Descrição de chapéu mudança climática

Temperaturas elevadas registradas no passado não descartam mudança climática

Jornais noticiaram temperatura acima de 50°C na Espanha em 1935, mas especialistas contestam

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Adria Laborda
Barcelona | AFP

Em meio à onda de calor na Europa, postagens relembrando antigas temperaturas extremas viralizaram nas redes sociais, em uma tentativa de negar a mudança climática.

As publicações apresentaram calendários, tabelas de referência e notícias de décadas anteriores para mostrar, por exemplo, que os termômetros na Espanha já chegaram a marcar 50°C.

Especialistas advertem, no entanto, que esses picos de calor não contradizem o aquecimento global e que essas publicações induzem ao erro, já que apresentam dados isolados não compilados corretamente.

Relógio de rua em Sevilha (ESP) marca 48° C no dia 13 de junho, durante a onda de calor que castiga a Europa
Relógio de rua em Sevilha (ESP) marca 48° C no dia 13 de junho, durante a onda de calor que castiga a Europa - Cristina Quicler - 13.jun.22/AFP

52°C em Saragoça?

Uma das postagens exibe um artigo publicado no jornal The New York Times em 23 de junho de 1935 que afirma que no dia anterior os termômetros em Saragoça chegaram a "127 graus Fahrenheit", equivalente a 52,7°C.

O número é muito superior ao recorde nacional estabelecido pela Agência Estatal de Meteorologia (Aemet), de 47,6°C em La Rambla (Córdoba) em 14 de agosto de 2021.

Contatado pela AFP Fact-Check, o porta-voz da Aemet, Rubén del Campo, disse que a máxima alcançada nesse dia em Saragoça foi 39°C. "A temperatura de 52 graus está incorreta. Não consta de nosso banco de dados e, na verdade, não há nenhum registro que supere os 50 graus", argumentou.

De todo modo, "ainda que estivesse correto, insisto, não seria uma prova de que a mudança climática não existe", destacou.

O jornal La Vanguardia também em 1935 repercutiu esta notícia, acrescentando que 51 e 52 graus foram registrados "sob o sol".

Os especialistas alertam que os critérios para garantir uma medição correta devem cumprir parâmetros.
"Os sensores devem estar protegidos do sol e da chuva, e a temperatura do interior da estação deve ser a mesma que a do exterior", disse Ricardo Torrijo, técnico de meteorologia da Aemet. Portanto, se os 50 graus foram registrados sob o sol, como reconhece o La Vanguardia, não seria um registro válido.

Um caso semelhante citou o semanário El Español de agosto de 1957 e sua manchete "O verão mais quente do século", que alertava para temperaturas em torno dos 50 graus. Este número também havia sido medido sob o sol.

Uma anormalidade não muda a tendência

Isabel Cacho, da Universidade de Barcelona (UB) e especialista em variação climática natural do planeta, afirmou à AFP que, "no hipotético caso de que" se tenha alcançado esses 50 graus, "não seria um argumento para questionar que a situação atual seja mais quente".

"A anormalidade deste dia em específico tem um efeito muito pequeno na média (das temperaturas) e a tendência não muda", acrescentou Pedro Zorrilla, especialista espanhol em mudança climática e combustíveis fósseis do Greenpeace Espanha.

José Luis García, outro especialista em mudança climática e porta-voz do Greenpeace Espanha, acrescentou: "Esses dados de altas temperaturas não servem para desacreditar a existência da mudança climática (...) Uma coisa são dados pontais de temperatura e outra, muito diferente, é o aumento da tendência e a temperatura média".

Os especialistas também concordaram que na última década aumentaram os fenômenos meteorológicos extremos por influência da mudança climática.

Eventos como as ondas de calor ocorrem cada vez com mais frequência, afirmou em junho o doutor em geografia e história Mariano Barriendos, da Universidade de Barcelona.

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