Brasil e EUA perdem com saída de Thomas Shannon

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O secretário de Estado dos EUA, Rex  Tillerson, iniciou seu primeiro périplo pela América Latina. Vai visitar o México, Argentina, Peru, Colômbia e Jamaica. Não vai parar no Brasil. É o último em uma série de autoridades estrangeiras a evitar visitas oficiais ao Brasil —o vice-presidente americano, Mike Pence, e o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, também excluíram o Brasil.

Thomas Shannon, em entrevista à Folha em 2016; ex-embaixador dos EUA no Brasil se aposenta - Pedro Ladeira - 17.dez.2016/Folhapress

A crise venezuelana será o principal tema de discussão dos encontros de Tillerson com o presidente argentino, Mauricio Macri, em Buenos Aires e Bariloche, e com o colombiano Juan Manuel Santos em Bogotá, no dia 6.

O Brasil, fora da agenda, deveria ser parte essencial de qualquer discussão envolvendo o futuro do governo venezuelano.

Nessas horas é que notamos como faz falta um Thomas Shannon.

Em Austin, em um discurso apresentando sua viagem, Tillerson desfiou uma lista de absurdos golpistas do gênero: 

"Na história da Venezuela e dos países sul-americanos, às vezes os militares são o agente da mudança quando as coisas estão tão ruins e a liderança não serve ao povo", aludindo aos golpes de Estado que ocorreram na região na segunda metade do século 20.

E acrescentou: "Se esse é o caso aqui, eu não sei".

Esse besteirol faria empalidecer o diplomata Thomas Shannon, que ocupava o terceiro mais alto cargo do Departamento de Estado dos EUA.

Shannon anunciou nesta quinta-feira (1º) sua aposentadoria, mais um do êxodo de diplomatas desde que Donald Trump assumiu e o moral no Departamento de Estado despencou.

Shannon foi embaixador no Brasil durante quase quatro anos (2009-2013). Estava em Brasília quando estourou o escândalo da espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA), que levou a presidente Dilma a cancelar sua visita de Estado a Washington, em 2013.

Depois, de volta a Washington, frequentemente enviado à Venezuela para negociar com o ditador Nicolás Maduro.

Em entrevista à Folha, Shannon defendeu o processo de reaproximação entre EUA e Cuba, iniciado no governo Obama e parcialmente revertido por Trump. "Os países na América Latina são alérgicos a exclusão; eles se sentiriam muito desconfortáveis se pensassem que estamos no processo de excluir Cuba", disse.

Com a saída de Shannon, o governo americano perde um de seus maiores especialistas em América Latina. O Brasil perde um grande interlocutor, um diplomata que entende a importância do país. 

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