Descrição de chapéu Planeta em Transe desmatamento

Em duas semanas, desmatamento na Amazônia já bate recorde para fevereiro

Até o dia 17, alertas do Inpe contabilizaram quase 209 km2 de devastação

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São Paulo

Em pouco mais de duas semanas, o desmatamento na Amazônia já bateu o recorde para o mês de fevereiro desde o início da série histórica, em 2015. Até o dia 17, foram perdidos 208,7 km² de floresta, uma área equivalente à cidade de João Pessoa (211 km²).

Os alertas foram divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Deter, sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que reúne informações para o combate ao desmatamento em tempo real. Os dados referentes ao total do mês de fevereiro devem ser divulgados em duas semanas.

Até então, o número de desmate mais alto para fevereiro tinha sido registrado no ano passado, com 198,6 km² de floresta perdida.

Considerando os dados parciais, a maior parte da destruição no mês está concentrada em Mato Grosso (129,4 km²). Em seguida vêm Pará (33,9 km²) e Amazonas (23,1 km²).

Imagem aérea mostra clareira de árvores derrubadas em meio à mata fechada
Área desmatada por grileiros na Amazônia, dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá, em Altamira (PA) - Lalo de Almeida - 26.ago.19/Folhapress

O início do ano é chuvoso na região, o que dificulta a derrubada da vegetação e leva a números mais baixos no desmate, na comparação com outras épocas.

"Esse desmatamento ameaça não só a biodiversidade da região, como todo o nosso regime de chuva e a segurança alimentar de milhões de pessoas. Nós já sabemos como parar esse desmatamento e é fundamental que comecemos a controlar esse avanço da destruição", afirma Paulo Moutinho, diretor executivo substituto do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em comunicado à imprensa.

O recorde atual vem após uma queda de 61% que tinha sido registrada em janeiro, na comparação com 2022. À época, especialistas ponderaram que, ainda que fosse uma boa notícia, a redução deveria ser vista com cautela, já que o mês tinha tido alto índice de cobertura de nuvens na região, o que dificulta o monitoramento por imagens de satélite.

Com isso, aponta Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, é possível que esses dados de fevereiro representem áreas que já estavam desmatadas em janeiro, mas ficaram encobertas pelas nuvens.

Pela forma como é elaborado e prevendo esse tipo de variação, o dado do Deter é usado para analisar tendências, que são consolidadas a cada três meses. Ou seja, os números que darão um diagnóstico mais sólido sobre o começo deste ano devem sair apenas ao final do primeiro trimestre.

Desde o início de 2023, o Deter já apontou 375,3 km² desmatados na Amazônia, o que representa uma queda de 29,5% em relação ao mesmo período do ano passado, em que a área destruída foi de 532,6 km².

Questionado sobre os índices, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) disse, em nota, que o objetivo do Deter é "fornecer informações de suporte às atividades fiscalização e controle do desmatamento e da degradação florestal".

O instituto também afirmou que o site do Inpe diz que as informações produzidas pelo sistema "não devem ser compreendidas como taxas mensais de desmatamento" e que a cobertura de nuvens deve ser levada em conta ao fazer comparações entre diferentes meses e anos.

O Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima também foi procurado, mas não respondeu.

Estes são os primeiros índices do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem concentrando ações na região amazônica no combate à crise humanitária dos yanomamis e ao garimpo ilegal.

"Não era possível que o governo já tivesse reflexos das suas ações para o mês de janeiro de forma tão contundente. Nós vamos ver esses números daqui um tempo, em mais dois ou três meses vamos começar a ver se a curva de diminuição ou de manutenção [do desmatamento] é consistente", diz Astrini.

"A ação do governo na Terra Indígena Yanomami é também importantíssima porque tem uma repercussão de mensagem para muito além daquele território. Você está vendo ali que o governo, agora, está indo para cima dos criminosos", acrescenta.

No último dia 15, o Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou um programa para ampliar as ações de segurança na Amazônia. Batizado de Amazônia Mais Segura, o programa tem o objetivo de combater ações como garimpo ilegal e desmatamento.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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