Descrição de chapéu mudança climática

Chefe de petroleira vai liderar COP28 nos Emirados Árabes

ONGs chamam de 'golpe duro' e veem conflito de interesses em nome anunciado para comando da próxima conferência do clima da ONU

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Dubai | Reuters

Os Emirados Árabes Unidos disseram nesta quinta-feira (12) que o chefe da gigante estatal do petróleo Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) vai liderar a cúpula do clima COP28 deste ano, aumentando as preocupações dos ativistas de que a grande indústria esteja sequestrando a resposta global à crise ambiental.

Sultan al-Jaber, também ministro da Indústria e Tecnologia e enviado climático, ajudará a formular a agenda da conferência e as negociações intergovernamentais para formar consenso, disse seu gabinete em um comunicado.

Os Emirados Árabes Unidos, grande exportador de petróleo da Opep, serão o segundo país árabe a sediar a conferência do clima, depois do Egito em 2022.

Homem com vestes tipicas dos Emirados Árabes, como o turbante, fala ao microfone
Sultan al-Jaber, CEO da petroleira estatal Abu Dhabi National Oil Company, em discurso em conferência sobre petróleo em Abu Dhabi em novembro de 2019 - AFP

Ativistas e alguns delegados criticaram a COP27, dizendo que os produtores de combustíveis fósseis diluíram a redução de emissões e se beneficiaram do tratamento simpático do Egito, um exportador de gás natural que frequentemente se beneficia de fundos do Golfo.

A presidência egípcia negou isso.

A ONG Global Witness chamou a nomeação de Jaber de "golpe duro" para afastar o mundo dos combustíveis fósseis.

"Como na cúpula do ano passado, estamos vendo cada vez mais interesses dos combustíveis fósseis assumirem o controle do processo, moldando-o para atender a suas próprias necessidades", acrescentou Teresa Anderson, líder global de justiça climática na ActionAid, em um comunicado.

Mais de 600 lobistas de combustíveis fósseis estiveram presentes nas negociações climáticas em Sharm el-Sheikh, no Egito, em 2022.

"Colocar um CEO do petróleo no comando das negociações para a COP28 é claramente um conflito de interesses", disse Lisa Schipper, geógrafa ambiental que atuou como principal autora do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) sobre adaptação climática.

No entanto, como CEO e fundador da empresa de energia renovável Masdar, de Abu Dhabi, na qual a Adnoc tem uma participação de 24%, Jaber tem credenciais verdes, tendo supervisionado seu mandato para adotar energias renováveis nos Emirados.

Ele também está supervisionando a aceleração do programa de estratégia de crescimento com baixo carbono da Adnoc, aprovado no final do ano passado.

Os Emirados Árabes Unidos e outros produtores do Golfo pediram uma transição realista em que os hidrocarbonetos manteriam um papel na segurança energética ao mesmo tempo que o país assume compromissos com a descarbonização.

Exigências para governos e empresas deixarem petróleo e gás no solo ganharam menos tração desde a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado e a crise energética da Europa.

Os Emirados Árabes Unidos, primeiro país da região a ratificar o Acordo de Paris, comprometeu-se a atingir emissões líquidas zero até 2050.

De 30 de novembro a 12 de dezembro, a COP28 será o primeiro balanço global desde o histórico Acordo de Paris em 2015.

Jaber, que segundo o comunicado seria o primeiro CEO a servir como presidente da COP, disse que os Emirados Árabes Unidos trariam "uma abordagem pragmática, realista e voltada para soluções". "Vamos adotar uma abordagem inclusiva, que envolva todas as partes interessadas", acrescentou.

O chefe de política climática da União Europeia, Frans Timmermans, disse que encontraria Jaber esta semana.

"Sendo a próxima presidência [da COP], os Emirados Árabes Unidos têm um papel crucial na formação da resposta global à crise climática", disse ele no Twitter, acrescentando que "precisamos acelerar".

O local de realização da COP29 ainda não foi definido. Para a COP30, em 2025, o Brasil já candidatou. Nesta quarta (11), o presidente Lula anunciou que Belém é a cidade escolhida para sediar a conferência caso o país seja confirmado como anfitrião pela ONU.

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