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'Megassíndico' do Copan faz conciliação entre vizinhos em meio a queixas na pandemia

Affonso de Oliveira, 81, no cargo desde 1993, cuida das reclamações e do cumprimento dos protocolos de higiene

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São Paulo

Se em um prédio comum o aumento do tempo de convivência imposto pela pandemia do novo coronavírus já causa queixas, discussão entre vizinhos e bate-boca em grupos de WhatsApp, imagine em um edifício com mais de mil apartamentos que também conta com diversas lojas no térreo?

A quarentena no Copan, edifício icônico no centro da capital paulista, tem sido um desafio. Logo no início, entre março e abril, os grupos de Facebook que costumam discutir questões do prédio foram invadidos por reclamações, principalmente ocasionadas por barulho.

“Eram barulhos de todos os tipos: aspirador de pó, liquidificador, gente vendo série ou escutando música com som alto, crianças brincando, gente se exercitando em casa e cachorros latindo”, conta a publicitária Polyanna Mattos, 37, que há oito mora no Copan, no bloco B, torre que reúne o maior número de apartamentos do condomínio.

Segundo o síndico do Copan, Affonso Celso Prazeres de Oliveira, 81, no cargo desde 1993, as queixas de barulho dispararam na quarentena. “Eu recebia de uma a duas reclamações por dia. Nesse período pulou para cinco, seis”, explica. No prédio moram cerca de 5.000 pessoas, distribuídas nos 1.160 apartamentos.

O jeito, segundo Oliveira, foi tentar a conciliação. “Eu sempre tento a conversa, tento harmonizar. Quero que as duas partes se encontrem e consigam uma solução”, explica.

O síndico do Copan, Affonso Celso Prazeres de Oliveira, 81, que ocupa o cargo desde 1993 - Eduardo Knapp/Folhapress

Na última semana, por exemplo, o síndico conseguiu um acordo entre um apartamento que está em reforma e um vizinho que tem trabalhado em casa. “A obra tem ocorrido em um período do dia e o morador tem concentrado as reuniões no outro período.”

O clima conciliador também tem sido adotado por parte dos moradores, segundo Polyanna. “Já vi muitas mensagens nos grupos de Facebook de pessoas falando que teriam uma reunião de trabalho em determinado horário e pedindo aos vizinhos para evitar fazer barulho. Acho que chegam na administração só os casos mais graves.”

Mas nem sempre é possível resolver na base da conversa. “Algumas pessoas têm tolerância zero. Aí dificulta o acordo e causa um desgaste grande. Mas esses casos são minoria, felizmente”, conta Oliveira.

O que também não deu trégua nem na quarentena foram as queixas dos apartamentos alugados por diária ou temporada. Segundo moradores, nem sempre quem aluga os imóveis segue as regras de convivência do prédio.

“Nesses casos, a gente sempre avisa o administrador dos apartamentos sobre os problemas. Hoje mesmo, estou multando uma unidade dessas, porque a pessoa já tomou ciência das queixas, mas os fatos têm se repetindo. Alguns me consideram chato, mas eu não sou. Tento fazer justiça na medida do possível”, argumenta o síndico.

Além de administrar as queixas, a administração do Copan ainda tem de cuidar do cumprimento dos protocolos de higiene e distanciamento social para evitar o contágio por Covid-19. “Os elevadores têm sido limpos ao menos três vezes ao dia e a água de reúso que utilizamos na limpeza do prédio já conta com mais cloro desde 2008, quando teve aquele surto de H1N1”, diz Oliveira.

Ele lista ainda que os elevadores receberam avisos sobre os protocolos sanitários e marcações no chão, para evitar a lotação, as portarias têm álcool em gel nas mesas, os funcionários receberam máscaras e um aplicativo de entrega de comida instalou um armário para evitar a aglomeração de entregadores no local.

“Depois de três meses, a empresa mandou uma pessoa deles para cuidar desses armário. Antes, tinha que deixar um ou dois funcionários do prédio para tomar conta, para garantir que os protocolos [de higiene] eram obedecidos.”

Mesmo assim, alguns moradores se queixam das providências tomadas e da presença de pessoas que não são moradoras no prédio. “Não tenho como impedir moradores de receberem visitas. A gente cuida da limpeza para evitar a contaminação, tanto que não tivemos incidência da doença no prédio”, diz Affonso.

Moradora há 20 anos do Copan, a atriz e diretora de teatro Mika Lins elogia a organização do prédio durante a pandemia. “Sempre tem alguém limpando os elevadores e as portarias estão sempre com álcool em gel. Até o lugar em que eu coloco lixo é muito limpo. Os porteiros estão sempre atentos. Outro dia, a minha filha estava sem máscara e não conseguiu entrar no prédio. Ela teve de pegar uma máscara na banca de jornal para subir.”

Por ser um condomínio de uso misto, com lojas comerciais no térreo, os cuidados com a higiene e o distanciamento entre as pessoas precisa ser reforçado. Para Moira de Toledo, diretora executiva da vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP (sindicato da habitação), no caso do Copan a melhor opção é reforçar a comunicação das novas regras e contar com a colaboração da comunidade.

“A gente tem que transferir um pouco de responsabilidade para o condômino. Não dá para o síndico assegurar que ninguém vá se contaminar. A opção do uso e do risco em algumas áreas quem assume é quem vai usar”, explica Toledo.

Para a advogada Lilian Maria Parga Marques da Costa, 70 anos, que há nove mora no Copan, o momento pede bom senso de todos. “Quando vejo que o elevador está lotado, eu não entro e espero o próximo. Cada um precisa ser responsável por si mesmo.”

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