Jogadores uruguaios fazem levante contra parceiro da federação local

Crédito: Miguel Rojo/AFP Jogadores da seleção uruguaia treinam antes de jogo contra o Brasil

Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados Você atingiu o limite de
por mês.

Cadastre-se e tenha acesso a 10 reportagens por mês. Já possui cadastro ou é assinante? Faça login.

Assine a Folha e tenha acesso ilimitado. Já é assinante? Faça login.

Às vésperas doconfronto com o Brasil, os jogadores da seleção uruguaia vivem em confronto com a principal parceira comercial da federação local. Desde segunda-feira (20), os comandados de Oscar Tabárez boicotam a Tenfield, empresa que controla os direitos das principais competições do país até 2024.

A empresa também foi a detentora dos contratos de imagem da seleção por quase 20 anos, mas esse acordo encerrou em dezembro após pressão dos atletas. Foi um reflexo do escândalo de corrupção envolvendo dirigentes e empresários presos pelo FBI em 2015.

Criada pelo empresário Francisco Casal, que nasceu em São Paulo, a Tenfield é parceira da federação desde 1998. O conglomerado é acusado pelos atletas de ter conseguido tanto poder com a ajuda de Eugenio Figueredo, ex-presidente da federação local e da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), Cartola que delatou Ricardo Teixeira vive preso no Uruguai.

Os negócios de Figueredo com a Tenfield são alvo de investigação no país. Os dados são mantidos em sigilo pelas autoridades do Uruguai.

A ofensiva dos jogadores às vésperas da partida contra a seleção brasileira é mais um capítulo da relação conflituosa entre os atletas e os executivos da empresa.

Nos treinos desta semana no Uruguai, os jogadores se recusam a dar entrevista para os profissionais da Tenfield, que também administra a principal emissora de esporte em rede fechada. O canal transmite as partidas da equipe nacional.

Crédito: Miguel Rojo/AFP Godin durante treino da seleção uruguaia em Montevidéu

Em meio à disputa entre atletas e empresa, a federação local perdeu todos os contratos de patrocínios. Eles venceram no final do ano e não foram renovados ate agora. Os jogadores querem participar da negociação.

O boicote atual também é uma tentativa das principais estrelas do futebol do país para dar força ao movimento dos jogadores locais chamado "Más Unidos Que Nunca" (mais unidos do que nunca).

Eles acusam a Tenfield de pagar pouco pelos direitos de transmissão dos torneios do país. No início do ano, representantes da Turner e da Fox ofereceram quase US$ 100 milhões (cerca de R$ 310 milhões) por ano pela competição. A empresa de Casal paga cerca de US$ 9 milhões (R$ 28 milhões) por temporada.

"Todos estamos juntos [no movimento dos jogadores locais]. Apesar de morarmos no exterior, temos a responsabilidade de fazer algo para o nosso futebol", afirmou o capitão da equipe nacional, o zagueiro Diego Godín.

No ano passado, descontentes com os direitos de imagem pagos aos jogadores da seleção, atletas chegaram a apresentar uma proposta da Nike para substituir a marca que veste a equipe uruguaia.

A norte-americana ofereceu aos executivos da federação local US$ 24 milhões (cerca de R$ 72 milhões) por sete anos de contrato. Parceira desde 2007, a Puma já tinha anunciado um proposta de US$ 5 milhões (R$ 15 milhões) pelo mesmo período.

A empresa alemã se beneficiou de uma cláusula de contrato que havia entre a Tenfield -intermediária no negócio- e a federação. Pelo acordo, ela tinha sempre a prioridade de manter o acordo com a entidade, desde que igualasse a oferta de uma rival.

Em outubro, a Puma bancou a oferta da Nike e manteve o patrocínio do time uruguaio. Nesta quinta, os jogadores vão estrear o novo uniforme desenhado pela fabricante alemã.

Ao ser questionado sobre até quando os atletas vão boicotar a Tenfield, Godín foi seco. "Até um novo aviso", respondeu, deixando claro que a trégua não virá tão cedo.

A empresa e a federação preferiram não comentar o caso. Em outubro, quando os atletas questionaram a legitimidade da empresa, a Telfield informou em nota que trabalha "com a mais absoluta boa fé". Na época ela divulgou que a atitude dos jogadores é uma "intromissão ilegítima" nas relações contratuais com a entidade que gere o futebol do Uruguai.

Relacionadas