Mortes: A nutricionista e o veterano da Segunda Guerra que a morte não conseguiu separar
Ewaldo Meyer e Nair Verzola Meyer morreram de pneumonia, com cinco dias de diferença
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A nutricionista Nair Verzola Meyer era grata pela vida. “Não tenho do que reclamar. A vida tem que ser boa mesmo e você deve fazer o que tem vontade”, respondia Nair sempre que a família a questionava sobre sua vida, segundo conta a neta, a bióloga Janaína Meyer, 34.
Nair correu atrás da sua felicidade logo cedo. Natural de Dobrada (318 km de SP), veio à capital paulista e formou-se em nutrição em uma das primeiras turmas da USP.
Na época, não era comum as mulheres chegarem ao ensino superior. Finalizou os estudos e arrumou emprego. Durante anos, preparou o cardápio de refeições dos pacientes internados no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Um dia, Nair foi apresentada ao ex-combatente da Segunda Guerra Mundial pela FEB (Força Expedicionária Brasileira), Ewaldo Meyer.
Nascido no Rio de Janeiro, aos 18 anos foi convocado para o serviço militar e em julho de 1944 embarcou para a Itália. Sua função na 2ª Guerra era registrar em mapas as movimentações das tropas e as diretivas de combate.
Inspirado no dito popular “a cobra vai fumar”, criou o famoso símbolo da FEB, em 1944, na Itália, após uma conversa com o capitão norte-americano Vernon Walters.
De volta ao Brasil, Ewaldo arrumou trabalho na Escola Técnica de Aviação e de lá foi convidado a ser sócio em uma empresa de autopeças de importados. Além disso, integrava a diretoria da Associação dos Ex-combatentes do Brasil, em São Paulo.
Logo que se conheceram, Nair e Ewaldo começaram a namorar. Casaram-se e tiveram três filhos (um já falecido). Inicialmente, a família fixou residência em Moema (zona sul).
Nair largou o emprego de nutricionista e dedicou-se somente à família. Casados por mais de 65 anos, nunca brigaram. “Eram muito companheiros. Um não vivia sem o outro. Eles eram unidos até na hora de fazer arte, já idosos”, conta Janaína.
O casal adorava passear de carro. Ewaldo dirigiu até 90 anos. “Meu avô levou um tombo e a família o impedia de dirigir. Ele e minha avó saíam escondidos, pegavam o carro e iam passear. Não aceitavam que ninguém os acompanhasse, até que um dia bateu contra um ônibus. Eles não se machucaram, mas a partir daí não dirigiu mais”, relata.
Como avós, eram do tipo “sem limites”: alimentavam os mimos dos netos, brincavam de casinha, davam comida, amor, carinho e tranquilidade. Os finais de semana e as datas comemorativas, como Natal e os aniversários, nunca serão iguais.
“Pratico birdwatching (observação de aves) por causa do meu avô. Uma época, ele morou numa casa com quintal grande e ficávamos olhando os passarinhos, que ele atraía com migalhas de pão.
O casal morreu de pneumonia. A morte de Ewaldo Meyer, aos 94 anos, ocorreu no dia 4 de janeiro, e a de Nair Verzola Meyer, 96, cinco dias depois. Deixam dois filhos, quatro netos e duas bisnetas.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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