Descrição de chapéu Ubatuba

Naturistas fazem vigília e rodízio para tirar a roupa em praia de Ubatuba (SP)

Grupo protesta para tentar tornar praia Mansa na primeira desse tipo no estado

Naturistas na praia Mansa tiram a roupa e fazem vigília em revezamento para avisar quando um banhista se aproxima do acesso à trilha e os demais poderem se vestir - Eduardo Anizelli/ Folhapress

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Reginaldo Pupo
Ubatuba

O casal Lídia Wilhelm e Henry Rodrigues curtiam, no último fim de semana prolongado, a praia Mansa, em Ubatuba, litoral norte de SP, quando levaram um susto. Um grupo de 20 a 30 pessoas começou a tirar as roupas até ficarem totalmente nus.

Alguns dos pelados ficaram debaixo de árvores para se proteger do sol. Outros foram até a água cristalina para um mergulho, sob olhares curiosos dos frequentadores do local. Havia homens e mulheres de todas as idades no grupo.

O que Lídia e Henry não sabiam é que estavam na praia escolhida por naturistas de várias partes do país para um protesto contínuo para oficializar o local como a primeira praia paulista de naturismo.

Em nenhuma praia do estado é permitido ficar nu. As associações do gênero estimam em cerca de 20 mil os naturistas paulistas, que precisam viajar ao Rio de Janeiro e às regiões Nordeste e Sul do país para a prática desse estilo de vida.

Há oito praias para naturismo no país: a de Tambaba, na Paraíba; as catarinenses Pedras Altas (Palhoça), Galheta (Florianópolis) e praia do Pinho (Balneário Camboriú); as fluminenses Olho de Boi (Búzios) e Abricó (Rio); Barra Seca, em Linhares (ES); e Massarandupió, em Entre Rios (BA). 

Este foi o quinto fim de semana seguido que o grupo fincou o pé na praia Mansa. Para isso, um esquema de vigília e rodízio entre eles foi montado no acesso ao local. Assim que um banhista se aproximava, o grupo era avisado para vestir suas roupas de banho.

Mas no sábado, antes do feriado do Dia do Trabalho, quando a reportagem esteve na praia, o grupo decidiu ficar pelado mesmo sob protestos.

Alguns banhistas chegaram a ser alertados de que o grupo iria se despir. Como teve quem desaprovasse o ato, os pelados então se concentraram no canto esquerdo da praia.

Um grupo de turistas que estava em uma lancha chegou a discutir com os manifestantes e ameaçou chamar a polícia. 

Havia ao menos 12 embarcações na praia no período da manhã. A maioria dos ocupantes registrou a cena em fotos. 

“Não vejo problema no fato de eles ficarem pelados na praia. O Brasil tem tantos problemas e algumas pessoas querem se preocupar com isso?”, disse a aposentada Lídia, que caminhava com o marido.

O mecânico marítimo Marcos Roberto Gudo foi um dos que reprovaram o protesto. “Caso a praia seja oficializada [naturista], não poderei mais frequentá-la?”, questiona ele, que afirma frequentar há 30 anos o local, que, na temporada, recebe mais de 50 barcos por fim de semana.

A psicóloga Lenina Disney, 26, de Taubaté (a 140 km de São Paulo), foi avisada por banhistas de que havia “um bando de gente pelada” no canto da praia e que tomasse cuidado caso estivesse com crianças. Ela riu —era uma das naturistas que ia ao encontro dos demais praticantes.

“O naturismo fomenta o turismo, movimenta hotéis e restaurantes. Pode ser uma atração a mais para Ubatuba, que sofre com a sazonalidade pós-temporada”, afirma o comerciante Éder da Silva Ferreira, que encabeça o movimento na cidade e é membro de associações de naturismo.

Em 2013, a Federação Brasileira de Naturismo iniciou um lobby para transformar a praia Brava, em Boiçucanga (São Sebastião), em destino para naturistas. A ideia teve retaliação de moradores e turistas. Nos anos 1990, um projeto que previa a mudança da praia da Caveira, em Ilhabela, também não foi adiante.

Em Ubatuba, um projeto foi elaborado no início deste ano, mas foi retirado de tramitação por pressão popular.

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