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Filmes mostra de cinema

'Estômago 2' tem disputa entre mafiosos e oferece menos que o original

Sequência do sucesso de 2008 intercala subtramas que se dividem entre o Brasil e a Itália para divertir o espectador

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São Paulo

'Estômago 2'

Avaliação: Bom
  • Onde: Nos cinemas
  • Classificação: 18 anos
  • Elenco: João Miguel, Paulo Miklos, Nicola Siri
  • Direção: Marcos Jorge

Em matéria de cinema, o brasileiro não cansa de produzir paradoxos. Em 2008, "Estômago" conseguiu, com meros 90 mil espectadores, ser um sucesso de estima: lançou o diretor Marcos Jorge, consolidou João Miguel como um de nossos melhores atores, não desagradou o público popular e, sobretudo, surpreendeu pelo seu tema: a alimentação como modo de poder.

Agora, 16 anos após seu lançamento, surge a continuação, "Estômago 2". Voltamos à prisão onde o chefe Nonato, vivido por João Miguel, conseguiu feitos culinários tão inesperados quanto notáveis. Desta vez, no entanto, estamos numa coprodução Brasil-Itália, a cadeia divide o estrelato com a Itália e Nonato divide o estrelato com ninguém menos que a máfia, e a produção se enriquece muito para os nossos padrões.

Cena do filme 'Estômago 2: O Poderoso Chef', de Marcos Jorge - Divulgação

A ação se passa na Itália e no Brasil. Aqui, numa cadeia onde Etcetera, papel de Paulo Miklos mantém controle total sobre os demais presidiários, aparece o mafioso dom Caroglio, personagem de Nicola Siri. Etcetera e Caroglio disputarão a preferência do cozinheiro Nonato. E disputar Nonato significa, no caso, disputar o poder dentro do presídio.

Na Itália, ao mesmo tempo, rola uma disputa de poder no interior da família de dom Galante. Ele está à morte e tem sua filha Valentina como preferida, inclusive para a sucessão. Seu outro filho, Salvatore, não pretende ver a irmã ganhar essa parada. Aqui também a alimentação é foco de disputa tão central quanto a cocaína que o grupo esperava e não chegou. Na Itália, o restaurante tem influências brasileiras e o chefe é Roberto, o mesmo Nicola Siri, que se tornará namorado de Valentina.

Temos então tramas paralelas, uma se passando no Brasil e outra na Itália, ambas envolvendo cozinha e poder. É verdade que com isso Raimundo Nonato vê seu papel quase desaparecer. Ele vira mais um leva-e-traz entre Etcetera e dom Caroglio do que outra coisa. O interesse, aqui, gira mais em torno do modo de ser dos criminosos: o italiano tem uma linhagem criminal enorme atrás de si, enquanto o brasileiro, além do vocabulário meio limitado, carrega os usos e costumes de algo como o PCC. Quer dizer, não quer abrir mão de qualquer privilégio dentro da cadeia e lança mão de métodos tradicionalmente brasileiros: usa bem mais a violência do que o raciocínio.

As duas disputas, como se vê, retomam o mote do filme original: a proximidade entre alimentação e poder. A parte italiana trabalha em torno de clichês clássicos ou quase clássicos das atividades mafiosas, e sua novidade é a entrada em cena de uma mulher, Valentina, colocada no centro das atividades mafiosas. Uma novidade a não desprezar. A mãe do chefe Roberto também mostrará que não é boa só de conversa.

A parte brasileira trabalha em torno do duelo entre os dois métodos criminais (o italiano e o brasileiro) e tira boa parte de seu interesse da presença de Paulo Miklos.

No todo, as tramas paralelas deixam alguns buracos incômodos. Por exemplo: o que liga o mafioso dom Caroglio, no Brasil, ao cozinheiro Roberto, na Itália? São idênticos, com tudo para serem gêmeos, mas nada é desenvolvido a respeito. Qual o elo entre o mafioso Caroglio e os italianos referidos no filme? Talvez o "Estômago 3", caso venha a existir, resolva esse tipo de questão.

Por ora, o que temos é um filme capaz de divertir os espectadores sem ofendê-los, oferecendo-nos mais do que os filmes brasileiros para grandes audiências têm a oferecer —e que é, em média, bem pouco—, mas menos do que o "Estômago" original.

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