreas tropicais e subtropicais. Na área subtropical africana, no subcontinente indiano e na península arábica, o mesmo ocorreu em cerca de 10% a 15% dos dias todo ano.

Nas regiões de latitudes médias, como Europa e parte dos EUA, o índice classificado como perigoso mais raramente ainda era atingido. Em algumas dessas regiões, isso era um evento extremo, com ocorrência restrita a menos de uma vez por ano.

Mas graças à crise climática provocada pela ação humana, a situação deve esquentar mundo afora. Nas áreas tropicais e subtropicais, até 2050, os dias com índice de calor perigoso devem ocupar, para determinadas populações, de um quarto até metade do ano. Até o fim do século, a maior parte dessas regiões poderá conviver com índices perigosos na maior parte dos dias a cada ano, estimam os pesquisadores.

Já as regiões de latitudes médias poderão ter de 15 a 90 dias por ano com índices de calor considerados perigosos.

Até o fim do século, os raros dias com índices extremamente perigosos poderão se tornar regulares, ocorrendo em mais de 15 dias por ano, África subsaariana, em parte da península arábica e em boa parte do subcontinente indiano.

Em cenários de emissões altas (ao falar de projeções climáticas, os cientistas sempre estimam diversos cenários possíveis para as emissões humanas de gases-estufa), algumas regiões tropicais e subtropicais poderão experimentar de 15% a 25% dos dias do ano com índices extremamente perigosos para a saúde humana.

A preocupação com situações de calor extremo estão relacionadas ao risco de mortes e a necessidade de adaptação na sociedade, para o clima futuro que enfrentaremos.

"As consequência para a saúde de temperaturas altas regulares, particularmente para os mais velhos, pobres e de pessoas que trabalham sob o sol, ao ar livre, podem ser profundas e necessitar de reorientações básicas quanto aos riscos, mesmo em latitudes médias", concluem os cientistas.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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