De lobo-guará a pau-brasil, mata atlântica tem 2.845 espécies ameaçadas de extinção

De 11,8 mil espécies avaliadas pelo IBGE, 24,1% estavam em risco em 2022

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Rio de Janeiro

A mata atlântica se destaca pela alta proporção e pelo número maior de espécies de plantas e animais ameaçadas de extinção na comparação com outros biomas.

A conclusão é de uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De um total de 11,8 mil espécies avaliadas pelo levantamento na mata atlântica, 24,1% estavam ameaçadas de extinção em 2022. O percentual equivale a 2.845 espécies em risco. O cálculo considera fauna e flora em conjunto.

Vista de região da Mata Atlântica na serra carioca
Vista de uma região da mata atlântica na serra do Rio de Janeiro - Yuri Menezes/SOS Mata Atlântica

Tanto a proporção (24,1%) quanto o número absoluto (2.845) superam os resultados dos outros seis biomas que aparecem na pesquisa, batizada como Contas de Ecossistemas: Espécies ameaçadas de extinção no Brasil.

O levantamento compara os dados de 2022 com os da edição anterior, referente a 2014. Naquele ano, de um total de 9.042 espécies avaliadas na mata atlântica, 22,3% (2.016) estavam ameaçadas de extinção.

"Entre os biomas, a mata atlântica se manteve com o maior número de espécies avaliadas (11.811), a maior quantidade de espécies ameaçadas (2.845) e o maior número de espécies extintas, que subiu de 7 para 8, com a inclusão da Perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum)", disse o IBGE.

Para Leonardo Bergamini, coordenador da pesquisa do instituto, o resultado pode ser associado em parte ao histórico de ocupação da mata atlântica.

"O desmatamento culmina na ameaça às espécies. É de se esperar que seja o bioma mais ameaçado por esse impacto", afirma.

O pesquisador também associa os números ao conhecimento maior sobre as características da mata atlântica e das suas espécies.

"A mata atlântica é o bioma onde estão localizados os principais centros de pesquisa do país, com maior histórico de pesquisa. Até por isso a gente conhece melhor as espécies da mata atlântica. Existe mais pesquisa em cima dela", avalia.

Bergamini afirma ainda que o bioma possui "uma diversidade grande de fisionomia e de relevo". "Existem muitas espécies de distribuição restrita na mata atlântica, que são mais vulneráveis a esses impactos", acrescenta.

De acordo com o IBGE, o cerrado teve o segundo maior número absoluto e o segundo maior percentual de espécies ameaçadas em 2022.

Nesse bioma, 1.199 espécies estavam em risco. O dado equivale a 16,2% de um total de 7.385 plantas e animais avaliados.

Em números absolutos, a Amazônia aparece em terceiro lugar da lista. Em 2022, o bioma tinha 503 espécies ameaçadas. O dado representa 6% de um total de 8.346 avaliadas no bioma.

No recorte proporcional, é a caatinga que aparece em terceiro lugar. Em 2022, quase 15% das espécies avaliadas estavam ameaçadas –o equivalente a 481 de um total de 3.220.

O Pantanal, por sua vez, é o bioma com o menor número absoluto (74) e o percentual mais baixo de espécies em risco (4,1% de um total 1.826 em análise).

Segundo o IBGE, atualmente são reconhecidas no Brasil 50,3 mil espécies de plantas e quase 125,3 mil de animais.

Dentro desse universo, os números avaliados pelo instituto aumentaram de 2014 para 2022. No caso da flora, a proporção em análise passou de 9% (4.304) para 15% (7.517). Na fauna, saiu de 10% (12 mil) para 11% (13,9 mil).

Número em risco sobe, mas proporção cai

Em termos absolutos, o número total de espécies de plantas ameaçadas de extinção cresceu em torno de 57,3% de 2014 para 2022 (de 2.039 para 3.207). No caso dos animais, a alta foi menor, de 7% (de 1.171 para 1.253).

A proporção de espécies ameaçadas, contudo, mostrou queda tanto na flora (de 47,4% para 42,7%) quanto na fauna (de 9,8% para 9%). O IBGE ponderou que parte dessa redução proporcional pode ser explicada pelo aumento no número de espécies avaliadas até 2022.

Pela metodologia do estudo, uma espécie está ameaçada quando se encontra em alguma das seguintes situações: criticamente em perigo, em perigo ou vulnerável. O IBGE citou exemplos que estão nessas categorias nos diferentes biomas. Veja a lista a seguir.

Fauna

Nomes comuns e biomas Situação
Lobo-guará (Amazônia, caatinga, cerrado, mata atlântica, pampa e Pantanal) Vulnerável
Tartaruga-de-pente (Amazônia, caatinga, cerrado, mata atlântica, pampa e sistema costeiro-marinho) Em Perigo
Boto-cinza (Amazônia, caatinga, cerrado, mata atlântica e sistema costeiro-marinho) Vulnerável
Jacu-de-alagoas (caatinga e mata atlântica) Criticamente em Perigo
Rolinha-do-planalto (cerrado) Criticamente em Perigo
Rãzinha-de-barriga-colorida (mata atlântica) Criticamente em Perigo
Rã-de-corredeira (mata atlântica) Em Perigo
Murucututu (mata atlântica) Criticamente em Perigo
Jararaca-de-alcatrazes (mata atlântica) Criticamente em Perigo
Gavião-cinza (mata atlântica e pampa) Vulnerável
Atobá-de-pé-vermelho (mata Atlântica e sistema costeiro-marinho) Em Perigo

Flora

Nomes comuns e biomas Situação
Pente-de-macaco (Amazônia) Criticamente em perigo
Breu sem cheiro (Amazônia) Em Perigo
Umbu-cajá (caatinga) Em Perigo
Jaborandi (caatinga e mata atlântica) Em Perigo
Canelinha (cerrado) Criticamente em perigo
Brasiliana (cerrado) Criticamente em perigo
Gravatá (mata atlântica) Criticamente em perigo
Pau-Brasil (mata atlântica) Em Perigo
Lélia (mata atlântica) Criticamente em perigo
Brinco de princesa (mata atlântica) Vulnerável
Palmito-Juçara (mata atlântica e cerrado) Vulnerável
Araucária (mata atlântica e pampa) Em Perigo
Pau-ferro (pampa) Em Perigo
Labão (Pantanal) Em Perigo

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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