Descrição de chapéu Cinema

Sensação de 'déjà vu' domina novo filme do diretor polonês de 'Ida'

Pawel Pawlikowski repete em 'Cold War' formatos para narrar história de amor

A atriz Joanna Kulig em cena de ‘Cold War’, que concorre à Palma de Ouro - Divulgação

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Guilherme Genestreti
Cannes (França)

Vencedor do Oscar de filme estrangeiro por "Ida", o cineasta polonês Pawel Pawlikowski repetiu o rigor estético em "Cold War", que compete no Festival de Cannes. Mas não conseguiu livrar o novo rebento da sombra do antecessor bem-sucedido.

Quando as cortinas do cinema se descerraram na sessão de imprensa, na sexta (11), logo ficou evidente que o diretor voltaria ao mesmo formato de projeção quase quadrado que distingue "Ida".

Há diversas semelhanças, como o preto e branco e a composição precisa das cenas. As primeiras imagens de "Cold War" (guerra fria, em tradução livre) repetem também o contexto: uma Polônia que se reergue dos escombros da Segunda Guerra, agora sob o jugo do regime comunista.

Pawlikowski, 60, pega emprestado o nome de seus pais e o momento histórico em que eles se conheceram para contar o romance entre dois músicos, Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot), vindos de universos bem distintos.

Ele, mais velho, vaga pelo país registrando músicas folclóricas; ela é uma aspirante a cantora de presença magnética e passado misterioso.

À procura de talentos regionais em tempos nos quais o novo regime quer exaltar o homem do campo, Wiktor se encanta por Zula, mesmo sabendo que ela pode (ou não) ter matado o pai, que a estuprava.

O amor deles é narrado por meio de episódios ambientados em épocas e lugares distintos, legando ao espectador a tarefa de preencher vazios.

A narrativa elíptica, porém, pode explicar por que "Cold War" não consegue fazer com que o público sinta empatia pelo casal de protagonistas. Para o site especializado Indie Wire, por exemplo, trata-se de "uma das mais vazias histórias de amor já contadas".

Outro filme que concorre à Palma de Ouro deste ano também tem gosto de "déjà vu".

Com "Plaire, Aimer et Courir Vite" (agradar, amar e correr rápido, em tradução livre), Christophe Honoré vai ao mesmo cenário que o conterrâneo Robin Campillo trouxe ao festival no ano passado, em "120 Batimentos por Minuto": a Paris do começo dos anos 1990, quando a Aids ceifava a vida de gays franceses às dezenas.

Cena do filme 'Plaire Aimer et Courir Vite', de Christophe Honoré, em competição no Festival de Cannes 2018 - Divulgação

Se Campillo levava o tema para a arena política, com o grupo militante Act Up, Honoré fica em sua seara favorita, a dos impasses amorosos.

Jacques (Pierre Deladonchamps) é um escritor hedonista na casa dos 30 e poucos anos que mantém affaires com homens mais novos, mas tem horror a criar laços —é soropositivo e não quer um "último romance".

Mas ele topa com um efebo irresistível, um estudante de cinema de 22 anos e olhar melancólico, vinda da Bretanha —a região no noroeste da França, onde o direto nasceu, é outra de suas obsessões. Aí os planos de Jacques desandam.

Honoré afirma que quis prestar uma homenagem a ídolos da época em que ele também tinha seus 20 e poucos anos e se mudou para Paris. Há várias citações no filme ao dramaturgo Bernard-Marie Koltès, morto em 1989 em decorrência do HIV, mas também a Arthur Rimbaud, Jean Genet e outros "enfants terribles" de sexualidade ambígua da cultura francesa.

 

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