Associação de exportadores de grãos fala em paralisação por alta do frete

Diretor da Anec afirma que custos para o setor passarão de R$ 5 bilhões

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Roberto Samora
São Paulo | Reuters

Algumas empresas exportadoras de grãos do Brasil avaliam paralisar atividades se não forem tomadas medidas para acabar com uma tabela de fretes mínimos rodoviários que inviabiliza negócios e resulta em custos adicionais para o setor de pelo menos R$ 5 bilhões ao ano, disse Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais).

Os custos estimados foram elevados após um reajuste nos valores dos fretes da tabela na última quinta-feira (6). Segundo Mendes, a medida acrescenta grandes montantes numa conta que já era bilionária.

"Tem de resolver logo [essa questão da tabela], tem empresas dizendo que não vão assumir o passivo [do custo adicional], que vão parar tudo. Tem exportador tão preocupado que está pensando em parar, para não assumir um passivo incapaz de pagar", afirmou Mendes, ressaltando que exportadoras já trabalham com margens mínimas no mercado de commodities agrícolas.

O diretor-geral não detalhou quais empresas poderiam parar de operar. O Brasil é o maior exportador global de soja e tem sido o segundo em milho.

Mendes disse que nos últimos quatro anos as empresas do setor de grãos têm trabalhado com 1% de margem líquida, e afirmou que a tabela achata o resultado que já era mínimo. O setor de grãos movimenta dezenas de milhões de toneladas todos os anos.

O custo anual com o transporte rodoviário, o principal meio utilizado para levar as cargas até os portos exportadores, subiu de R$ 170 reais por tonelada de grãos para R$ 225 (após a tabela). Como novo reajuste, o valor vai para R$ 236 reais por tonelada. O da última quarta-feira se deu na esteira da alta de mais de 10% no preço do diesel.

"Estamos falando de um aumento de R$ 66 reais por tonelada no frete", disse ele, afirmando que isso leva em conta os custos para transportar as safras de soja e milho em rota do Centro-Oeste até Santos, sem considerar o chamado "frete retorno", cujo custo passou a ser incluído nos gastos pela lei que instituiu a tabela.

O setor, que considera a tabela inconstitucional, por ferir leis de mercado, já entrou com pedidos de anulação da lei no Supremo Tribunal Federal, que ainda não se posicionou sobre o assunto.

Segundo Mendes, o aumento de R$ 5 milhões representa 10% da balança comercial de grãos. "Como [o setor] vai absorver um negocio deste?", disse o diretor-geral da Anec sobre lei aprovada como parte de um pacote para liberar estradas bloqueadas por caminhoneiros em maio.

PERDAS PARA O MILHO

Segundo Mendes, o Brasil não pode esperar até o próximo ano ou até o próximo presidente para resolver esta questão.

No caso da soja, os embarques estão volumosos e devem ser recordes neste ano, até porque muitos negócios já estavam fechados antes da tabela —com a ajuda de preços elevados com a demanda chinesa para driblar uma tarifa imposta ao produto dos EUA, os embarques brasileiros ganharam impulso adicional.

Já no caso do milho, cujas exportações tendem a ganhar força no segundo semestre, os efeitos da tabela do frete vão reduzir embarques.

A Anec estima que o país deixará de exportar neste ano o equivalente a US$ 1,8 bilhão de milho, cujo frete rodoviário tem um peso maior no negócio, uma vez que o preço da tonelada do grão é menor do que o da soja.

"Tínhamos projeção de exportar 32 milhões de toneladas de milho este ano, e se chegar a 20 está muito bom. Essa diferença de 12 milhões de toneladas pode ser computada como perda".

No ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações de milho do Brasil somaram 29,2 milhões de toneladas, ou US$ 4,6 bilhões.

MULTAS

Nesta segunda-feira (10), a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) disse que estuda aplicar multa de R$ 5.000 por viagem àqueles que contratarem transporte rodoviário de carga com valor inferior ao disposto pela agência. A ANTT também avalia a aplicação de R$ 3.000 para quem anunciar ou intermediar a contratação de frete com valor inferior ao piso mínimo.

Essas propostas constam em documento que será debatido em audiência pública —aprovada para acontecer em 9 de outubro— cuja documentação foi apresentada nesta segunda-feira (10) pela ANTT.

O terceiro reajuste na tabela de frete aconteceu após as reclamações de caminhoneiros e ameaças de novas paralisações com a alta de até  14% no preço do diesel, anunciada pela Petrobras dia 31 de outubro. 

Com Agência Brasil

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