Cresce medo de resfriado americano

Tombo feio nas Bolsas é reação ao começo da perda de ritmo da economia dos EUA

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O povo do dinheiro está nervoso nos Estados Unidos. No final do feriadão brasileiro e pouco antes do feriadão de Ação de Graças americano, as Bolsas tomaram outro tombo, daqueles feios que vêm levando desde o Outubro Vermelho.

Essa história pode ter interesse para o Brasil, além da confusão que deve acontecer hoje nos mercados daqui.

Operador observa queda nas cotações na Bolsa de Nova York nesta terça - Drew Angere

Dadas as perdas de um mês para cá, os principais índices das Bolsas americanas voltaram ao nível do início do ano —ganho zero. A taxa de juros de dez anos deu uma acalmada.

O preço do petróleo (Brent) voltou a níveis de final do ano passado, baixando mais de 25% desde o pico de outubro passado. Pelo menos até a reunião da Opep do começo de dezembro, a previsão é que vai sobrar petróleo.

A perda do valor das empresas de tecnologia está para lá do trilhão de dólares (considerados os picos de preço dos últimos 12 meses). Sim, trata-se das “Faang”, Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Google, além de outras menos cotadas.

O pessoal de Wall Street está nervoso também porque quebrou a cara com as compras que fez em outubro, na xepa, achando que faturaria uma alta agora em novembro.

Em suma, os preços estavam altos e o dinheiro para manter a viagem à lua das ações de tecnologia ficou mais caro. Mas o estrago é mais extenso e reforça discussão mais ampla. De quanto vai ser a desaceleração americana?

As condições financeiras ficaram mais apertadas (taxas de juros mais altas, agora Bolsas caindo etc.), o investimento das empresas em expansão cresce menos e os americanos acham que ficou mais difícil comprar casa e carro.

A redução dos impostos para empresas, o estímulo fiscal de Donald Trump, não deve mais fazer efeito de agora em diante; o lucro das empresas não deve subir de modo tão animado. O dólar mais forte e o tumulto comercial de “Nero” Trump prejudicam um tanto mais a economia.

Em tese, tudo isso sugere uma desaceleração. Já provocou também discussões sobre o que o Banco Central dos EUA (Fed) pode fazer em 2019, talvez até cortando um degrau da alta da taxa de juros. A expectativa de inflação começa a baixar. 

Talvez as Bolsas estejam refletindo o temor de que o crescimento americano vá ser menor.
Uma desaceleração suave dos Estados Unidos não seria assim mau negócio para o Brasil.

Excluída a hipótese de choques, a taxa de câmbio ficaria calminha, o dinheiro grosso continuaria disposto a fluir para cá (como continuou a vir, mesmo durante os horrores da recessão e com anos de incerteza).

Sim, é especulação um tanto vaga, mas durante um tempo considerável se discutiu a perspectiva de aquecimento além da conta da economia americana e até de altas extras de juros.

Sim, pode ser também que a reviravolta vista desde o Outubro Vermelho provoque alguns paniquitos, em vez de pouso suave. Pode ser que os algoritmos que negociam papeis ajudem a tumultuar o ambiente.

Pode acontecer o de costume, crise, quebras, depois que acaba um período longo de farra financeira, com dinheiro barato.

Sim, há ainda o risco de Donald “Nero” Trump, que desde a posse ajuda a tumultuar a economia mundial, criando crises diplomáticas e comerciais. A reunião de Cúpula do G20 no final de mês pode dar uma pista sobre o nível de tensão nas relações sino-americanas.

Seja qual for a conversa mundial, uma parte importante dela agora é sobre a baixa do crescimento americano.

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