Trintões dominam lista de artilheiros do país na temporada
Veteranos se adaptam e mudam o significado de ser centroavante em campo
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Os dois artilheiros do Brasil em 2020 somam 73 anos. Léo Gamalho, 34, e Nenê, 39, anotaram 18 e 17 gols respectivamente na temporada até agora. Dos sete maiores goleadores do país, apenas dois, Gabriel Barbosa, o Gabigol (24 anos e 16 gols), e Tiago Orobó (26 e 15) não chegaram aos 30 anos.
Além deles, a lista tem o argentino German Cano, 32, do Vasco (16 gols); Nunes, 37, do Gama (14) e Paulo Sergio, 31, do CSA (14).
"Não é coincidência [os veteranos fazerem mais gols]. Isso é resposta para quem acha que o jogador que chegou aos 35 está acabado no futebol", afirma Nunes, artilheiro do Campeonato Brasiliense deste ano e hoje em dia na disputa da Série D com o Gama.
Com carreira recheada de passagens por times de médio e pequeno porte no país –exceção foi o Vasco–, Nunes tem mais gols do que salários recebidos nos últimos dois anos. O Gama lhe deve dez meses de vencimentos.
Cada um tem a sua própria explicação para a produtividade dos trintões diante do gol. Nenê sempre foi um meia-atacante de finalização e cobrador de faltas, mas no Fluminense, encontra a liberdade para jogar próximo ao gol que é negada a outros jogadores.
Cano, na definição de Octavio Zambrano, técnico do Independiente Medellín em 2018, "faz as coisas como se trabalhasse em um escritório: venho aqui para fazer gols e gols é o que vou fazer".
Há também quem tenha aproveitado os mais de três meses de paralisação por causa da pandemia da Covid-19 para se preparar antes da volta.
"Fiquei em Maceió treinando em casa para me manter bem. Voltei bem da quarentena e estou colhendo os frutos. Ainda tenho muitas metas para realizar na carreira, mas prefiro guardar para mim mesmo", disse Léo Gamalho em entrevista à ESPN Brasil.
Estar atento à condição física com o passar da idade é uma receita usada por artilheiros longevos do passado. Mas continua válida.
"Eu joguei até os 43 anos, e bem. Os jogadores mais antigos talvez tenham tido mais base, trabalhavam mais a finalização. Hoje no futebol você tem mais treino reduzido, não tem tanta finalização. Se o atacante vai trabalhar finalização, o fisiologista diz que você não pode fazer, que pode se machucar", constata Claudio Adão, 65, que atuou por vários dos principais times do país.
A pandemia pode mexer com os números das artilharias do ano. Não apenas pela quebra de ritmo, mas porque o Campeonato Brasileiro deve terminar apenas em fevereiro de 2021. O principal goleador do país em 2019 foi Gabigol, com 43 marcados.
Se mantiver a posição na tabela, Nenê será o artilheiro mais velho da Série A desde 2005, quando Romário venceu a disputa aos 39 anos. E se Léo Gamalho ocupar o mesmo posto na Série B, pela primeira vez o Brasileiro terá os máximos goleadores de suas duas principais divisões acima dos 35.
"O que não muda é que gol é um talento. Treinamento ajuda bastante, claro. Mas é algo que você sabe ou não sabe fazer. E isso não importa a idade. Ninguém desaprende. Por isso que quando têm chances, os jogadores considerados veteranos mostram que sabem marcar", analisa Paulo Sérgio, que começou a temporada no Cascavel e hoje joga pelo CSA.
Os próprios atletas que disputam a condição de artilheiro do Brasil no ano encontram dificuldade para se definirem como centroavantes. Nenê não é. Sempre foi meia. Também chegou a ser improvisado como lateral na carreira.
"Tem muito técnico que nunca chutou uma bola na carreira e acha que o centroavante acabou no futebol. Isso é uma besteira. Não tem como matar o centroavante. É impossível. Enquanto houver gol no futebol, haverá centroavante em campo", define Nunes, que começou como ponta esquerda e depois passou a jogar pelo meio, dentro da área.
É a mesma trajetória de Serginho Chulapa, sétimo maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro (127 gols) e máximo goleador em 1983 (22). Nas categorias de base do São Paulo, era ponta, depois, mudou.
"Esses veteranos que continuam marcando gols como centroavantes são espécies em extinção. Não tem mais centroavante e isso é culpa, em parte, dos técnicos nas categorias de base. A partir do momento em que não há mais ponta, fica difícil ter centroavante. Há treinadores mais preocupados em achar laterais para seus times do que atacantes de área", define o ex-jogador, que hoje é funcionário do Santos, time no qual é o terceiro maior artilheiro após a era Pelé (iniciada em 1973), com 104 gols.
A versão de Nunes e Gamalho é que nomes com mais de 30 anos, em um jogo veloz e físico como o de hoje, continuam balançando as redes porque souberam se adaptar. Ficar parado na área, sem ajudar a marcar a saída de bola do adversário, como fazia o centroavante clássico até a década de 1980, é difícil.
"Não tem como você deixar de ter uma referência no ataque. Esse é o centroavante hoje em dia. Ainda mais no futebol brasileiro, que tem torneios que são mais físicos, como a Série D, a Série C... Nisso os jogadores mais experientes se destacam. Eles sabem jogar. Isso nunca vai mudar", completa Nunes.
É uma constatação que jogadores do passado fazem ao observarem o futebol atual.
"Ainda há espaço para o camisa 9. Mas a maneira como eles estão jogando, complica. Quando a bola vai para a linha de fundo, não chega o meia e nem o meia-esquerda, como chegavam o antigo 8 e o 10, o ponta do outro lado chegava fechando. A bola está hoje no meio de campo e daqui a pouco eles voltam a bola lá pro goleiro, pro zagueiro, não dão continuidade. Coitado do centroavante, né, vai sofrer a vida toda", conclui Claudio Adão.
Artilheiros do país na temporada
Léo Gamalho, 34 anos
CRB
18 gols
Nenê, 39 anos
Fluminense
17 gols
Cano, 32 anos
Vasco
16 gols
Nunes, 37 anos
Gama
14 gols
Paulo Sergio, 31 anos
CSA
14 gols
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