Lula falou como um líder mundial, avaliam brasileiros e estrangeiros na COP27

Discurso teve cobrança para que os países ricos cumpram as promessas de financiamento climático

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Sharm el-Sheikh (Egito)

O Itamaraty poderia ter escrito a fala de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmam à Folha diplomatas que assistiram ao pronunciamento do presidente eleito no auditório da COP27, a Conferência do Clima da ONU, nesta quarta (16).

O posicionamento, segundo negociadores brasileiros, tem perfeito alinhamento com o que o Itamaraty defende historicamente nas conferências ambientais.

A cobrança para que os países ricos cumpram as promessas de financiamento climático foi vista como corajosa, já que Lula ainda não chegou ao poder e poderia ficar mais confortável ao adotar uma postura mais amigável.

Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva faz discurso na COP27, realizada no Egito - Ahmad Ghabrili/AFP

"Ele pode cobrar os países porque assume o compromisso de fazer o dever de casa", avalia o deputado federal Alessandro Molon (PSB/RJ). "É um discurso que mostra a chegada de um líder não só nacional, como também mundial, cuja voz é ouvida em outros países, em fóruns internacionais."

O Congresso –especialmente o Senado– ocupou boa parte dos assentos reservados nas primeiras filas do auditório, atraindo até mesmo nomes que não costumam frequentar as negociações climáticas.

O senador Renan Calheiros (MDB/AL), que chegou há dois dias para sua primeira COP do Clima, afirmou à Folha que a presença de Lula motivou sua viagem.

Os parlamentares que já acompanham a agenda climática também viram um significado importante na mensagem do presidente eleito. "Lula é uma sensação política em uma conferência que tem, neste ano, negociações muito técnicas", avalia a senadora Kátia Abreu (PP/TO).

Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), a mensagem principal já vinha sendo adiantada. "O país que estava exilado nas últimas conferências do clima chegou hoje para dizer que está de volta", disse.

Entre a audiência internacional, repercutiu destacadamente uma afirmação do discurso em que Lula reconhece a importância da Amazônia para o planeta, dizendo que não há segurança climática sem a Amazônia.

Um observador americano das negociações afirmou que esse reconhecimento ajuda mutuamente as posições do Brasil e do mundo.

Por um lado, o país se coloca como liderança internacional ao assumir um papel vital para o planeta. Por outro, o mundo consegue negociar a implementação do acordo climático contando que o Brasil está a bordo e, portanto, que há chances de se mitigar a crise do clima.

Investidores de fundos ligados a critérios socioambientais também acompanharam, à distância, o pronunciamento do presidente eleito.

"São bem-vindos os holofotes sobre o fortalecimento dos órgãos de supervisão e sistemas de monitoramento que foram desmantelados nos últimos quatro anos", afirmou Arild Skedsmo, analista sênior do maior fundo de pensão da Noruega, o KLP, que administra ativos de US$ 80 bilhões.

"Como Lula mencionou, aqui na Noruega tivemos uma reação positiva imediata à vitória de Lula. Recursos haviam sido congelados como resultado das ações negativas do presidente Bolsonaro que levaram o desmatamento a níveis recordes", completou.

Brasileiros lotaram o auditório principal, por onde Lula passou, e ainda preencheram dois outros espaços em que o discurso foi transmitido. Mesmo sem cumprir as expectativas de anunciar ministros para pastas como Meio Ambiente e Povos Originários, o discurso causou reações emocionadas.

Antes de deixar o plenário para voltar ao hotel, Lula abraçou apoiadores –incluindo a filha de Chico Mendes, a ambientalista Angela Mendes.

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