Descrição de chapéu
Planeta em Transe Governo Lula

Apoio de Rui Costa e promessa de transversalidade são sinais de força na posse de Marina

Em discurso, novo ministro da Casa Civil disse que preocupação ambiental permeará projetos do governo Lula

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Giovana Girardi
Brasília

A posse de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima nesta quarta-feira (4) chamou atenção como uma das mais concorridas desde o início do governo Lula, reforçando, mais uma vez, a importância que o tema ganhou no país e no mundo.

Mas quem deu o "lead" —como se diz no jargão jornalístico sobre a informação mais relevante—, talvez não tenha sido a ambientalista acreana, mas o novo ministro da Casa Civil, Rui Costa.

"Marina, pode contar conosco, com o melhor que tem de cada um de nós ministros, porque a Casa Civil da Presidência da República expressará todos os dias, garantindo que o meio ambiente seja visto de forma transversal em todos os ministérios da República", disse Costa em um breve discurso antes da exposição de Marina.

Marina faz um coração com as mãos e sorri
A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, durante sua cerimônia de posse, no Palácio do Planalto, nesta quarta (4) - Pedro Ladeira/Folhapress

Sem ofuscar o brilho da ex-senadora e deputada federal eleita por São Paulo, Costa buscou sinalizar que Marina terá apoio de todo o governo —condição que parecia meio óbvia diante do destaque que Lula deu para a pauta ambiental durante a campanha, mas que cambaleou em razão da demora para a escolha do nome dela para a pasta.

No fim do ano passado, antes de Lula fechar as escolhas de seu ministério, por semanas pairou a dúvida sobre quem assumiria o MMA. Simone Tebet, que vai assumir o Planejamento, chegou a ser convidada para o posto, em meio a rumores de que membros do PT teriam feito ressalvas ao nome de Marina por considerá-la muito radical.

"Quando se pensar no Ministério das Cidades, no Ministério da Infraestrutura, dos transportes, dos portos, pensaremos na sustentabilidade do meio ambiente, no ecossistema e no equilíbrio desses projetos", continuou Costa.

"Por isso quero afirmar que o Ministério do Meio Ambiente será convidado, convocado a participar desde o início de todas as concepções desses projetos. Substituindo aquela visão antiga de que o MMA só entrava quando o projeto estava pronto para analisar se estava adequado ou não ao marco legal. Vamos inverter isso", disse o ministro da Casa Civil, nome forte do PT.

Rui Costa falando ao microfone
O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, em discurso na posse da ministra do Meio Ambiente Marina Silva - Pedro Ladeira/Folhapress

"Com isso conseguiremos ao mesmo tempo mais celeridade aos projetos e que eles surjam sem polêmica e atendendo ao que hoje é um clamor não do Brasil, mas da humanidade que é o meio ambiente, energias renováveis e a sustentabilidade para o ser humano e para a vida em nosso planeta", afirmou.

Marina dançou conforme a música. Disse que as palavras do colega soaram como uma "doce melodia".

A fala de Costa soou como aval para que se torne prático um princípio considerado fundamental por Marina para que a política ambiental ande: a transversalidade.

Desde o momento em que concordou em apoiar Lula, Marina deixa claro que o combate ao desmatamento e às mudanças climáticas e a adoção de políticas para um crescimento econômico sustentável só vão funcionar se todos os ministérios embarcarem na mesma direção.

O discurso foi incorporado por Lula, mas nem sempre discurso é sinônimo de ação, e a confusão da indicação de Marina gerou mal-estar. Lula reforçou a mensagem em fala na posse e nesta quarta, com a presença de Costa, a repetiu na cerimônia de Marina.

O titular da Casa Civil, ex-governador da Bahia, é um nome com quem Marina provavelmente terá de negociar bastante. A pasta foi fundamental há 20 anos, no primeiro mandato de Lula —e de Marina— quando foi feito o plano para o combate ao desmatamento da Amazônia, o PPCDAm. Era da Casa Civil o comando político do PPCDAm.

Outro nome que será um interlocutor importante é Carlos Fávaro, da Agricultura, campo que tradicionalmente se opôs ao meio ambiente. Em seu discurso, Marina buscou chamar os dois para combate. "Porque nós, os ministros —se Deus quiser, né, Fávaro?—, vamos trabalhar muito conjuntamente", provocou.

Há 20 anos Marina já defendia a transversalidade e bolou com sua equipe um programa de combate ao desmatamento que abrangia 13 ministérios. Desta vez, a ideia é que 17 pastas entrem nos esforços.

"A transversalidade não é mais um desejo, um sonho, é uma realidade, descrita nas estruturas organizacionais de todas as novas pastas da Esplanada", afirmou Marina, sinalizando que ela também vai buscar consensos e conciliação.

Marina caminha enquanto levanta uma mão e, na outra, segura papéis; Alckmin e Janja, sentados, aplaudem
Marina Silva na cerimônia de posse como ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática nesta quarta (4) no Palácio do Planalto; ao fundo, o vice presidente, Geraldo Alckmin, e a primeira-dama, Janja - Pedro Ladeira/Folhapress

"Comprometo-me, por meio do ministério que tenho a honra de conduzir, a envidar todos os meus esforços para que essas letras escritas se traduzam na prática. O papel do MMA não é ser um entrave às justas expectativas de desenvolvimento econômico e social de nossa população, mas de um facilitador para orientar a forma como essas demandas podem ser atendidas sem prejuízo da necessária proteção de nossos recursos naturais."

Ela sabe o tamanho da encrenca que tem pela frente. "Haverá, naturalmente, tensões e contradições. A transversalidade ainda é incipiente. As visões setoriais precisam evoluir para uma perspectiva mais integradora, trazida por novos paradigmas em curso no mundo inteiro", disse também.

Discursos, discursos. A ver para onde irá essa evolução.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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