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Futebol Carioca

Ceni no Flamengo é vitória do cavalo encilhado contra o fio do bigode

Decisão era difícil, mas tão respeitável que até o presidente do Fortaleza respeitou

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Paulo Vinicius Coelho

Cavalo encilhado não passa duas vezes. O ditado explica por que Rogério Ceni trocou o Fortaleza pelo Flamengo, apenas 27 dias depois de ter afirmado publicamente que se arrependia da saída para o Cruzeiro, no ano passado, e ficaria na capital do Ceará até o final de seu contrato.

Tudo na vida tem ônus e bônus. Rogério sabia que seria criticado, mas tomou a decisão que pode encurtar o caminho para a prateleira mais alta dos treinadores do Brasil. Se ganhar o Brasileiro ou a Libertadores, irá para outro patamar. A Copa do Brasil, em menor escala.

A decisão de Rogério Ceni era difícil, mas é tão respeitável que até o presidente do Fortaleza respeitou. Marcelo Paz lamentou, no entanto, o fato de o Flamengo ter o mesmo tipo de comportamento do Benfica, ao tirar Jorge Jesus do Brasil sem um mísero telefonema para Rodolfo Landim.

Rogério Ceni chegou ao Flamengo nesta terça (10) - Alexandre Vidal/Flamengo/Divulgação

“Nós falamos tanto sobre ter outro tipo de futebol e, quando temos a chance, não fazemos isso”, disse Paz.

Tudo tem contradição nessa ciranda de trocas de técnicos do futebol brasileiro. Rogério será criticado, possivelmente num nível maior do que foi Vagner Mancini, quando se demitiu do Atlético-GO para assinar com o Corinthians. O Palmeiras também tirou um técnico empregado do PAOK, da Grécia, e Eduardo Coudet trocou o Internacional pelo Celta, da Espanha.

Foram 17 mudanças de técnico nas primeiras 20 rodadas do Brasileiro, duas a mais do que na mesma altura do campeonato de 2019. Todos têm culpa. Os clubes demitiram 13 desses treinadores e quatro pediram para sair: Vagner Mancini, Eduardo Coudet, Paulo Autuori e Rogério Ceni.

Mancini, Autuori e Ceni não teriam lugar em time da Série A se o Brasil seguisse uma regrinha básica, adotada na Itália: quem sai de uma equipe não pode dirigir outra da mesma divisão na temporada.

Se fosse assim aqui, Mancini não estaria no Corinthians, Ceni não assinaria com o Flamengo e Autuori não iria para o Athletico, depois de afirmar categoricamente que o Botafogo seria seu último clube da carreira.

Quanto mais um time troca de treinador, mais tempo leva para chegar ao alto nível em termos de conjunto. O jogo é mais coletivo do que era há 30 anos. Exige-se mais ensaio. Na temporada inglesa do ano passado, só sete técnicos caíram. Na Espanha, 10 em 38 rodadas. No Brasil, 26.

Onde os jogos são melhores? Não precisa reponder...

Só regras mais severas e limites sérios, como na Itália, farão nossa cultura se transformar. Cultura, não. Analfabetismo.

Nosso analfabetismo é funcional no futebol brasileiro, a ponto de um clube reclamar por não receber nem sequer um telefonema do Benfica e fazer o mesmo com o Fortaleza. A ponto de definirmos que os treinadores nascidos no Brasil estão superados, buscar o assistente de Guardiola na Espanha e demiti-lo depois de três meses apenas, com 64% de aproveitamento.

Pior: a demissão de Domènec Torrent foi unânime. Todos julgaram que a decisão mais correta era essa. Não pelos resultados, mas pelo desempenho pífio da defesa e pelas goleadas sofridas para Independiente del Valle, São Paulo e Atlético-MG.

Rogério Ceni tomou a decisão de subir no cavalo encilhado e tentar ir com ele até os títulos. Pode dar errado. Sua decisão é individual, e a correção dessa ciranda precisa vir da legislação. Urgentemente.

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