Siga a folha

Guaranis protestam contra derrubada de árvores próximas a aldeia em SP

Construtora Tenda diz ter seguido trâmites legais para desmatar terreno em que fará condomínio na região do pico do Jaraguá

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

O nome do empreendimento é Reserva Jaraguá-Carinás, mas os índios da aldeia que fica ao lado não estão nada satisfeitos com as obras da construtora Tenda na zona norte da capital paulista.

Nesta quinta-feira (30), após a derrubada, segundo os indígenas do pico do Jaraguá, de cerca de 4.000 árvores pela empresa, eles resolveram invadir o terreno para fazer uma cerimônia fúnebre em homenagem à flora atingida. 

Assim que o sol se puser, os índios irão se reunir para entoar um canto de dor e lamento no local, explica a índia Tamikuã Txihi, 24. “Também vamos permanecer aqui até que os órgãos competentes se manifestem sobre o motivo de passarem por cima da comunidade”, diz.

Os índios reclamam que a derrubada foi realizada sem nenhum tipo de consulta, em desacordo com a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da qual o Brasil é signatário e que obriga os Estados a fazê-lo em caso de empreendimentos feitos em áreas próximas de terras indígenas. 

De acordo com Aleandro da Silva, representante do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a construtora alegou à tribo ter autorização para a derrubada, mas a assessoria jurídica do órgão alega que nem todas as etapas foram cumpridas.

“Disseram que tinham autorização da Funai, mas quando fomos checar vimos que tinham apenas a declaração de que não se tratava de terra indígena”, afirma. “Mas isso fere a Convenção 169.”

O resultado da derrubada, dizem os índios, já pode ser sentido. “Encontramos ninhos com pássaros mortos e isso afeta diretamente a presença das abelhas uruçu amarelas que são muito sagradas para nosso povo”, diz Tamikuã. “Estão fazendo cinza e brasa da Mãe Terra.”

"O protesto é também contra esse governo, Bolsonaro e Moro, e a forma como a questão indígena é tratada", diz Silva.

Procurada a construtora Tenda afirma, em nota, que “reafirma seu respeito à comunidade local e ressalta que todos os procedimentos necessários foram adotados para a legalização do empreendimento, com aprovação dos órgãos competentes”. 

A empresa diz ainda que o número de árvores cortadas é menor do que as 4.000 informadas pelos índios e, conforme o Plano Diretor do município de São Paulo, a área em questão tem destinação exclusiva para a moradia da população de baixa renda, que é o objetivo da construção e que está à disposição das autoridades e da sociedade civil para qualquer esclarecimento.​

A Prefeitura de São Paulo afirma que a Secretaria Municipal de Licenciamento  aprovou a construção do empreendimento em 10 de janeiro deste ano e que o terreno "não está sobre área indígena, não sendo necessária consulta a órgão de defesa de direitos indígenas".

De acordo com a administração municipal, por estar localizado em uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), o terreno é destinado exclusivamente à construção de unidades habitacionais para famílias de baixa renda.

O empreendimento, diz a prefeitura, obteve aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico Artístico e Turístico (Condephaat).

"Há também Termo de Compromisso Ambiental firmado junto à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente que prevê ao todo a supressão de 528 exemplares arbóreos e a compensação ambiental com o plantio de 549 mudas no local. Além disso, o termo determina a doação de 1.099 mudas para viveiros municipais", diz a nota da prefeitura.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas