Siga a folha

Weintraub retalia Maia por controle de fundo bilionário

Demissão de chefe de órgão da Educação eleva tensão com o Congresso

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

A troca no comando do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) promete elevar a tensão entre o governo Jair Bolsonaro e o Congresso. Um aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi demitido da função. 

A saída de Rodrigo Sergio Dias da presidência do órgão é uma manobra para manter sob o controle do ministro da Educação, Abraham Weintraub, o orçamento bilionário do fundo. 

A mudança tem relação com a aprovação no Congresso de um projeto que alterou o Orçamento de 2020.

O texto tirou do MEC o poder de execução e de bloqueios de recursos do FNDE.

O órgão passou a ter tratamento equivalente ao de ministérios “durante a execução orçamentária e para fins de limitação de empenho e de movimentação financeira”. Ou seja, o FNDE agora tem autonomia sobre o orçamento tanto quanto o MEC. Com isso, em eventual contingenciamento, não caberá à pasta definir quanto poderá congelar do fundo, que terá definições vindas da área econômica.

O fundo atua em todos os municípios do país. O órgão financia a construção e reformas de escolas e quadras, a compra de veículos de transporte escolar e a aquisição de material didático. Por isso, seu comando sempre foi alvo de assédio político.

Dias chegou ao FNDE um dia após a aprovação da reforma da Previdência. Ele assumiu o cargo no fim de agosto, com o respaldo de Maia e de partidos como DEM e PP. 

O ex-presidente do fundo trabalhava mais articulado com parlamentares do que com Weintraub. A relação entre ele e o ministro era protocolar e distante. Congressistas interpretam o gesto do governo de demiti-lo como uma retaliação. 

Em 18 de dezembro, Bolsonaro sancionou o chamado PLN 51 (Projeto de Lei do Congresso Nacional), que estipulou as mudanças na organização orçamentária.

Na pasta, a avaliação é de que, sem o controle dos R$ 55 bilhões do FNDE, só sobrariam nas mãos de Weintraub recursos comprometidos com as universidades, com o projeto de alfabetização —que até agora não decolou— e com as escolas cívico-militares. 

O ministro, com isso, preferiu enfrentar Maia e partidos com bancadas expressivas para manter uma margem maior de manobra no orçamento da pasta. 

No dia 27, a exoneração de Dias foi publicada em edição extra no Diário Oficial. Ele não fora avisado da decisão.

A demissão ocorreu durante o recesso parlamentar para evitar uma reação imediata do Congresso. 

“Causou estranheza a decisão sobre o FNDE, e ainda vamos entender o significado disso”, disse o deputado Cacá Leão (PP-BA), relator da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e também do PLN 51.

A Folha tentou contato com Dias, mas não obteve resposta. Em nota, o MEC afirma que a troca na presidência do fundo atende a critérios técnicos.

Um outro episódio de atrito também pesou na demissão: a decisão de Dias de revogar um edital de R$ 3 bilhões, lançado com suspeitas de irregularidades, que já havia causado desconforto no MEC. 

A concorrência, para a compra de computadores para escolas, foi publicada em 21 de agosto —entre o anúncio de Dias para o cargo e a nomeação de fato, no dia 29.

Além disso, nos bastidores, deputados passaram a apostar na saída de Weintraub do ministério. 

Bolsonaro, contudo, fez uma transmissão nas redes sociais nesta terça-feira (7) em que indicou a permanência do ministro. “Você cresceu”, disse ele, ao mencionar reportagens que citavam avaliações negativas de Weintraub.

O conflito deve aumentar. Ao demitir Dias, Weintraub ainda frustrou a nomeação de novas indicações políticas na pasta.

A nova presidente do FNDE, Karine Santos, por exemplo, era diretora de Ações Educacionais do órgão. O posto de Santos havia sido prometido a uma indicação do MDB ou do PRB.

Santos é funcionária de carreira do FNDE, mas se alinhou ao ministro. Ela é próxima de Maria Fernanda Bittencourt, secretária-executiva-adjunta do MEC. Nesse embate, Santos foi promovida.

Pela lei, um ministério é identificado como órgão orçamentário, o maior nível da classificação institucional e cuja finalidade é agrupar as chamadas unidades orçamentárias. O FNDE era uma unidade orçamentária.

Ganharam também status de órgão orçamentário a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). 

Todos eles também são comandados por indicações políticas. Com orçamentos menores, não houve mudanças na direção desses órgãos.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas