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EUA mudam meta de inflação, e Brasil pode ser favorecido se mantiver disciplina fiscal

Banco central americano cria meta média de inflação e amplia o foco no emprego

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São Paulo

O Federal Reserve (banco central dos EUA) anunciou uma mudança no seu sistema de metas de inflação para tentar levar os Estados Unidos de volta ao pleno emprego e conduzir o índice de preços a níveis mais elevados, em um mundo no qual inflação fraca, juros baixos e crescimento lento parecem ter vindo para ficar.

O anúncio não teve grande impacto no mercado financeiro, mas pode ajudar o Brasil a manter os juros baixos por mais tempo, desde que outros fatores não obriguem o Banco Central brasileiro a subir a taxa, como as preocupações com a questão fiscal.

Nos EUA, o Fed persegue uma meta de inflação de 2% sem o intervalo de tolerância utilizado pelo BC brasileiro. A instituição americana também tem entre seus objetivos garantir o pleno emprego.

"Nosso comunicado revisado reflete nosso reconhecimento dos benefícios de um mercado de trabalho forte, particularmente para muitas comunidades de baixa e moderada renda, e que um mercado de trabalho robusto pode ser sustentado sem causar um aumento indesejado na inflação", disse o presidente do Fed, Jerome Powell.

A nova regra, aprovada por todos os 17 membros do banco central dos EUA, buscará alcançar inflação de 2% em média ao longo do tempo, compensando os períodos abaixo de 2% com inflação mais alta "por algum tempo".

Segundo o Fed, os riscos negativos ao emprego e à inflação aumentaram. Com dezenas de milhões de pessoas desempregadas por causa da pandemia do coronavírus e com a campanha para a eleição presidencial de 3 de novembro em andamento, a transformação do Fed na forma como administra a política monetária pode resultar na manutenção de taxas mais baixas por mais tempo do que o esperado anteriormente.

Nos últimos dez anos, a inflação americana ficou praticamente o tempo todo abaixo da meta. Com isso, há o risco de que as expectativas também caiam, o que reduz a taxa real de juros (taxa menos inflação) e o estímulo da política monetária, segundo o economista-chefe da Mauá Capital, Alexandre Ázara.

Ele afirma que a mudança anunciada pelo Fed já era esperada pelo mercado e não altera o que o banco já vinha tentando fazer na prática.

"Isso muda muito pouco para nós. O que está determinando a política monetária no Brasil é se a gente vai ou não furar o teto [de gastos]. Se furar o teto, os juros vão subir mais cedo."

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que anúncio praticamente não alterou a curva de juros americana, que indica três aumentos de 0,25 ponto percentual na taxa em um período de cinco a dez anos. "É uma adaptação, mas dentro do sistema de metas. Outros bancos centrais também buscam melhorar a eficiência da política monetária."

Ele afirma que os juros nos EUA vão ficar muito baixos por um bom período e que outras regiões, como Japão e Europa, também já tinham dificuldade de conduzir a inflação para a meta. "Então você pode até ser leniente com ela em um processo de aquecimento da atividade."

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, diz que a sinalização de que os juros nos EUA vão ficar baixos por mais tempo contribui para que o Brasil não tenha pressão de diferencial de taxas por um período maior.

"Eles vão aceitar uma inflação maior nos próximos anos. Vão focar mais na busca do pleno emprego do que na meta de inflação. Estão dando condições externas para que outros bancos centrais também não precisem subir os juros tão cedo, mas, no Brasil, você tem toda a questão fiscal."

O professor Guilherme Ribeiro de Macêdo, da UFRGS, diz que o Brasil não poderia promover uma mudança dessas no seu sistema. "Não temos o mesmo histórico de bons pagadores que eles e não podemos abrir mão de controle de inflação."

Com Reuters

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