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Coronavírus

Crise na saúde continua, estabilidade dos mercados ressurge e ganhos do 1% aumentam

Pandemia trabalha de forma muito desigual e alguns poucos estão obtendo lucros volumosos

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Gregorio Vidal
Latinoamérica21

As informações sobre a pandemia continuam a ser deprimentemente negativas. O número de pessoas contagiadas superou a marca dos 21 milhões e o de óbitos se aproxima rapidamente dos 800 mil. A epidemia existe com força nos cinco continentes, e alguns países vêm apresentando alta notável no número de contágios e mortes; outros estão enfrentando sérias dificuldades para conter o ressurgimento dos contágios.

Na Nova Zelândia, que passou mais de 100 dias sem registrar contágios novos, surgiu um novo surto em Auckland que levou o governo a aplicar uma vez mais o nível mais severo de "lockdown" na cidade, que concentra 36% dos moradores do país.

Ainda que já tenham se passado mais de 160 dias desde que o primeiro caso foi detectado, o alto número de novos contágios registrado em diversos países é um indicador de que a epidemia permanece. Tanto pela retomada dos contágios quanto pelo ímpeto que a doença mantém, é possível que os contágios se estendem a novas áreas da geografia mundial, ou retornem a algumas delas.

Até o momento, a única opção para o controle da pandemia são medidas de confinamento social, que evitam aglomerações, sobretudo em lugares fechados, e isso afeta fortemente o desempenho das atividades econômicas.

Diante dessa cenário, e partindo do ponto de vista de que a Covid-19 é simplesmente um choque externo, em muitos países a escolha foi continuar aplicando, em graus diferentes, as medidas de confinamento social, à espera da produção de uma vacina. Essa é um tema que vem afetando a situação econômica e política.

Contar com a vacina é, para alguns países, um sucesso que demonstra sua força institucional. Em outros é uma atividade conduzida pelas grandes companhias farmacêuticas e de biotecnologia. É uma corrida que inclui apoio governamental, assinatura de contratos por governos estabelecendo compromissos de pagamento, e outras medidas destinadas a algumas empresas específicas, e que influenciam o desempenho das ações dessas empresas nos mercados.

Um exemplo é a Moderna Inc., cujas ações vêm subindo desde o dia 23 de março por conta da expectativa de desenvolvimento de uma vacina, e que recentemente ganhou impulso ainda maior por conta de um contrato com o governo dos Estados Unidos para a entrega de 100 milhões de doses de vacina. De acordo com a companhia, ela recebeu recursos da ordem de US$ 2,48 bilhões, entre os quais pagamentos pela entrega oportuna do produto.

A Astrazeneca, que está colaborando com a Universidade de Oxford, também assinou contratos de venda com os governos da Holanda, Alemanha, França e Itália. A companhia vem registrado resultados muito favoráveis nas bolsas desde o dia 19 de março.

A alta no valor das ações de companhias farmacêuticas e de biotecnologia nos últimos meses não é excepcional. Nos Estados Unidos, os mercados de ações passaram por alta sustentada durante todo o ano de 2019, e até 19 de fevereiro de 2020. De lá até o dia 23 de março, aconteceu uma queda considerável.

O índice Standard & Poor’s 500 (S&P 500) sofreu queda de 34% nesse período. Os índices Nasdaq 100 e DJ30 passaram por quedas semelhantes. Mas depois disso começou uma recuperação sustentada, de tal ordem que o S&P 500 está a ponto de atingir um recorde histórico e o Nasdaq 100 fechou em 14 de agosto com alta de 14,9% ante o dia 19 de fevereiro, e em uma alta histórica.

Em outros importantes mercados de ações, o comportamento é semelhante. O Fundo Monetário Internacional (FMI) destacou, na atualização de junho de seu Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial, que, depois de cair de forma recorde em março, os mercados de ações haviam se recuperado e retornado, em média, a 85% da cotação que detinham na metade de janeiro.

A mudança não pode ser explicada sem levar em consideração as decisões dos principais bancos centrais, o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, e o Banco Central Europeu (BCE). O ponto de partida foi manter ou baixar as taxas de juros.

A isso se somou a adoção de medidas para injetar liquidez no sistema bancário e financeiro, entre as quais novas rodadas de compra de ativos, linhas de crédito recíprocas denominadas em dólares dos Estados Unidos, e outros mecanismos concebidos para salvaguardar os intercâmbios de títulos de dívida.

O Fed, além de comprar títulos de dívida federais, passou a adquirir títulos de dívida municipais, títulos caucionados por ativos hipotecários e títulos empresariais. O BCE também iniciou um amplo programa de aquisição de títulos de dívida. Os bancos centrais se comprometeram a manter essas medidas e não há data prevista para seu abandono.

É um cenário de desconexão entre o comportamento dos principais mercados financeiros, que reportam ganhos, e o restante das atividades econômicas, notoriamente negativas. No terreno financeiro, a recuperação no preço das ações de muitas empresas não apresenta relação com o desempenho delas, com seus números de vendas e com o desempenho da economia mais ampla. E, nas empresas com resultados positivos, os ganhos dos principais acionistas são notoriamente elevados.

De acordo com o Institute for Policy Studies, com base em dados da revista Forbes, o patrimônio dos americanos com ativos de mais de US$ 1 bilhão cresceu em US$ 685 bilhões entre 18 de março e 5 de agosto, uma alta de 23,8% em menos de seis meses. A crise trabalha de forma muito desigual e alguns poucos estão obtendo lucros volumosos, amparados nas políticas executadas pelos bancos centrais.

Gregorio Vidal é professor e pesquisador titular do departamento de Economia da Universidade Autônoma Metropolitana, na unidade de Iztapalapa, México. Diretor da área de pesquisa de Economia Política. É doutor em estudos latino-americanos (ciências políticas) pela UNAM.

www.latinoamerica21.com, um projeto plural que difunde diferentes visões sobre a América Latina.

Tradução de Paulo Migliacci

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