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Mourão defende agência para centralizar imagens de satélite na Amazônia

Vice, que protagoniza disputa com o Inpe, cita órgão militar dos EUA como exemplo

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São Paulo

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, defendeu nesta sexta (18) a criação de uma agência que concentre os sistemas de monitoramento por satélite da Amazônia.

Se seguir o exemplo citado pelo vice, o NRO (Escritório Nacional de Reconhecimento, na sigla inglesa) dos Estados Unidos, tal agência terá controle militar.

O vice-presidente Hamilton Mourão durante evento no Palácio do Planalto - Adriano Machado - 16.set.2020/Reuters

Responsável pelo Conselho da Amazônia, órgão reativado pelo governo Jair Bolsonaro ano passado para dar uma resposta pública à crise das queimadas na região, Mourão tem travado uma disputa com os órgãos de fiscalização e monitoramento do próprio governo.

Na semana passada, acusou o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) de divulgar dados de queimadas e desamatamento com o objetivo de prejudicar o governo, apesar de eles serem públicos.

"Temos de melhorar o monitoramento e o alerta. O Prodes e o Deter [do Inpe] são bons sistemas, mas eles ainda têm falhas. Precisamos de uma agência, a exemplo do NRO dos Estados Unidos, que integre todos esses sistemas e com isso tendo um custo menor e sendo mais eficiente", disse.

Mourão fez a afirmação durante uma "live" promovida na estreia do centro de estudos de defesa e segurança do IREE (Instituto para a Reforma das Relações de Estado e Empresas), capitaneado pelos ex-ministros Raul Jungmann (Defesa, Segurança e Reforma Agrária) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional).

Segundo Mourão, um embrião para tal agência pode ser o chamado grupo de integração e proteção da Amazônia, que reúne pessoal das Forças Armadas, Ibama, Inpe, Polícia Federal e outros órgãos. "Precisamos avançar nessa agência", disse.

Questionado pela Folha qual seria a natureza de tal agência, dado que a americana é ligada ao Departamento de Defesa, ele disse que isso é uma decisão ainda a ser tomada.

"Pode ser militar ou civil. Formamos especialistas em análise de imagem espalhados pelo Brasil", disse, criticando a sobreposição de recursos e esforços.

O NRO é uma das cinco grandes agências de inteligência dos EUA. Seu trabalho é centralizar dados e imagens coletados pelos satélites espiões e de sensoriamento remoto do país e distribui-los aos órgãos que fazem uso das informações. Seu orçamento é secreto, mas estimado como um dos maiores do governo.

Em sua exposição, o vice repetiu os argumentos usuais de que o trabalho do governo Bolsonaro na questão ambiental é "injustiçado" por pessoas e países "que não conhecem a Amazônia" ou têm "interesses velados" e "cobiça" pela região e suas "imensas riquezas".

Essa é a visão predominante no meio militar há décadas. Em um estudo da Escola Superior de Guerra revelado pela Folha no começo do ano, a França aparecia como a principal ameaça ao Brasil justamente por seu agressivo discurso em relação a povos indígenas e à Amazônia.

"O restante do mundo derrubou suas florestas. Vinte e oito por cento da floresta tropical no mundo é do Brasil", afirmou Mourão.

Ele voltou a defender a regularização fundiária, dizendo que 150 mil títulos de terra podem ser dados. "Só há ilegalidades em 5% das 500 mil propriedades na Amazônia", disse.

Sobre áreas indígenas, afirmou que o governo não pode pressionar o Congresso sobre o projeto que permite exploração mineral nelas porque "vai ser olhado como um passo predatório" por suposto preconceito contra Bolsonaro.

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