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O que saber sobre o início da NFL em meio a pandemia e protestos

Campeão do último Super Bowl, Kansas City Chiefs pega o Houston Texans na abertura

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Ben Shpigel
The New York Times

A pandemia não conseguiu parar a NFL. Ainda que os índices de contágio disparassem e as instalações dos times viessem a fechar, que os preparativos para a temporada tenham sido reestruturados e os jogos de pré-temporada tenham sido cancelados e que os vestiários tenham sido reconfigurados para reduzir a difusão do coronavírus, a liga prometeu que a temporada começaria na data marcada, 10 de setembro.

E é o que vai acontecer, depois da pré-temporada mais desafiadora na história da NFL, diante de um número reduzido de torcedores, nesta quinta-feira (10) à noite, no Arrowhead Stadium, onde o campeão da temporada passada, o Kansas City Chiefs, enfrentará o Houston Texans.

Determinar se a temporada terminará da maneira planejada, em 7 de fevereiro de 2021, em Tampa, Flórida, com o Super Bowl 55 –ou se ela será interrompida por um dilúvio de contágios ou por boicotes de jogadores em protesto contra a injustiça racial– continua a ser uma incógnita.

A resposta dependerá muito da disciplina individual dos jogadores e comissões técnicas, dos caprichos da difusão do vírus e do poder exercido pelos jogadores, que o vêm usando em todos os esportes de uma maneira que jamais havia sido vista.

O futebol americano continuará a ser jogado em um campo com 110 por 49 metros, e a bola continuará a ser feita de couro, como sempre foi, mas muita coisa sobre a temporada parece e soa confusa e causa estranheza e desorientação. Abaixo, algumas amostras do que isso pode significar.

*

Os jogadores passarão por exames de coronavírus? Aproveitando o sucesso encorajador conquistado no período de treinamento, quando exames diários confirmavam o respeito dos jogadores e do pessoal dos times aos protocolos, a NFL e o sindicato dos atletas chegaram a um acordo sobre continuar testando os jogadores e trabalhadores essenciais a cada dia da semana, exceto o dia do jogo.

O exame final acontecerá um dia antes do jogo, e se os resultados do teste forem inconclusivos, o jogador passará por novos exames. Os atletas serão autorizados a jogar desde que os resultados dos exames sejam negativos e surjam até no máximo duas horas antes do pontapé inicial.

Na mais recente rodada de exames promovida pela NFL, que ocorreu de 30 de agosto a 5 de setembro, mais de 44 mil exames foram aplicados a 8.349 jogadores e funcionários dos times. Apenas oito casos positivos –um entre os jogadores– foram confirmados.

O desafio, agora, porém, será manter um ambiente seguro e a mesma vigilância quanto a reduzir o risco de exposição quando os jogos começarem, quando os times começarem a viajar e o potencial de contato aumentar. Qualquer pessoa apanhada num exame será isolada e proibida de visitar as instalações dos times e de manter contato direto com os atletas e o pessoal.

“O mais importante para nós é evitar uma sensação de acomodação”, disse Roger Goodell, o comissário da NFL, em conversa telefônica com jornalistas na semana passada. “Estamos lidando com muita incerteza. Temos realmente de nos adaptar à comunidade médica. Estudaremos novas mudanças nos testes, à medida que a temporada avance. Vamos continuar vigilantes, flexíveis e adaptáveis”.

Os times poderão substituir os atletas que vierem a ser contagiados? Levando em conta a probabilidade de que jogadores contraiam o vírus, a NFL ofereceu diversas concessões quanto aos elencos dos times.

O número de atletas que podem estar presentes no dia do jogo foi ampliado de 53 para 55, e as duas vagas adicionais serão ocupadas por membros da equipe de treino –uma regra que com certeza será explorada, como já foi por Bill Bellichick, treinador do New England Patriots e mestre na exploração de lacunas dos regulamentos, que optou por não manter um kicker na sua equipe ativa, ostensivamente porque pode incluir um chutador na equipe de treino e promovê-lo ao time principal antes do jogo de domingo.

A liga criou uma lista separada de reserva para jogadores que sejam apanhados em exames de coronavírus ou tenham mantido contato com pessoas contagiadas. Também ampliou as equipes de treino –uma unidade auxiliar que em geral inclui atletas mais jovens –de 12 para 16, e reservou seis de suas vagas para veteranos.

E em uma decisão que vai deliciar os treinadores e executivos, que adoram promover giro nas posições mais baixas de seus elencos, os times agora estão autorizados a proteger quatro jogadores da equipe de treino por semana, que não poderão ser contratados pela equipe ativa de outro time. Essas mudanças muito provavelmente inibirão os times quanto a buscar jogadores diferentes daqueles que já estão autorizados a circular em suas instalações, se levarmos em conta os protocolos de exame a que os novos atletas precisarão se submeter.

Ainda assim, os times estão se preparando para todo tipo de situação. Caso um surto atinja a sala dos quarterbacks do Philadelphia Eagles, o time vai ficar feliz por ter incluído em seu time de treino o veterano quarterback Josh McCown, 41, que participará de reuniões virtuais, mas continuará morando no Texas.

Os jogadores e treinadores usarão máscaras? Todos os integrantes das comissões técnicas e o pessoal de apoio que ficará em campo têm a obrigação de usar máscaras, protetores de pescoço ou escudos faciais durante os jogos, enquanto os jogadores que não costumam entrar em campo regularmente são “fortemente encorajados” a fazê-lo. O cara ou coroa inicial, que costumava envolver algumas pessoas, agora só contará com um jogador representando cada time.

E o que acontece fora de campo? Na maioria dos estádios, a experiência será reduzida ao seu mínimo: dois times jogando futebol americano. Apenas seis times admitirão torcedores na primeira semana, e a capacidade de seus estádios foi reduzida. Para combater silêncios desconfortáveis, as quipes poderão executar gravações com barulho de torcida fornecidas pela NFL, específicas para cada estádio, usando seu sistema de alto-falantes e com volume limitado a 70 decibéis –o que equivale ao nível de uma conversa normal.

A lateral em si, tradicionalmente ocupada por pessoal acessório, vai estar vazia, sem cheerleaders, mascotes ou repórteres de campo. A proibição se estende às cerimônias pré-jogo, sem execução ao vivo do hino nacional nos estádios.

Como a NFL vai lidar com os protestos contra a desigualdade racial? A liga é formada principalmente por jogadores negros, mas poucos dos proprietários de times, executivos e treinadores são negros. Há anos a NFL vem se recusando a tratar das preocupações de seus integrantes negros –como Goodell admitiu no começo de junho, depois que a polícia matou George Floyd.

A inquietação civil que perturba o país também abalou a NFL, com atletas, treinadores e proprietários encontrando maneiras pessoais de protestar contra o racismo e a brutalidade policial. Muitas franquias cancelaram treinos depois que a polícia atacou Jacob Blake a tiros em Kenosha, Wisconsin, e eles sem dúvida continuarão a lutar por igualdade racial durante a temporada.

Alguns jogadores negros se ajoelharam e continuarão a se ajoelhar durante a execução do hino nacional, um movimento iniciado por Colin Kaepernick para chamar atenção quanto à injustiça racial. De acordo com o jornal Cincinnati Enquirer, o Cincinnati Bengals está considerando se ajoelhar em protesto como time ou ficar no vestiário durante a execução do hino nacional.

Eli Harold (à esq), Colin Kaepernick (centro) e Eric Reid, do San Francisco 49ers, ajoelhados para protestar por justiça racial durante execução do hino nacional americano, em 2018 - Thearon W. Henderson - 6.out.16/AFP

Alguns jogadores do Dallas Cowboys, entre os quais o running back Ezekiel Elliott, também devem se ajoelhar, contrariando os desejos do proprietário do time, Jerry Jones.

Entre os atletas que já declararam que pretendem se ajoelhar estão o quarterback Kyle Murray, do Arizona Cardinals, e o running back Alvin Kamara, do New Orleans Saints, que são negros. Baker Mayfield, quarterback do Cleveland Browns, e Bill O’Brien, treinador do Houston Texans, que são brancos, estão entre aqueles que disseram que aderirão ao protesto.

Para destacar as vítimas da brutalidade policial, os jogadores usarão adesivos com os nomes delas na traseira de seus capacetes, uma rara concessão diante das regras rigorosas da NFL quanto a uniformes. DK Metcalf, recebedor do Seattle Seahawks, por exemplo, disse que pretende homenagear Emmett Till, adolescente negro linchado por dois homens brancos no Mississipi em 1955.

Durante o aquecimento pré-jogo, os jogadores poderão usar uma camiseta, desenhada pelo “safety” Michael Thomas, do Texans, que diz “injustiça contra um de nós é injustiça contra todos nós”, na frente, e “acabem com o racismo”, nas costas. A segunda frase será escrita por trás de uma end zone em todos os estádios, e do outro lado a frase será “todos precisamos participar”.

A canção “Lift Every Voice and Sing”, conhecida como o hino nacional negro, será executada antes de todos os jogos da semana um.

Ainda que nada tenha sido anunciado, pode ser que os jogadores optem por não jogar durante uma semana, ou talvez por mais tempo, em solidariedade com os colegas de outras ligas profissionais de esportes, como a NBA, WNBA e Major League Baseball, que cancelaram jogos em agosto em protesto contra a injustiça racial.

“Todos eles têm uma escolha, uma escolha individual, e o direito de não participar de jogos e de protestar, como quer que as pessoas desejem caracterizar o gesto”, disse Troy Vincent, vice-presidente executivo de operações de futebol americano da NFL, em entrevista coletiva telefônica na semana passada.

Os atletas se mobilizaram para promover a inscrição de eleitores no registro eleitoral, antes da eleição presidencial americana de 3 de novembro. No dia da eleição, todas as instalações dos times da NFL estarão fechadas para que todos tenham a oportunidade de votar –talvez em estádios usados como postos eleitorais. Mas ainda falta muito tempo para a votação: mais ou menos meia temporada, e esta começará como planejado, ao contrário do que pode ter parecido em alguns momentos.

Tradução de Paulo Migliacci

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