Quem for ao Pacaembu nesta semana vai se deparar, no estacionamento em frente à entrada do estádio, com duas pessoas esculpindo melancias em forma de cérebro. As "esculturas" em seguida ficarão expostas para venda numa barraca de frutas na tradicional feira livre que ali acontece.

O trabalho dos artistas Ana Dias Batista e João Loureiro faz parte da exposição ao ar livre "Arte em Campo", que vai ocupar a praça Charles Miller com instalações e esculturas que dialogam com o entorno, no caso, com os produtos vendidos pelos feirantes.

A performance na feira livre é, na verdade, um convite à entrada num outro tipo de feira. Dentro do estádio, um espaço inaugurado há pouco, o Pavilhão Pacaembu, vai abrigar entre quinta e domingo a primeira edição da ArPa, uma nova feira de arte com pretensões de entrar no calendário cultural paulistano ao lado da já tradicional SP-Arte e no rastro da estreia da Art Sampa, em março.

Junto com a ArPa acontece a Made, ou Mercado Arte e Design, que chega agora à sua décima edição com cerca de 80 galerias de mobiliário e objetos, tanto contemporâneos quanto vintage.

A ArPa surgiu a partir de demandas de galeristas feitas durante a pandemia, diz Camilla Barella, uma das diretoras da feira. Segundo ela, os marchands queriam um outro momento no ano para expor seus artistas, além das feiras SP-Arte e ArtRio, pontos-chave no calendário do país.

A ArPA reúne 50 galerias, entre poderosas como Raquel Arnaud, Almeida & Dale e Mendes Wood DM, e casas com poucos anos de mercado, como HOA e Periscópio, num evento voltado ao mercado nacional, com obras à venda a partir de R$ 5.000. Há três galerias estrangeiras –Kubik, do Porto, Ed Cross Fine Art, de Londres, e Isla Flotante, de Buenos Aires.

Com a chegada da ArPa, São Paulo contará neste ano com quatro feiras de arte no total, considerando as duas edições da SP-Arte e a Art Sampa, que teve sua primeira edição há três meses. Diante desse cenário, os eventos estariam competindo pelo dinheiro dos colecionadores?

"Existe um pouco essa dúvida. Será que o mercado aguenta isso? Mas acho que as feiras têm o papel de expansão, de facilitar os acessos, de quem já coleciona e aprecia mas também dos que querem iniciar. É um ambiente mais convidativo do que você tentar explorar independentemente as galerias", afirma Barella.

Ela lembra que metrópoles como Miami e Nova York têm dezenas de feiras, e que só uma feira de arte por ano em São Paulo —a SP-Arte— não fazia jus ao potencial de mercado da cidade e mesmo do país.

Para se diferenciar da concorrência, a ArPa pediu aos galeristas que mostrem menos artistas, até três por estande, numa tentativa de aprofundar o olhar dos visitantes. Outra peculiaridade é que a feira não conta com financiamento público, sendo integralmente custeada com patrocínios e a venda dos estandes para as galerias, enquanto a SP-Arte é parcialmente paga com dinheiro da Lei Rouanet.

O que se verá nas paredes é uma seleção de arte brasileira de ontem e de hoje, de acordo com os programas divulgados por nove galerias. A Periscópio vai levar pinturas de Marcone Moreira e Domingos Nunes, ambos com trabalhos que dialogam com a paisagem amazônica, além de uma mostra solo de Sebastião Januário, artista de mais de 80 anos que introduziu Abdias Nascimento na pintura.

A Gomide & Co terá uma série de telas surrealistas de Marcelo Cipis retratando ambientes internos. A Millan vai pôr as esculturas de José Damasceno em diálogo com os bordados da jovem Guga Szabzon. A Gisela Projects apresenta tapeçarias e pinturas da jovem Fernanda Feher. E a Casanova tem as obras algo brutas de Alexandre Brandão, artista que mistura galhos e parafusos em pequenas esculturas.

Num espaço ao lado da ArPa, a Made será organizada com uma cenografia que lembra um ambiente de museu, como se fosse uma grande exposição de design, e não com os expositores mostrando seus produtos em estandes individuais, conta Waldick Jatobá, o fundador e diretor da feira.

Segundo ele, a pandemia deu um gás no mercado de design de interiores, dado que, trancadas em casa por meses, as pessoas "pensavam em soluções que trouxessem mais harmonia, estética e acolhimento para seus espaços". Esta é a primeira Made presencial desde 2019.

A feira é voltada ao design autoral de estúdios brasileiros contemporâneos, mas também tem espaço para o móvel moderno das décadas de 1940 a 1970, uma febre entre os colecionadores.

De novidades, estarão expostas, por exemplo, poltronas e mancebos feitos com a curiosa junção de tapeçaria e metal, trabalho do trio curitibano Alex Rocca, Julyana Hilgenstieler e Nicole Salvatierra. O estúdio Carol Gay vai levar um vaso formado por um vidro soprado apoiado sobre dois paralelepípedos. Os cariocas do Zebulun apresentam um banco de madeira de demolição peroba do campo.

O mobiliário vintage estará representado pelas conhecidas galerias Teo e Verniz, por exemplo, que vendem peças originais de Joaquim Tenreiro, Jorge Zalszupin e Gregori Warwahchik. Um dos destaques deste setor será um exemplar do sofá "Moleca", peça de Sérgio Rodrigues inspirada na sua famosa poltrona Mole, em edição original feita com jacarandá e couro. "É um design com status de arte", resume Jatobá, falando sobre a Made.