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Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

Descrição de chapéu sustentabilidade

O que pensam os fundos de pensão brasileiros sobre ESG?

Estudo inédito e entrevista à coluna sinalizam apetite maior do que o esperado

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Na selva, quando o leão ruge, a fauna abre os sentidos. No mercado financeiro brasileiro, quando os fundos de pensão falam, os gestores de ativos também alongam o ouvido. São quase 300 entidades fechadas de previdência complementar que detêm um patrimônio de R$ 1 trilhão que irriga, em jeito de cachoeira, o mercado de gestão de fundos.

Na semana passada, os fundos de pensão falaram sobre sustentabilidade. De forma inédita, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), o órgão que garante o bom funcionamento destas entidades, apresentou o seu primeiro mapeamento sobre a capacidade e o interesse dos fundos de pensão sobre finanças sustentáveis.

Inquestionavelmente, essas entidades podem ser protagonistas na dinamização da agenda ESG “pelo volume de recursos geridos, pelo caráter de longo prazo do seu passivo —que permite aplicações de maior maturidade— e pela diversidade de produtos financeiros que podem compor suas carteiras”, salientou Fernando Folle, Coordenador-Geral de Orientação de Investimentos da Previc, em entrevista à coluna.

Segundo o estudo, 56% dos fundos de pensão brasileiros já utilizam os fatores ESG. Desses, 40% integram fatores ESG de forma sistemática e 81% fazem-no para auxiliar a gestão de riscos de investimento.

São números muito expressivos. Exagerados talvez? Folle acredita que não. Dado o papel de monitoramento sistemático que a Previc faz às atividades dos fundos de pensão “por meio de um sistema de indicadores obtidos a partir de informações contábeis, atuariais e de investimentos”, as respostas devem expressar a realidade.

Uma das conclusões que mais chama a atenção no estudo é o fato de 73% dos fundos de pensão que já integram ESG afirmarem que as opções de investimento em sustentabilidade no mercado não são suficientes. Na prática, são quase 200 produtos no mercado brasileiro que usam a nomenclatura "ESG", “impacto”, “verde” ou outra similar. Não é um volume satisfatório? Ou o mercado não confia nos produtos já existentes?

Segundo Folle, “as respostas apresentadas na pesquisa sugerem que o regime informacional parece ser atualmente um dos principais empecilhos ao investimento ESG, bem como a falta de padronização de informes e métricas para avaliação gera incerteza na identificação de quais produtos podem ser considerados ESG. (...) À medida que a demanda por produtos ESG aumente, espera-se que as gestoras possam identificar melhor quais ativos realmente detém características ESG e incrementar o lançamento de produtos”.

Ou seja, o mercado ESG no Brasil tem poucos sinais de trânsito. Muitas empresas dos portfólios não estão equipadas para reportar o seu trabalho em sustentabilidade de forma consistente, densa e comparável. Vários gestores de ativos não têm capacidade para recolher e integrar estes dados em estratégias de investimento. Além disso, os produtos sob sua gestão adotam terminologias discrepantes e seguem práticas pouco padronizadas. É um quarto de adolescente.

Várias entidades, como a Febraban, B3, Amec, Abrapp e ABVCAP têm lançado guias no mercado para inspirar mudanças comportamentais. Mas precisamos passar de orientação para supervisão, com os reguladores e representante de instituições financeiras a terem que assumir mais responsabilidades no campo da fiscalização.

Outro obstáculo destacado no estudo é a necessidade de fomentar uma cultura de sustentabilidade junto aos participantes dos planos de benefícios, que são os donos dos recursos garantidores investidos pelos fundos de pensão. Apenas 10% dos fundos de pensão investem segundo uma lógica ESG por demanda de participantes.

Educação é essencial. É um lugar-comum pelo menos desde que o faraó egípcio Mentuhotep II criou as primeiras escolas há 4 mil anos (sim, fiz um Google). Mas a oferta educativa em ESG no Brasil ainda é escassa, com exceção de cursos executivos de curta duração. Ainda é possível sair graduado em economia ou finanças de uma boa universidade brasileira sem que o aluno tenha tido aulas sobre como a sustentabilidade impacta riscos e oportunidades.

E o que pensa a Previc sobre a necessidade de serem adotadas novas leis para forçar os fundos de pensão a priorizarem ESG?

Não será esse o caminho: “o arcabouço regulatório vigente é suficiente para promover e induzir a utilização de critérios ESG na tomada de decisão dos fundos de pensão”, diz a autarquia. A regulação brasileira “está em linha com as diretrizes emanadas pela International Organization of Pension Supervisors (IOPS)”, organismo internacional da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que conta com a participação da Previc e onde o estudo foi também apresentado.

Folle arremata: “o aumento gradual da alocação em produtos ASG passa a depender do desenvolvimento da oferta de produtos por parte do mercado, do aprimoramento do regime informacional (escassez de informações e falta de padronização), e do fomento da cultura ESG junto aos participantes dos planos de benefícios.”

Foi também esta a conclusão de um evento organizado a semana passada pelo capítulo brasileiro dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI), onde participaram, além da Previc, fundos de pensão e gestores de ativos brasileiros, mexicanos e portugueses.

É também a conclusão de vários especialistas que vertem a sua opinião na ampla cobertura que a imprensa brasileira tem dado às finanças sustentáveis.

O problema está diagnosticado. Falta fazer o resto.

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