Descrição de chapéu pantanal

Governador de MT sanciona lei que altera proteção do Pantanal

Novas normas permitem pecuária extensiva em áreas de preservação permanente e fragilizam bioma, segundo entidades socioambientais

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São Paulo

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), sancionou uma lei (11.861/2022) que flexibiliza a atividade agropecuária no Pantanal mato-grossense. As novas normas, agora em vigor, alteram a lei 8.830/2008 —conhecida como Lei do Pantanal— e vêm sendo contestadas por dezenas de entidades socioambientais, que afirmam que as mudanças fragilizam o bioma.

A sanção governamental, sem vetos ao texto que chegou da Assembleia Legislativa, foi publicada no Diário Oficial do estado nesta quinta-feira (4).

Entre as principais mudanças estão a permissão para pecuária extensiva em áreas de preservação permanente e a implantação de pastagens cultivadas em até 40% da área de propriedades na planície inundável.

Área ligeiramente alagada, com um pouco de pasto queimado em volta
Vegetação queimada em área alagada próxima a estrada que atravessa uma fazenda no Pantanal - Lalo de Almeida - 2.nov.2021/Folhapress

Em nota publicada após a sanção governamental, Herman Oliveira, secretário-executivo do Formad (Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento), afirma que as alterações são um retrocesso e ampliam a "degradação socioambiental de um bioma já fragilizado".

Após a aprovação do projeto de lei na Assembleia, o Formad, que é formado por diversas entidades, já havia soltado uma nota de repúdio sobre a mudança na Lei do Pantanal.

Segundo o fórum, as alterações implementadas representam "a autorização legal da degradação do bioma": "[...] é uma afronta ao Código Florestal brasileiro, e trará prejuízos à qualidade da água, às espécies animais e vegetais, ao equilíbrio ecológico e aos povos tradicionais e indígena da maior planície alagável do mundo, o Pantanal, já ameaçado por uma crescente perda de sua superfície de água".

Dados do MapBiomas Água apontam que o Pantanal perdeu 74% de sua superfície de água desde 1985.

Antes da aprovação do projeto na Assembleia, também em nota, Edilene Fernandes do Amaral, consultora jurídica e de articulação do Observa-MT (Observatório Socioambiental de Mato Grosso, entidade que acompanha atividade legislativa), afirmava que as alterações poderiam "impactar significativamente o bioma, reduzindo áreas protegidas".

Nos últimos anos, o Pantanal também tem sofrido com as queimadas. Em 2020, ano em que todo o bioma sofreu com as chamas, mais de 40% do Pantanal mato-grossense queimou. Além das perdas de fauna, flora e de prejuízos para proprietários rurais, a fumaça dos incêndios ameaça a saúde da população.

As entidades socioambientais também vêm criticando como foi conduzido o processo legislativo para a alteração da Lei do Pantanal.

No mês passado, o Formad disse, em nota, ser "lamentável que a mesma pressa com que os deputados colocaram esta pauta para deliberação e votação, em pouco mais de um mês, não seja vista em outras demandas de interesse da sociedade".

Organizações, entre as quais a Formad e o Observa-MT, também afirmam que não foram consideradas recomendações técnicas feitas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e não ter havido consultas públicas e a populações afetadas.

"[...] o processo do PL 561/2022 foi caracterizado por vícios de tramitação, ausência de debate social e de dados sobre a biodiversidade do bioma", diz carta assinada por entidades socioambientais.

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