Uma noite com Pedro Mairal
Protagonista, virgem e onanista de mão-cheia, ganha um sorteio para passar uma noite com uma atriz pornô
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Se você pretende acordar cedo e descansado, não leve “Uma Noite com Sabrina Love” para a cama. Pode lhe acontecer de atravessar a madrugada com o autor Pedro Mairal, responsável também por outro romance delicioso, o bem-sucedido “A Uruguaia”.
Daniel Montero tem 17 anos, mora com a avó em uma pequena cidade do interior da Argentina e trabalha num frigorífico –daí o seu apelido, Frango. Perdeu os pais em um acidente de carro e é obcecado por Sabrina Love, uma atriz pornô da televisão que enlouquece os fãs com sua corpulência e o abuso desta em posições bastante eróticas.
Mas o mais importante a dizer sobre Daniel é que ele, virgem, onanista de mão-cheia, caipira e sem um puto na carteira, ganhou um sorteio para passar uma noite com Sabrina e precisa chegar até Buenos Aires —mais precisamente a um quarto de motel em frente a um cemitério.
A estrada que pode levá-lo à sua primeira experiência sexual é a mesma que levou seus pais à morte. Impossível não pensar em Freud ao ler que quanto mais o protagonista se aproximava de sua primeira transa, mais “para trás” ficavam a cruz no local da tragédia e a casa da sua infância.
Todo o trajeto que Daniel enfrenta para se tornar grande (numa cidade grande) acaba perfurando outras castidades de seu corpo e de sua alma: é rejeitado, usado, roubado, enganado, sujo, ironizado, ferido, enrolado, alcoolizado e, maior de todas as porradas da vida, acaba experimentando também doses assustadoras de compaixão, ternura e até mesmo amor.
Durante minha rápida (intensa, íntima e ininterrupta) relação com as 146 páginas dessa saga (156, se você tiver a felicidade de ler o texto “Sobrinho de Bioy”, ao final do livro), não pude deixar de compará-la com outra igualmente viciante: “O Complexo de Portnoy”, de Philip Roth.
Contudo, Alexander é um personagem muito mais neurótico, engraçado, perverso e culpado. Além do que, diferente de Daniel, é um adulto em terapia narrando a própria adolescência e não um adolescente caladão sendo narrado por um adulto onisciente. Seria minha analogia meramente focada no quesito masturbatório das duas obras? Não. Penso que se Portnoy é a mente incansável, capaz de sacrifícios infindáveis e excruciantes para se livrar das urgências e vergonhas do desejo, o garoto sorteado para uma noite com a puta mais famosa do momento é a versão corpo deste mesmo homem. De todo e qualquer homem. De toda e qualquer mulher.
Alguns livros são feitos por autores que seriam doentes se não escrevessem. Artistas que nasceram para se livrar das histórias que os perseguem. Pessoas que claramente nasceram para o ofício. Alguns livros são feitos por “engenheiros racionais de palavras” que buscam uma espécie de “algoritmo panfletário” do momento para se sobressair ou ter, vaidosos que são, a profissão da escrita. Pedro Mairal, para a sorte de quem o descobre e se encanta, pertence ao primeiro exemplo (e também ao primeiro escalão dos literatos).
Erramos: o texto foi alterado
O nome do autor é Pedro Mairal, e não Marial, como constava em versão anterior. O texto foi corrigido.
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