Em 2013, o americano Jann Wenner, editor e proprietário da revista "Rolling Stone", propôs ao repórter Joe Hagan que este escrevesse a sua biografia. Uma proposta como esta é uma "autorização". Hagan disse que só aceitaria se tivesse liberdade para trabalhar. Wenner hesitou, mas, sem isso, não haveria biografia. Então prometeu a Hagan todas as entrevistas que este solicitasse, acesso aos arquivos da revista e seus serviços para que Hagan fosse recebido por Paul McCartney, Yoko Ono, Mick Jagger, Bob Dylan. E concordou em que só leria o livro impresso.

Hagan passou os quatro anos seguintes investigando, e o resultado, "Sticky Fingers: The Life and Times of Jann Wenner and 'Rolling Stone' Magazine", saiu em novembro pela Knopf. Pouco antes de o livro ir para as ruas, Wenner recebeu um exemplar. O livro o descreve como um homem que se gaba de ter criado, em 1967, o principal veículo do rock, da contracultura e das causas liberais, mas que não só institucionalizou a contracultura e a vendeu para o sistema, como fez isto usando as mesmas armas do sistema que fingia combater —a mentira, a chantagem e a corrupção.

Wenner, suposto defensor das minorias, escondeu por 30 anos sua condição de gay. As entrevistas da revista, tidas como "reveladoras", eram previamente aprovadas pelos entrevistados. As críticas dos discos podiam ser favoráveis ou não, dependendo de acertos com as gravadoras. E as reportagens ditas investigativas eram, muitas vezes, obras de repórteres bem imaginativos.

O que aconteceu? Hagan traiu Wenner? E o fez de propósito? Não. Apenas que, ao levantar uma pedra, descobriu um escorpião.

Wenner está uma fera, mas não tomará nenhuma atitude contra Hagan. Nem em pensamento. O livro seguirá seu curso e ele, se quiser, escreverá outro, dando a sua versão.