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Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

COP28 e os fantasmas da exploração desenfreada

Muitos que na prática destroem o meio ambiente participam da cúpula

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A COP28, que acontece em Dubai, denuncia o aquecimento global e a dependência dos combustíveis fósseis, mas muitas empresas participantes do evento fazem parte do grupo dos maiores financiadores de petróleo do mundo. Os Emirados Árabes, sede do evento, são hoje um dos maiores produtores e exportadores globais de petróleo.

As contradições do evento estendem-se por mais de 10 mil km para afetar o Brasil, em particular Maceió. Na quarta-feira (29), a Defesa Civil da capital de Alagoas detectou o risco de desabamento de uma mina da Braskem no município. Não surpreende que a própria Braskem esteja participando da COP.

Moradores da comunidade do Flexal fazem protesto em Maceió - Reproduçao

Desde 79, a Braskem utiliza mineração para a extração de sal-gema em Maceió. A exploração desenfreada no campo da mineração causou o afundamento do solo em diversos bairros da capital. A extensão do dano geológico hoje é quase impossível de mensurar, e quase nada foi feito pela empresa para tentar reparar os danos causados.

O prejuízo das estruturas vindos desse afundamento geram o êxodo forçado da população dessas áreas. Muitas destas pessoas perderam tudo.

Em Dubai, a Braskem participa de rodas de debate sobre como populações vulneráveis podem se adaptar às mudanças climáticas. Afinal, são essas comunidades as mais afetadas pelos desmandos de empresas que, há séculos, contribuem para o desequilíbrio ambiental.

Local onde a Braskem extrai sal-gema, no bairro do Mutange, em Maceió - Itawi Albuquerque/Secom

No Brasil, entretanto, a mesma Braskem promove a exploração desmedida de recursos naturais, causando danos estruturais e geológicos em uma extensa área, dentro de uma capital, obrigando milhares de famílias a deixarem para trás suas casas, seu sustento, suas histórias.

A presença da Braskem na COP28 –como a presença de diversas outras empresas que promovem o desmando exploratório— não configura apenas hipocrisia: é uma estratégia bem pensada para articular um falso comprometimento com práticas ambientalmente sustentáveis. Trata-se de um ato criminoso de greenwashing.

Após serem abandonados à sorte, sem os devidos cuidados preparatórios da Braskem, os bairros afetados de Maceió tornaram-se verdadeiras cidades-fantasmas.

Assim como as fissuras nas estruturas das casas, as rachaduras nas promessas de empresas como a Braskem revelam a fragilidade de um compromisso genuíno com a mitigação das mudanças climáticas por aqueles cujo único objetivo é o lucro. A verdadeira mudança nos rumos climáticos do mundo não virá apenas de uma retórica eloquente e bonita para ser repetida em conferências mundiais, mas sim por meio de uma prática incisiva e transformadora para todos –inclusive para as milhares de pessoas atingidas por este crime devastador em Maceió.

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