Escavado para retirar areia, Buraco Azul vira novo ponto turístico de Jeri
Novidade em região badalada no litoral cearense entrou na rota de guias e começa a ganhar estrutura
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A lombada na estrada de terra não serve apenas para evitar que os apressados coloquem em risco a vida de alguém: é também referência para se chegar ao “buraco azul” da cidade cearense de Acaraú, o novo ponto turístico da região de Jericoacoara, praia a 300 km de Fortaleza.
Avistando o quebra-molas, é só virar à direita que em poucos metros aparece, ao lado esquerdo, o agora famoso Buraco Azul, depressão que foi coberta de água e mais lembra um lago.
Se há alguns meses se via apenas cajueiros ao redor do buraco de água cristalina, agora uma estrutura de palha e madeira serve como apoio aos turistas que chegam aos montes de bugues, caminhonetes quatro por quatro ou mesmo carros de passeio, quase sempre acompanhados por guias.
O Buraco Azul entrou no roteiro dos passeios oferecidos por agências locais junto com aquelas mais conhecidas da região, como a Pedra Furada, Árvore da Preguiça e as lagoas Azul e do Paraíso.
“Impressionante a cor da água. Com certeza vão achar que tem algum filtro quando eu colocar no Instagram”, disse o mineiro Wellington Pereira, 34, auxiliar administrativo que estava visitando a região.
Hospedado em Jericoacoara, ele alugou por R$ 300 um bugue com outras três pessoas para fazer o passeio.
Na verdade são dois buracos, ambos em cidades vizinhas a Jijoca de Jericoacoara, município onde está a vila da famosa praia e onde a maioria das pessoas se hospeda quando visita a região.
O de Acaraú é o que tem melhor estrutura, já com um restaurante instalado. Há também o de Caiçara, distrito da cidade de Cruz.
Os dois nasceram da mesma maneira: buracos foram cavados para retirada de areia para obras na região.
Parte foi usada, por exemplo, para o asfaltamento em 2017 da CE-182, que liga a CE-85, principal estrada entre Fortaleza e Jericoacoara, até a praia do Preá, vizinha a Jeri.
A obra facilitou bastante o acesso de carros de passeio à vila de Jericoacoara e será um dos pontos discutidos no plano de privatização do Parque Nacional proposto pelo governo federal, já que se passa pelo meio do parque para chegar à vila.
Como o período chuvoso no Ceará em 2019, entre fevereiro e maio, foi o melhor dos últimos sete anos o buraco com terra retirada para obras encheu e a cor da água, bem cristalina, passou a chamar a atenção de quem passava por perto, principalmente turistas. Alguns bugueiros usavam a estrada para acesso a outros pontos turísticos e muitas pessoas pediam para parar e tirar fotos.
“Meu pai decidiu então cercar o local, até com medo de que crianças entrassem na água e se afogassem, estava bem fundo. Mas não teve jeito, as pessoas cortavam a cerca e invadiam. Então decidimos abrir ao público”, disse o dentista Edinilton Lima Araújo, 34, filho do dono do terreno onde está o Buraco Azul. Araújo é também presidente da Câmara de Vereadores de Acaraú, cidade de pouco mais de 60 mil habitantes.
No terreno, que tem cajueiros em que se aproveita principalmente a castanha, foi montado um restaurante que serve almoço, petiscos e bebidas. Por enquanto não há cobrança de entrada, mas os Araújo estão estudando essa possibilidade.
“Seria algo simbólico, como R$ 5. Muitas pessoas vêm aqui, acaba sujando, e fazemos sempre a limpeza. Mas esse valor poderia ser usado no consumo também”, explicou Araújo.
Eles solicitaram a um laboratório de Fortaleza a análise da água, que foi considerada própria para banho.
“A cor da água nos mostra que tem poucos nutrientes, portanto a chance de ter qualquer contaminação é mínima realmente”, explicou Antônio Jeovah Meireles, 57, professor do Instituto de Geografia da Universidade Federal do Ceará.
Segundo Meireles a água que apareceu nos buracos veio de lençóis freáticos, portanto tem baixo índice de nutrientes e é o que dá a coloração cristalina que chama a atenção das pessoas. A chuva ajudou a encher mantendo a cor, já que não há conexões com rios que poderiam deixá-la mais barrenta.
Ele alerta que, a partir do momento que a área passa a ser frequentada por muita gente e se montam estruturas como restaurantes, com banheiros, é possível que com o tempo essa água passe a receber nutrientes e a coloração escureça.
Por enquanto a única preocupação por ali é com pessoas que resolvem saltar para tirar fotos. Apesar de ter uma profundidade que permite o salto, uma placa foi colocada na entrada do terreno pedindo que os turistas evitem pular do alto dos barrancos para evitar acidentes.
A coleção de piruetas de vários estilos que aparece nas redes sociais mostra que o pedido não tem sido respeitado.
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