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Crise leva a corrida por dinheiro vivo, e moeda em circulação atinge patamar inédito

Aumento da demanda por recursos em espécie levou o Banco Central a lançar nota de R$ 200

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Brasília

A pandemia do novo coronavírus gerou uma corrida aos caixas eletrônicos e o aumento da demanda por recursos em espécie levou o Banco Central a lançar uma nota de R$ 200.

Desde o início da crise, a base monetária, que é a quantidade de dinheiro na economia, cresceu 39,7% e atingiu o maior patamar da série histórica (em 1991), com R$ 423,6 bilhões em julho.

A base é formada pelo papel-moeda em circulação ou depositado nas instituições financeiras, além das reservas bancárias. Ela tem flutuação diária.

No período da pandemia, o volume de dinheiro vivo nas mãos dos brasileiros aumentou 29,8% e chegou a R$ 272,9 bilhões.

Processo de fabricação e itens de segurança das cédulas de R$ 20 - Fernando Frazão/Folhapress

Para tentar suprir o aumento da demanda por cédulas, a autoridade monetária imprimiu 33% a mais no período.

Atualmente, são R$ 345,7 bilhões entre notas e moedas em circulação.

A cédula de R$ 200 deverá entrar em circulação no fim de agosto. A previsão é que sejam impressos 450 milhões das novas notas, o equivalente a R$ 90 bilhões.

As reservas bancárias –recursos das instituições depositados na autoridade monetária– também cresceram de lá para cá. Atualmente, são R$ 77,9 bilhões, 77% a mais que em fevereiro.

Historicamente, em momentos de crise, as pessoas preferem guardar dinheiro vivo. “Elas ficam com medo e sacam recursos para guardar. Já tivemos episódios, no passado, de confisco da poupança e quebradeira de bancos, por exemplo, o que gera essa memória de receio”, explicou o economista Paulo Feldmann, professor da USP (Universidade de São Paulo).

Para ele, entretanto, o principal motivo para a expansão da base monetária é o auxílio emergencial. “O pagamento do benefício fez com que a demanda por cédulas aumentasse muito. Muitos não têm conta em banco, então preferem sacar o dinheiro em espécie”, avaliou.

Para contabilizar o dinheiro em posse do público, o BC subtrai da quantidade de papel-moeda emitido o caixa do sistema bancário.

“O comportamento da base se dá em ciclos. Quando olhamos os dados, vemos que no primeiro dia do mês, por exemplo, há aumento da demanda por papel-moeda por causa dos pagamentos dos salários, mas esse dinheiro retorna aos bancos e ao BC com o consumo e quando as pessoas pagam suas contas. O auxílio emergencial quebrou esse ciclo porque não tem dia certo de pagamento”, justificou o economista-chefe da consultoria Análise Econômica, André Galhardo.

Segundo ele, o entesouramento (quando o dinheiro fica parado nas mãos das pessoas e não circula), também forçou o BC a imprimir mais dinheiro.

“Não sabemos quanto tempo vai durar a pandemia. Na tentativa de se resguardar, muitos ficam com os recursos em casa. Investimentos de renda fixa, como poupança, não rendem quase nada mais, o que incentiva esse comportamento também”, analisou.

O entesouramento já era uma preocupação da autoridade monetária antes da crise. Estudos da autarquia mostravam que cerca de 35% do dinheiro disponível na economia estava parado nas mãos dos brasileiros. O fenômeno gerou, em muitas ocasiões, falta de troco no comércio.

Com a pandemia, esse percentual aumentou. No início dos pagamentos do auxílio emergencial, a escassez de papel-moeda travou o benefício e o BC pediu que a Casa da Moeda adiantasse toda a produção contratada para o ano até julho.

A Caixa Econômica limitou os saques para incentivar que os beneficiários utilizem meios digitais para consumir e fazer pagamentos.

Quem recebe qualquer benefício pela conta digital da instituição precisa esperar alguns dias para retirar o dinheiro em espécie. Nesse período, é possível realizar compras em débito com o cartão virtual ou por QR Code.

INFLAÇÃO

O aumento da base monetária e a criação da nota de R$ 200 reacendeu a discussão sobre os efeitos inflacionários das medidas.

O mercado prevê, de acordo com o relatório Focus do BC desta semana, inflação de 1,63% no fim de 2020, abaixo da meta de 4%, com tolerância de 1,5 ponto para baixo ou para cima, fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

“Não há que se falar em inflação em cenário de atividade retraída e falta de demanda. Além disso, a pandemia trouxe perdas salariais importantes, além do desemprego. As pessoas não consomem sem dinheiro”, salientou Galhardo.

“Os mais velhos têm memória de hiperinflação [vivida na década de 1980]. Naquela época falava-se que um dos motivos do aumento desenfreado de preços era porque o governo estava imprimindo dinheiro, então criou-se essa cultura”, lembrou Feldmann.

Ele ressaltou, no entanto, que não há risco de alta na inflação no médio prazo. “Primeiro porque a base monetária do Brasil é muito pequena em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], se comparada com a de outros países. Segundo porque vimos países desenvolvidos ampliarem a oferta de dinheiro na economia sem que isso gerasse inflação”, ponderou.

O economista disse acreditar que, depois da pandemia, com a diminuição da demanda por dinheiro vivo, o BC conseguiria recolher as cédulas e enxugar a base, se necessário. “Diferentemente de países que viram o poder de compra ser corroído pela abundancia de papel-moeda em circulação, o Brasil monitora bem esses recursos”, destacou Feldmann.

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