Por que o Brasil é tão forte?

Virtudes individuais, coletivas e psicológicas colocam seleção entre favoritas

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Estou lendo, antes de ser publicado, o delicioso livro de contos ficcionais "Não Culpe o Narrador", obra de 26 escritores brasileiros. Cada história se passa em um país e todos têm o futebol como pano de fundo.

Li também recentemente "Clássicos do Conto Russo", escrito por grandes autores da Rússia. Se o futuro não se atrasar, pretendo brevemente ir à Rússia, pela primeira vez, de férias, já que, por minha opção, vou escrever no Brasil sobre o Mundial.

Por que a seleção brasileira está tão forte? Em outra coluna, escreverei, também, sobre porque estou preocupado. Alisson não tem o prestígio de alguns dos maiores goleiros do mundo, mas sempre atuou bem pelo time brasileiro e é destaque da Roma.

O Brasil possui três excelentes zagueiros para duas posições. Thiago Silva é o que tem mais talento, porém, existe uma desconfiança em relação a ele por causa de algumas flutuações emocionais.

Marcelo é um jogador magistral no apoio, um dos mais habilidosos e criativos do mundo.

Embora falte um craque no meio-campo que não seja volante nem meia ofensivo, esta carência é compensada por um lateral que organiza as jogadas pela esquerda, por um volante (Casemiro ou Fernandinho) que tem um ótimo passe na saída de bola da defesa, e por um meia (Coutinho ou Neymar) que, quando volta para receber a bola, tem um passe decisivo para gol.

Gabriel Jesus tem todas as virtudes e características de um excepcional centroavante --ainda não é--, pois se posiciona muito bem dentro da área, finaliza com eficiência com os pés e com a cabeça, se infiltra com velocidade para receber a bola à frente e ainda marca a saída de bola do adversário.

Falta a ele, como disse Guardiola, mais habilidade quando sai da área para driblar e trocar passes em pequenos espaços, qualidades principais de seu reserva, Roberto Firmino, do Liverpool.

Neymar vai precisar de controle emocional para não reagir com chiliques ou atitudes agressivas contra as duras marcações, além de sabedoria para definir o instante exato entre trocar passes e tentar uma jogada individual, sem ultrapassar os limites da autossuficiência.

Mesmo se Neymar não brilhar tanto e o Brasil não for campeão, ele continuará sendo um dos jogadores grandes da história do futebol.

Da mesma forma, se Tite, que tem sido tratado como um guru, um messias, não for campeão, continuará sendo um excelente treinador, mesmo que cometa erros pontuais e que mereça críticas.

Sei da enorme importância da Copa para o futebol, mas acho um exagero definir conceitos individuais, às vezes, para sempre, baseados apenas em um campeonato curto, com jogos mata-mata, que dependem do jogo coletivo, da força dos adversários e de tantos imprevistos.

Além do talento individual, o Brasil está muito forte porque é um time moderno, organizado, compacto, que recupera rapidamente a bola, que ataca e defende com muitos jogadores e que tem uma grande vontade de recuperar o prestígio do futebol brasileiro após o 7 a 1.

Segue o modelo mundial das grandes equipes do mundo, com algumas pitadas brasileiras, como a presença de vários meias-atacantes excelentes no confronto individual, da intermediária para o gol.

Já dizer que Tite recuperou a essência do futebol brasileiro, um retorno aos anos 1960, é uma visão romântica, saudosista, ilusória, de quem não acompanha a evolução do futebol, que continua bem jogado, mas de outra forma.

O lateral Marcelo, do Real Madird, chuta a bola durante partida contra o Villarreal - Heino Kalis/ Reuters

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