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Cidade sofre por ocupação desordenada no século 20

Desde 1968 prefeitura promete ações para reduzir impacto das chuvas

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São Paulo

As temperaturas mais altas e a frequência maior de eventos extremos ganham contornos mais graves quando se pensa que São Paulo não para —nem em população (cresceu uma média de 100,8 mil habitantes por ano na última década) nem em mancha urbana (que hoje ocupa 878,6 km², o equivalente a 57% do território da cidade).

A Prefeitura de São Paulo lista intervenções como piscinões, melhoria da drenagem e implantação de parques como resposta. Por outro lado, a cidade tem ao menos 17 grandes obras de drenagem atrasadas.

O município instituiu em 2009, na gestão Gilberto Kassab, sua Política Municipal de Mudança do Clima, que estabelece ações para mitigar efeitos do aquecimento global.

São Paulo também tem como meta reduzir em 45% as emissões de gás carbônico nos próximos dez anos em relação ao nível de 2010, e promete neutralizar as emissões de gases que provocam efeito estufa até 2050.

“Os preâmbulos de todos os planos diretores, desde o Plano Urbanístico Básico, de 1968, até o Plano Diretor Estratégico de 2014, têm capítulos dedicados a chuvas, ao meio ambiente”, afirma o professor Valter Caldana, da Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, que afirma que o respeito a variáveis ambientais é um dos fundamentos da boa arquitetura, mesmo antes de se falar em mudanças climáticas.

“Mas adotamos modelo de desenvolvimento urbano no século 20 que passou por cima dos elementos naturais da nossa topografia, geomorfologia e hidrografia”, diz ele, ao citar o encanamento e enterramento indiscriminado de rios e córregos e a impermeabilização de áreas verdes da cidade. 

É preciso mudar o modo como se produzem cidades, diz o urbanista. E cita coisas práticas: cuidar do mobiliário urbano, aumentar a capacidade de drenagem, acabar com a exigência de recuos de edifícios (o que faz com que se desperdice espaços), fazer com que empresas abram espaços verdes para uso público.

“Antigamente São Paulo tinha bolsões de calor. Hoje a cidade inteira virou um bolsão de calor. Tem que parar de agir só na emergência e agir cotidianamente”, diz.

Secretário de Infraestrutura e Obras da cidade, o engenheiro Vitor Aly afirma que a atual administração tem olhado os problemas derivados das mudanças climáticas de forma propositiva, e não mais reativa como no passado, quando, segundo ele, apenas atacavam os efeitos das enchentes.

“Os alagamentos acontecem no mundo todo. Veja Austrália, Inglaterra, Japão... É um problema da sociedade moderna. Fomos ocupando o território e agora precisamos nos ocupar do problema”, diz Aly.

Ele lista soluções estruturais que têm sido elaboradas pela prefeitura: a construção de piscinões (foram entregues oito e planejam mais cinco para 2020); o estudo para alteamento de pontes e pontilhões, que funcionam como represas quando enchem os rios; o mapeamento das 104 bacias hidrográficas e das manchas de inundação da cidade, com o propósito de alertar moradores e construtoras com precisão dos riscos de cada região.

Um dos compromissos do plano de metas da atual gestão é reduzir em 12,6% (2,77 km²) as áreas inundáveis da cidade.

Nas ações de manutenção, o secretário de Subprefeituras, Alexandre Modonezi, diz que a drenagem tem funcionado.

Ele avalia que a limpeza de ramais e bocas de lobo e a retirada de resíduos de córregos fizeram com que a água tivesse fluidez nas últimas chuvas. 

Segundo ele, a drenagem da cidade levou a água para os rios Pinheiros e Tietê —“foram essas artérias que não suportaram todo o volume”, diz. A manutenção dos rios é incumbência do governo do estado.

“Nas outras regiões da cidade tivemos alagamentos pontuais, pequenos, lâminas de água que acabaram sendo drenadas depois de passada a chuva”, completa.

O plano de metas dedica diversas rubricas à problemática: recuperar 240 mil metros de guias e sarjetas; limpar 2,8 milhões de metros quadrados de margens de córregos; retirar 176.406 toneladas de detritos de piscinões, entre outros.

Em 2019, o prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou compromisso de elaborar um plano de ação climática para zerar a emissão de gases que provocam efeito estufa nos próximos 30 anos. A proposta do tucano está alinhada às metas do Acordo de Paris, repetidamente atacado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos últimos anos.

Ricardo Viegas, secretário–adjunto de Verde e Meio Ambiente, diz que o plano será apresentado em junho, mas diversas ações para controle do aumento de temperatura e do efeito estufa já têm sido feitas.
Ele diz que um grande esforço tem sido feito em relação ao transporte na cidade.

A chamada “lei do clima”, sancionada em 2018 pelo então prefeito João Doria (PSDB), estabeleceu que as emissões de CO2 e de material particulado terão que ser zeradas até 2038 pela frota de ônibus municipal, por exemplo.

A resposta às ilhas de calor e ao aumento de temperatura vem por meio da ampliação das áreas verdes. Nesse sentido, Viegas afirma que a prefeitura implantará dez parques até o final do ano e revitalizará outros 58. A cidade hoje conta com 107 parques.

Outras propostas da gestão Covas que apontam para o longo prazo são a proibição do fornecimento de utensílios plásticos, a implantação de reuso de água em 100% dos novos equipamentos entregues e ampliação do atendimento da coleta seletiva na capital.

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