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Descrição de chapéu África

Ativistas que resgataram obras africanas de museu francês vão a julgamento

Grupo que copiou cena de 'Pantera Negra' começou a ser julgado nesta quarta-feira em Paris

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Isabelle Chenu
RFI

Começou nesta quarta-feira (30) o julgamento de cinco ativistas que tentaram confiscar um poste funerário no Museu do Quai Branly, em Paris, na França, em junho. O grupo, que entrou no museu de antropologia, queria denunciar a "pilhagem da África". Agora eles pretendem usar seu julgamento como uma plataforma para defender a restituição das obras saqueadas durante a o período colonial.

Os cinco réus estão sendo processados perante o tribunal penal por "tentativa de roubo na montagem de um bem pessoal confidencial". A procuradoria pede uma punição de princípios, com pena de € 1.000 (equivalente a R$ 6.600) para o líder do grupo, Emery Mwazulu Diyabanza, e € 500 para os outros quatro participantes (R$ 3.300 mil).

Os cinco foram presos na instituição francesa em junho passado, depois de terem, em uma operação impressionante, pegado um posto funerário do Chade, do século 19, e feito um protesto pelos corredores do museu contra o que chamam de "roubo francês".

"Decidimos recuperar o que nos pertence. Esta propriedade foi roubada durante a colonização. Estamos saindo com nossa propriedade, vamos levar para casa", denunciou o grupo, na ocasião.

O julgamento terá sua decisão em 14 de outubro.

Enquanto aguardava o julgamento em liberdade, o ativista congolês Emery Mwazulu Diyabanza, de 41 anos, continuou suas ações. Ainda em junho, ele apresentou uma queixa por "roubo e ocultação" contra o Estado francês. Em 30 de julho, ele foi preso em Marselha depois de apreender, sozinho, um objeto de marfim do Museu de Artes Africanas, Oceânicas e Ameríndias.

Em 10 de setembro, ele tentou pegar uma escultura do Congo do Museu Afrika, na Holanda, onde foi preso e libertado depois de ficar oito horas sob custódia policial.

Cada uma das ações é filmada e publicada online por Emery Mwazulu Diyabanza, que se define como ativista panafricano a fim de agitar as redes sociais.

Em 2014, o congolês fundou o movimento Unidade, Dignidade e Coragem, ou UDC, que faz campanha pela restituição das obras. O ativista afirma ter "mais de 700 mil membros" espalhados pela Europa e África, mas sua conta no Facebook tem pouco menos de 30 mil assinantes.

O Museu do Quai Branly, que tem a principal coleção de arte africana primitiva, é um alvo importante nesta campanha. Seu presidente Emmanuel Kasarhérou acredita que "a questão das restituições" merece "um debate sério" que "não se enquadra bem nas tentativas de golpes midiáticos".

O museu está empenhado em "documentar a proveniência e origem de suas coleções", e é "com base neste trabalho" que é possível avançar na questão.

Emery Mwazulu Diyabanza se insurge contra a política francesa de restituição, "Macron reconhece o saque, mas é ele quem decide quantas obras são devolvidas e se deve ou não haver uma transferência de propriedade". "É um insulto para nós", afirma.

Três anos após o discurso feito em Ouagadougou, em Burkina Fasso, por Emmanuel Macron, em que o presidente francês dizia querer que a juventude africana tivesse acesso ao seu patrimônio, a restituição de objetos de arte tirados durante a colonização na África caminha a passos lentos.

O relatório dos acadêmicos Bénédicte Savoy e Felwine Sarr, apresentado em novembro de 2018, pedia a restituição extensiva de dezenas de milhares de objetos que chegaram à França durante a era colonial. Até agora, entretanto, apenas uma espada foi devolvida ao Senegal e 26 objetos serão devolvidos ao Benin no período de um ano.

Estes totens e cetros, roubados durante o saque do Palácio de Abomey pelas tropas coloniais em 1892, permanecem no museu de Paris até que um museu em Benin esteja pronto para os receber.

Três questões complicam a restiuição de obras –as mudanças nas fronteiras após a independência das colônias, que dificultam a atribuição de uma obra a um país, as condições de conservação das obras após a devolução, e o caso dos objetos de arte que "desaparecem" após serem devolvidos a seu país de origem.

Em vez disso, os funcionários do museu defendem a "livre circulação" para que os africanos possam ver as obras. Eles dizem que gostariam de organizar depósitos de longo prazo, empréstimos, exposições rotativas e assistência financeira para a renovação ou construção de museus.

Do lado dos colecionadores privados, o galerista Robert Vallois criou um coletivo de negociantes de arte para financiar o novo Museu de la Récade, em Benin, onde estão expostas obras africanas de suas coleções.

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