Cauteloso, 'Ferrugem' agrega nuances aos lados de uma história de bullying
Divisão da narrativa em duas partes impede que conflito seja polarizado entre vítima e algozes
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Crime e castigo, excesso e punição. Os temas clássicos são os caminhos escolhidos por Aly Muritiba em seu segundo longa de ficção, depois de estrear com força em "Para Minha Amada Morta".
A exposição desmesurada da intimidade, o modo viral de propagação nas redes sociais e a tomada de consciência de que a liberdade só é possível dentro de limites são temas que o diretor aborda de uma perspectiva que prioriza o significado moral.
Tal como em "Para Minha Amada Morta", Muritiba pisa nesse terreno movediço com cautela, evitando que questões morais dos personagens sejam reduzidas a ilustrações do discurso moralista simplista ou que acredita na pregação, como o praticado por José Padilha.
A divisão da narrativa em duas partes é uma opção que agrega nuances aos lados da história e impede que o conflito seja polarizado entre vítima e algozes.
Na primeira parte, a progressão do sofrimento de Tati é narrada da perspectiva da garota. O vazamento de imagens de sua intimidade e o bullying do qual se torna vítima são apresentados como o outro lado do discurso de que as redes sociais são uma ferramenta democrática.
A segunda parte acompanha os efeitos do caso em Renet, garoto com quem Tati ficou antes de ser sacrificada pelo moralismo dos colegas. A opção do diretor é narrar esse drama de consciência, mas sem estimular nossa identificação com o personagem nem permitir que adotemos uma distância acusatória.
Em ambos os casos, o efeito é a solidão, situação que Muritiba filma com acuidade, ressaltando aspectos da crença de que tudo pode ser solucionado pela expressão. Enquanto a primeira parte traduz os excessos da comunicação, na segunda, predomina o diálogo emperrado, interrompido ou bloqueado entre os personagens.
No universo adolescente que "Ferrugem" adentra, o mais assustador é o estado de abandono de seus personagens. Quando acusa, o filme transfere a culpa para a irresponsabilidade dos adultos, condensadas na figura do pai e professor interpretado por Enrique Diaz.
O filme só parece cauteloso demais quando comparado ao tratamento da mesma questão na primeira temporada da série "13 Reasons Why". Por ter sido exibida há mais tempo e por ousar representar os efeitos trágicos do bullying de modo mais incômodo, a série da Netflix bate mais forte.