Previdência e poupança

Achar que economista do candidato tem alguma relevância é falsa questão

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Base de dados recente do FMI coleta a informação de gasto com Previdência como proporção do PIB.
Para uma amostra de 101 países, o Brasil encontra-se entre os 10% que mais gastam com Previdência. Consideramos valores médios para o período entre 2010 e 2016.

Evidentemente é possível que o gasto seja normal ou não em função das características do país. Uma sociedade envelhecida deve gastar relativamente mais com Previdência.

Emissão de carteiras de trabalho; de uma amostra de 101 países, após a Ucrânia somos o país que mais gasta com Previdência - Everaldo Silva/Folhapress

Assim, em um post no Blog do Ibre em coautoria com meu colega Carlos Eduardo Soares Gonçalves, professor titular da FEA-USP, fizemos um estudo no qual o gasto público com Previdência é “explicado” pelo PIB per capita do país, a razão de dependência —isto é, a razão entre a população com 65 anos e a população entre 20 e 64 anos—e a origem do sistema jurídico do país, se francês ou inglês.

O resultado é que o gasto previdenciário brasileiro em excesso ao “normal” da média internacional —este “normal” seria o gasto explicável por aqueles três fatores —foi de 7 pontos percentuais do PIB.

Da amostra de 101 países, após a Ucrânia somos o país que mais gasta com Previdência —isto é, o que tem o maior excesso em relação ao “normal” tal como definido acima.

O segundo passo do estudo considerou o gasto público previdenciário como proporção do PIB, a razão de dependência, uma variável de qualidade institucional e o crescimento econômico. Encontrou-se que o excesso de gasto previdenciário de 7 pontos percentuais do PIB explica redução da poupança privada em 2 pontos percentuais do PIB e da poupança do setor público em 3 pontos percentuais do PIB. Ou seja, se nosso gasto com aposentadorias fosse em linha com a média das economias, nossa taxa de poupança em vez dos 15% do PIB, seria em torno de 20%. Desnecessário dizer que a taxa de juros de equilíbrio seria mais baixa.

A elevação da poupança privada em 2 pontos percentuais do PIB, para uma queda de 7 pontos percentuais com gasto previdenciário, sugere que há uma taxa de substituição de 30% aproximadamente entre redução do benefício público, de um lado, e a elevação da poupança privada, do outro.

Este resultado foi obtido na comparação de inúmeros países em determinado período. Mas será que uma reforma da Previdência que reduzisse o gasto público com benefício previdenciário em 7 pontos percentuais efetivamente elevaria a poupança privada em 2 pontos percentuais, isto é, será que haveria uma substituição entre benefício previdenciário e poupança privada de 30%?

Diversos estudos que investigam a reação das famílias após reformas previdenciárias sugerem que 30% é um bom estimador para essa taxa de substituição.

Para um sumário da evidência empírica veja a quarta seção do artigo publicado no fascículo de agosto de 2018 na revista American Economic Journal: Economic Policy, volume 10, número 3, páginas 284-308.

Moral da história: esse negócio de achar que o “economista do candidato” tem alguma relevância é uma falsa questão.

Vivemos em meio a um duro conflito distributivo em que todos têm as suas razões e somente a política conseguirá nos tirar do abismo inflacionário.

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