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Patrocinadores dizem que só ficam no Santos se clube desistir de Robinho

Quatro empresas dão ultimato após contratação do atleta, condenado por violência sexual na Itália

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São Paulo

Ao menos quatro patrocinadores já entraram em contato com a diretoria santista, afirmando que a continuidade dos seus contratos com o clube depende da desistência da contratação de Robinho, 36.

O retorno do atacante ao time da Vila Belmiro foi anunciado no último sábado (10), mas ainda terá de ser aprovado pelo conselho deliberativo, em reunião marcada para a próxima quarta-feira (21). Se a autorização for negada, o estatuto da agremiação obriga que o negócio seja desfeito.

Esse trâmite já estava previsto, porém a votação, caso realmente aconteça, ocorrerá sob crescente pressão de patrocinadores após a chegada do atacante, condenado em primeira instância na Itália a nove anos de prisão por violência sexual.

Ele nega que tenha cometido o crime e recorre em segunda instância (leia abaixo a íntegra do posicionamento dos seus advogados).

A insatisfação dos anunciantes com a possibilidade de terem suas imagens associadas ao caso foi ampliada nesta sexta (16), após as revelações pela Globo de gravações de conversas do atleta, tidas como fundamentais para a condenação.

Para a Justiça italiana, o conteúdo das interceptações mostrou que Robinho e os demais acusados do crime sabiam da condição da vítima – estava alcoolizada e incapaz de reagir ao assédio do grupo.

Philco, Kicaldo, Tekbond e Casa de Apostas foram as empresas que deram o ultimato após a reportagem.

A Kicaldo, empresa do ramo alimentício e que anuncia sua marca nas mangas da camisa do time, foi uma das primeiras a avisar o clube nesta manhã que manterá o patrocínio somente se a contratação for desfeita. Esse contrato rende ao Santos aproximadamente R$ 2,5 milhões.

"A Kicaldo repudia todo tipo de violência, e por isso vamos seguir agindo sempre de acordo com nossos valores", afirmou em nota.

A empresa avalia que, independentemente de Robinho ser inocentado futuramente, a postura do jogador, a partir do conteúdo das conversas, é inadmissível e não o exime de culpa.

Posição parecida foi emitida pela marca de eletrônicos Philco. "Sempre mantivemos forte parceria com o time e seus torcedores, porém neste momento exigimos a rescisão imediata com o atleta. Caso contrário, a Philco irá revogar o contrato, pois a situação não compactua com os valores da marca", declarou a empresa.

Robinho durante treino no Santos após anúncio de sua contratação - Ivan Storti-13.out.20/Santos FC

A Casa de Apostas foi na mesma direção. "Diante dos novos fatos, notificamos o clube sobre a impossibilidade da continuidade do contrato de patrocínio caso se mantenha a decisão em prosseguir o vínculo com o jogador. Aguardamos a decisão final da diretoria do clube, até segunda-feira (19), para definirmos o futuro da parceria."

"Manifestamos nossa preocupação sobre o fato ao Santos assim que soubemos e, neste momento, a continuidade do nosso patrocínio está condicionada ao cancelamento da contratação do jogador pelo clube", disse a Tekbond.

A Umbro, fornecedora de material esportivo, afirmou que solicitou para a próxima semana uma reunião extraordinária com a diretoria santista, "onde apresentará todos os fatores de risco referentes ao caso do atleta Robinho". De acordo com a empresa, "desse encontro sairá a definição de posicionamento da marca".

A Kodilar, que possui um acordo de R$ 1,2 milhão para anunciar nos meiões, analisa ainda uma forma de pedir a suspensão de contrato de forma temporária, até a conclusão do caso na Justiça italiana.

O Grupo Foxlux, de materiais elétricos, também cobra explicações, mas pelo menos por enquanto não condicionou sua permanência à rescisão. Disse ter pedido esclarecimentos ao clube sobre "quais ações serão tomadas em relação ao ocorrido para que possamos decidir as melhores atitudes a serem adotadas".

Sem um patrocinador máster na camisa desde o final de 2018, o Santos depende do fatiamento de espaço no uniforme para conseguir receita.

Na quarta (14), a Orthopride, rede de franquias de ortodontia e estética, já havia rescindido seu contrato de patrocínio com o clube, iniciado em 2018 e no valor de R$ 2 milhões, por causa da contratação de Robinho.

A votação do conselho deliberativo é necessária por causa das eleições, marcadas para 12 de dezembro. Segundo o estatuto do clube, a menos de três meses do pleito, o comitê de gestão não pode contratar, vender jogadores ou antecipar receitas sem autorização do conselho, que vai decidir por maioria simples entre os presentes.

Ao todo, o clube tem 303 conselheiros aptos a votar (entre honorários, efetivos e eleitos), mas dificilmente esse será o quórum da assembleia.

"O comitê de gestão nos informou da contratação e os detalhes foram enviados para a comissão fiscal, que deu parecer favorável. Agora, o conselho terá de aprovar ou rejeitar a contratação", afirmou o presidente do conselho deliberativo do Santos, Marcelo Teixeira.

Até o momento, o atleta não é considerado culpado pelo crime, já que o processo ainda está tramitando na Justiça italiana, composta por três instâncias.

Somente depois de percorrer essas três fases, a sentença pode ser considerada definitiva, com absolvição ou condenação –e, neste caso, com o início do cumprimento da pena.

A audiência no Tribunal de Apelação de Milão está agendada para o dia 10 de dezembro.

"Será a primeira vez [do processo] nesse tribunal, mas não sei dizer se será a última, porque o juiz pode querer reabrir alguma questão ligada às provas, aprofundar alguma coisa, ouvir novamente alguma testemunha", disse à Folha no início da semana o advogado Alexander Guttieres, que representa Robinho ao lado de Franco Moretti. Os dois escritórios, sediados em Roma, assumiram o caso depois da decisão de primeiro grau.

Caso a sentença final, na terceira instância, considere Robinho culpado, um novo processo terá início, dessa vez para decidir sobre o cumprimento da pena de prisão. A Constituição brasileira impede a extradição de brasileiros para países onde crimes tenham sido cometidos.

O caso voltou à tona nos últimos dias, depois que seu retorno ao Santos foi anunciado, provocando indignação de torcedores e levantando o debate sobre a posição do clube, considerada contraditória após a participação em campanhas de combate à violência contra a mulher.

Na quarta (14), após a notícia da saída da Orthopride por causa da contratação, a agremiação publicou sua primeira nota oficial sobre o assunto.

"O clube não pode entrar no mérito da acusação, pois o processo corre em segredo de Justiça na Itália e sobretudo o Santos FC orgulha-se de, em sua história, sempre respeitar as garantias fundamentais do ser humano, dentre as quais, a presunção da inocência e o respeito ao devido processo legal", afirma a nota.

"Não será o Santos FC que lhe dará uma sentença antecipada, prejulgando e o impedindo de exercer sua profissão", continua a agremiação. "Infelizmente vivemos na era dos cancelamentos, da cultura dos tribunais da internet e dos julgamentos tão precipitados quanto definitivos, porém há a certeza que o torcedor do Santos FC entenderá que compete exclusivamente à Justiça realizar o julgamento."

O clube diz ainda que não há mudanças em seu posicionamento nas campanhas de combate à violência contra a mulher: "São valores irrenunciáveis e que fazem parte da história do legado Alvinegro".

A Folha procurou o Santos novamente após a divulgação das conversas interceptadas e aguarda uma resposta.

O acordo inicialmente firmado entre Robinho e o time tem duração prevista de cinco meses, até o fim do Campeonato Brasileiro, em fevereiro de 2021.

O salário, segundo o clube, será simbólico de R$ 1.500, mas envolve também outros ativos de performance, prevendo bônus de R$ 300 mil após dez partidas jogadas e outros R$ 300 mil depois de 15 jogos. Os valores, no entanto, só serão pagos no próximo ano.

Íntegra da posição dos representantes do atleta

"As gravações do caso Robinho na justiça italiana", publicada hoje pelo GE, os advogados do jogador Robson de Souza esclarecem: 1. O jogador reitera que não cometeu o crime do qual é acusado e que sempre que se relacionou sexualmente foi de maneira consentida;

2. Taxativamente não houve violência sexual tampouco admissão de culpa nas interceptações telefônicas, o que fica claro quando analisadas na integralidade e no contexto correto;

3. Por se tratar de processo sigiloso e ainda em curso, estamos impedidos de falar sobre o mérito das acusações. Entretanto, sobre a divulgação em si, deve ser esclarecido que há nos autos provas suficientes da inocência de Robinho - as quais infelizmente não foram divulgadas na matéria - e outras que ainda serão apresentadas à Justiça italiana, que certamente levarão à sua absolvição. Há diversas conversas interceptadas que não foram corretamente traduzidas para o idioma italiano, o que levou ao equívoco de interpretação.

4. Confiamos plenamente na Justiça italiana, no sucesso do recurso defensivo e na reforma da decisão, conscientes de que a submissão do feito às instâncias superiores permite justamente evitar erros judiciários e condenações injustas.

5. Por fim, Robinho agradece o apoio da torcida do Santos Futebol Clube e, como pai de família e atleta, faz questão de ressaltar que repudia todas as formas de violência"

Marisa Alija Ramos
Luciano Santoro
(representantes de Robinho)

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