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Micróbios "humanos" afetam Abrolhos
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SABINE RIGHETTI
ENVIADA AO GUARUJÁ (SP)
Os recifes de coral do arquipélago dos Abrolhos, que vai do norte do Espírito Santo ao sul da Bahia, estão contaminados por bactérias que podem ter relação com a atividade humana.
A análise é do oceanógrafo Fabiano Thompson, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que apresentou os dados durante o 56º Congresso Brasileiro de Genética, no Guarujá (litoral de SP).
De acordo com Thompson, os recifes de Abrolhos tiveram uma perda maciça do coral Mussismilia braziliensis, o principal coral construtor dos recifes dessa região da costa do Brasil. "Em cem anos essa espécie estará extinta lá", diz o oceanógrafo.
mar.2006/Marcello Lourenço |
Vista aérea do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, onde é possível avistar baleias, tartarugas, aves e outros animais marinhos |
BATELADA
Os pesquisadores coletaram material da região e fizeram um metagenoma (uma espécie de análise coletiva de DNA, buscando genes de vários organismos) da água, dos recifes e das buracas, áreas com 50 m de diâmetro, que ficam a cerca de 80 m de profundidade.
As buracas são típicas de Abrolhos e reúnem grande quantidade de nutrientes e, portanto, muitos peixes.
Na análise, os cientistas notaram que há um aumento de algas nos recifes, o que leva a um crescimento de bactérias causadoras de doenças que têm reprodução rápida.
O resultado, para Thompson, é preocupante, já que a região concentra recifes importantes, de cerca de 10 mil anos, e uma rica vida marinha, que vai de pequenos peixes a baleias.
BRANCO PÁLIDO
Os pesquisadores notaram ainda a presença de corais considerados "doentes" nos recifes. É fácil notá-los, pois ficam esbranquiçados, com aspecto bem diferente do dos corais sadios.
Até recentemente, os biólogos marinhos achavam que o branqueamento era uma resposta fisiológica dos corais ao aquecimento da água. Mas, em 1995, cientistas mostraram que o Vibrio coralliilyticus é uma bactéria que causa a cor esbranquiçada por necrosamento (morte dos tecidos dos corais).
Nos corais esbranquiçados de Abrolhos há um predomínio de Bacterioidetes -- bactérias comuns em humanos. "O aumento delas nos leva a crer que existe contaminação orgânica e contaminação fecal", diz.
"Isso significa impacto humano. Estamos tentando provar essa hipótese", completa ele. Uma das atividades humanas proibidas na região é a pesca. De acordo com o oceanógrafo, há pouco controle sobre os impactos negativos no ambiente da área.
Para Thompson, esse é o primeiro resultado significativo que ajuda a dar um panorama da saúde de Abrolhos. "Agora queremos entender melhor as bactérias encontradas", explica.
Além de Abrolhos, os pesquisadores também estão analisando a biodiversidade marinha em outras ilhas: os arquipélagos de São Pedro e São Paulo, a cerca de 900 km do Rio Grande do Norte, e Trindade e Martim Vaz, a 1.200 km de Vitória.
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