Google Earth passa a mostrar desmatamento na Amazônia até 2022

Gigante da tecnologia também vai lançar sistema de alertas para incêndios e enchentes

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Belém

O Google anunciou nesta terça-feira (4) que o Google Earth passou a incluir imagens do avanço do desmatamento na Amazônia até 2022. A atualização da plataforma com dados desde 2020 possibilita acompanhar o avanço da destruição da floresta, que teve índices recordes no governo Jair Bolsonaro.

A gigante da tecnologia também divulgou o lançamento de um sistema de detecção precoce para incêndios, em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e a ampliação dos alertas para inundações, em colaboração com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

Os anúncios foram feitos no evento Sustentabilidade com Google - Amazônia, que acontece em Belém (PA).

Veículos andam em estrada com as laterais desmatadas
Área desmatada em Apuí, no sul do Amazonas - Lalo de Almeida - 20.ago.2020/Folhapress

Com registros de imagens de satélite desde 1984, o Google Earth dispõe de uma ferramenta de timelapse que, agora, mostra com detalhes as mudanças ocorridas na cobertura florestal nos últimos dois anos (clique aqui para ver exemplos no Google Earth).

O mecanismo utilizado para gerar as imagens, o Google Earth Engine, já é usado por pesquisadores para monitorar o uso de recursos naturais, como no caso da plataforma Mapbiomas. O projeto foi criado em 2019 e realiza mapeamento anual do uso do solo e da superfície de água, além do monitoramento mensal das cicatrizes de fogo.

Veja nos vídeos abaixo timelapses que mostram avanço do desmatamento:

"Esse tipo de série histórica também é útil para que comunidades locais chamem atenção para os seus problemas", aponta Rebecca Moore, diretora das iniciativas geoespaciais do Google.

Um dos primeiros povos a usar a ferramenta foram os paiter suruís.

"A tecnologia hoje é muito importante para nós, povos indígenas, não só na proteção de territórios, mas também para levar a nossa cosmologia e o nosso entendimento de mundo para outros lugares, que acham que só existe o mundo deles", afirma a ativista Txai Suruí, colunista da Folha.

Ela diz ainda que voltar os olhares para a floresta ajuda a mostrar que a luta para manter a Amazônia de pé é coletiva e que as respostas para isso estão no conhecimento tradicional. "Se existe um futuro, ele é ancestral."

Txai está descalça, falando ao microfone em um palco, com 3 outras pessoas no palco
Ativista Txai Suruí (à frente) discursa no evento Sustentabilidade com Google - Amazônia nesta terça (4) em Belém - Divulgação

O histórico de buscas no site mostra o aumento pelo interesse em temas de meio ambiente. Nos últimos dez anos, as buscas no Google pelo termo "Amazônia", por exemplo, subiram mais de 80% no Brasil. No mundo, a alta foi de mais de 40%.

Além disso, "tempo" e "clima" estão entre as dez palavras mais buscadas no país desde o início da série histórica, em 2004.

A pedagoga amapaense Nubia Quilombola explica que o mapeamento feito pelo Google Earth possibilitou apontar exatamente onde estão lacunas e conflitos. "Nós pudemos mostrar: aqui falta escola, aqui morreu quilombola [em disputa] por terra, por exemplo."

"Nós levamos a Universidade Federal do Amapá para ministrar cursos preparatórios para professores e pesquisadores para combater o racismo ambiental", conta. "Só assim a gente percebeu como a falta de vontade do poder público exclui o nosso povo da Amazônia."

Para o novo sistema de detecção de incêndios, será usada inteligência artificial que identifica focos de fogo em estágios iniciais por meio de imagens de satélite. O combate precoce facilita a contenção das queimadas, evitando a liberação de grandes quantidades de CO2 na atmosfera.

O projeto ainda está na fase inicial, de desenvolvimento do modelo, e não há previsão para que entre em vigor.

Já os alertas de inundações, que operam no Brasil desde 2022, foram ampliados e passaram a incluir 65 localidades. O sistema emite avisos em tempo real na página de busca e no Google Maps quando chuvas fortes merecem atenção da população.

No evento também foram anunciadas outras iniciativas, como doações para ONGs e desenvolvimento de novas tecnologias —entre elas, um investimento de R$ 5,4 milhões para o projeto Digitais da Floresta, que tem o objetivo de criar mecanismos de rastreamento de madeira extraída da Amazônia.

O programa ainda está em fase inicial, mas o plano é criar uma biblioteca de espécies de todo o bioma para que essas informações possam ser cruzadas com banco de dados de venda de madeira. Isso seria feito usando os isótopos —impressões digitais da madeira e de onde ela foi colhida. No momento, o acervo do projeto conta com 200 espécies de cinco regiões amazônicas.

A iniciativa é chefiada pela organização The Nature Conservancy, em parceria com a USP, o Imaflora e a empresa Trase, além do Google.

A repórter viajou a Belém a convite do Google.

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