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BNDES quer novo fundo para a Amazônia e coalizão de bancos contra desmatamento

Instituição apresenta a órgãos internacionais de fomento proposta para criminosos ambientais terem crédito negado

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Brasília

O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) planeja criar um novo fundo voltado à preservação da Amazônia e incentivar instituições financeiras internacionais a negarem crédito a quem desmata no Brasil.

O BNDES já levou ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) a sugestão de barrar o crédito aos criminosos ambientais, durante a reunião ocorrida neste mês no Panamá. Foi oferecida à instituição a mesma ferramenta usada para monitoramento via satélite no Brasil, o MapBiomas.

O banco interamericano deve enviar representantes ao Brasil em abril para estudar a possibilidade de aplicação da ferramenta em suas próprias análises de crédito.

Fiscal do IPAAM, Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, vistoria um desmatamento recente no município de Apui, no sul do Amazonas. - Lalo de Almeida -20.ago.2020/Folhapress

O BNDES começou neste ano a usar o MapBiomas para atender a uma regra de 2022 do Banco Central, que impede a concessão de financiamento de crédito rural destinado a propriedades suspeitas de destruir a floresta em suas propriedades.

A ferramenta, uma das referências em monitoramento da floresta no mundo, cruza imagens de satélite com o banco de dados do CAR (Cadastro Ambiental Rural) do solicitante e identifica se há indícios de desmatamento ilegal naquele imóvel.

Segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, desde que a instituição começou a usar a ferramenta do MapBiomas, em fevereiro, o BNDES barrou 58 pedidos de crédito, que somam quase R$ 25 milhões.

No mesmo mês, o Brasil bateu recorde de desmatamento na Amazônia e no cerrado. No acumulado para todo o mês de fevereiro, a área com alertas foi de 321,9 km² na Amazônia. O índice representa um crescimento de 62% em relação ao ano passado (198,6 km²), que era, até então, o mais alto da série histórica iniciada em 2015.

A ideia, segundo Mercadante, é que agilizar o processo de suspensão de créditos e ampliar esse mecanismo para outros países ajude a coibir a destruição da floresta.

"Identificamos 58 grandes propriedades que tinham desmatado uma área equivalente a 1300 campos de futebol. E dessas, só 3 recorreram [após terem o pedido indeferido]. Ou seja, a metodologia é eficiente", avalia

As atividades que mais tiveram financiamento negado foram a soja, com 17 pedidos —e mais de R$ 12 milhões— e a criação de gado bovino de corte, com 15 —e R$ 5 milhões.

Tocantins foi o estado com maior valor de crédito negado, R$ 6 milhões, seguido de Pará (R$ 3,6 milhões) e Rondônia (R$ 3,1 milhões). Por outro lado, em quantidade de pedidos indeferidos, Paraná e Rio Grande do Sul superam inclusive os estados do Norte —as negativas, no entanto, somam montante menor, respectivamente R$ 1,8 milhão e R$ 1,3 milhão.

De acordo com Mercadante, a metodologia já é aplicada a todos os 30 bancos que operam o Plano Safra do BNDES, o que significa que ela também é usada por instituições privadas que venham a ser acionadas pelos produtores rurais.

Antes, explica o presidente do banco, esse procedimento para verificar se o produtor havia cometido crime era feito via Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que comunicava o banco quando identificava o crime. Mercadante diz que esse processo por vezes demorava, e, por isso, o uso da ferramenta da MapBiomas para a identificação de desmatadores, que funciona de forma automatizada e integrada ao sistema do banco.

"A nossa disposição é repassar a metodologia gratuitamente para que os outros bancos de desenvolvimento possam adotar o mesmo procedimento. Imagine se todos os bancos da região amazônica, de todos os países que tiverem o mesmo empenho", afirmou.

Ao mesmo tempo, o banco brasileiro articula a criação de um novo fundo de captação de recursos para projetos de preservação da Amazônia. A intenção é que o BNDES lidere uma agenda verde na região.

Na avaliação de pessoas envolvidas nas conversas, mas ouvidas sob condição de anonimato, o Fundo Amazônia é fundamental, porém tem limitações e, sobretudo, é considerado um mecanismo que demora a liberar o dinheiro para ser aplicado.

Nas conversas entre BNDES e representantes de países da região amazônica, durante o encontro do BID, foram apresentadas algumas demandas a serem supridas, como soluções regionalizadas, maior dinamização das fontes financiadoras e a necessidade de aplicação de recursos também como forma de criar alternativas à economias locais —muitas vezes dependentes das atividades ilegais que geral desmatamento.

A ideia do BNDES é se unir com o BID —e, potencialmente, outros bancos de desenvolvimento— para criar um novo fundo.

Atualmente, o Fundo Amazônia é gerido pelo BNDES e funciona apenas a partir de doações de governos estrangeiros e empresas nacionais.

De acordo com essas pessoas, a proposta inicial é que o fundo paralelo seja operacionalizado por diversos bancos de desenvolvimento, atuando não só a partir de doações, mas também com recursos reembolsáveis.

Segundo Natália Dias, diretora do BNDES, a ideia é também dar importância a iniciativas ligadas à bioeconomia.

Com mais operadores, o novo fundo teria mais capilaridade para captar recursos e mais agilidade na aplicação do dinheiro em projetos destinados à preservação da Amazônia.

"Os bancos de desenvolvimento são o canal mais eficaz para implementar a transição, pois reúnem ao mesmo tempo a capacidade de mobilização de capital de diversas fontes, e por outro e tem a expertise na estruturação e análise de projetos", afirmou Dias.

Detalhes mais profundos acerca do funcionamento do fundo, como a existência de metas para liberação de recursos ou condições e taxas das negociações, ainda estão em conversa. A expectativa é que, até agosto, eles sejam elaborados.

Dias reitera, no entanto, a importância do Fundo Amazônia como instrumento de preservação da floresta.

Até aqui, foram 102 projetos contratados pelo fundo, para um total de R$ 1,8 bilhão investido. 61% deste valor foi destinado ao setor público, 32% para iniciativas estaduais e 27% para a União.

Também é discutida a realização de uma cúpula de bancos de desenvolvimento no Brasil, onde a expectativa é que esses temas sejam colocados em pauta.

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