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Pandemia terá reflexos incontornáveis e exige pensar o impensável

'Três Pragas do Vírus', livro do colunista da Folha Vinicius Torres Freire, apresenta reflexões sobre os impactos do novo coronavírus

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São Paulo

A experiência decorrente da pandemia do novo coronavírus, talvez de forma menos dramática do que profetizam alguns e mais significativa do que gostariam outros, terá reflexos incontornáveis no futuro de diversos campos da atividade humana. O quadro pode não estar pronto e emoldurado, mas redesenhos já parecem esboçados em áreas relevantes, como a macroeconomia e o mundo do trabalho.

Esses são dois dos temas de “Três Pragas do Vírus”, livro de Vinicius Torres Freire, jornalista e colunista da Folha, que tem como subtítulo “Política Internacional, Dívida e Desemprego na Pandemia”. Disponível a partir desta quarta (26) em edição digital e no início de setembro na versão impressa, o volume faz parte de coleção da editora Todavia (Ensaios sobre a Pandemia) voltada a produção de obras breves com reflexões sobre os impactos da Covid-19.

Mesmo menos pressionados pelas urgências cotidianas da imprensa, são escritos a quente, com os riscos inerentes da proximidade dos fatos. Torres previne-se bem dos possíveis acidentes de percurso com uso de boa técnica jornalística e acadêmica. Em seus “ensaios jornalísticos”, como os designa, recorre a um amplo arco de referências teóricas e historiográficas para contemplar a complexidade dos temas em suas variadas facetas.

Plenário da Câmara durante sessão - Najara Araujo - 25.ago.2020/Câmara dos Deputados

O autor não se furta, contudo, a acrescentar ao esforço explicativo equilibrado opiniões sobre caminhos possíveis para enfrentar dilemas que a esta altura estão delineados.

É o caso, em especial, do texto sobre dívida pública, que se desdobra numa discussão acerca das diversas prescrições em disputa com vistas a retirar o Brasil do atoleiro do baixo crescimento econômico e da vulnerabilidade social.

O pressuposto é que uma série de situações tidas há pouco como “impensáveis”, ao menos pela vertente econômica dominante, tornaram-se fatos e produzem efeitos observáveis, que não podem ou não deveriam ser ignorados à maneira dos avestruzes. A ideia, por exemplo, de que gastos massivos do Estado e o rápido aumento da relação entre dívida pública e PIB seriam a antesala do apocalipse, senão o próprio, é confrontada com a evidência de que essas são realidades precipitadas pelas urgências da pandemia no mundo e no Brasil —e não serão rebobinadas ao fim do ciclo para que retornemos incólumes à “normalidade” perdida.

Não se trata, ressalve-se com ênfase, de minimizar a cautela fiscal ou enveredar por fantasias expansionistas irresponsáveis, mas de constatar que pensar o impensável é uma tarefa posta por esses tempos contagiosos.

No ensaio, após detalhada exposição dos múltiplos ângulos do imbróglio da dívida, dos juros, do investimento, dos gastos e do papel do Estado, Torres esboça propostas que procuram combinar o que haveria de mais razoável em concepções sobre a economia que se apresentam costumeiramnte como antagônicas e inconciliáveis.

Inglória que possa ser, a tentativa de organizar uma “composição coerente” de proposições e quebrar a polarização sectária em favor de uma racionalidade assentada na análise dos processos em curso nos leva, na perspectiva do autor, a reconfigurar aspectos relevantes das apostas teóricas e políticas feitas nos últimos anos —cujos resultados revelam-se um tanto decepcionantes.

Essa espécie de geringonça da política econômica, que de algum modo se insinuou no primeiro mandato de Luis Inácio Lula da Silva, se mostraria plausível no novo contexto pós-pandêmico —no qual fronteiras então proibidas foram ultrapassadas e conflitos distributivos e sócio-econômicos tendem a se acirrar.

Em linhas gerais —e resumidas— sugere-se mudança na composição dos gastos, que ora achata despesas que podem aumentar a eficiência da economia, como investimento e pesquisa; recomposição de despesas e receitas com vistas à redução de desigualdades; mudança de regras fiscais para permitir a elevação imediata dos investimentos, sob regulação de autoridade fiscal independente; e definição de uma perspectiva desejável, porém pragmática, de crescimento, que leve em conta a interação entre iniciativa privada e atuação do Estado.

Um omelete que não será feito sem que se quebrem ovos e se desafiem tabus, alguns, aliás, recentemente erigidos, como são as restrições constitucionais ao teto de gastos —cuja revisão, espera-se que criteriosa, terá de ser feita, gostem ou não seus guardiões ortodoxos.

São também proveitosos e de boa leitura os dois ensaios que complementam o livro.

O primeiro, em torno de questões internacionais é recheado de menções culturais e históricas às pestes que acossam há milênios a humanidade, geridas com frequência de maneira leviana —como ainda hoje acontece nos governos negacionistas (mas não só) e na inércia da cegueira institucional.

O texto final, que se articula de modo mais estreito às considerações sobre macroeconomia, trata das mudanças profundas no cenário do trabalho, que têm como tótem a figura do entregador de aplicativos —essa nova forma do capital pós-industrial de revisitar padrões selvagens da revolução que teve início no século 18 na Inglaterra.

Mantendo prudente distância do fetiche fiscalista e das bravatas demagógicas, com texto fluente e didatismo calibrado, “Três Pragas do Vírus” é um oportuno alimento para este início de conversa sobre como enfrentar as intempéries que já estão no horizonte.​


Lançamento será em live nesta quinta

A live de lançamento do livro é nesta quinta (27), às 19h30, no canal da Todavia no YouTube (youtube.com/todavialivros). O colunista da Folha e escritor Vinícius Torres Freire, autor de “Três Pragas do Vírus: Política Internacional, Dívida e Desemprego”, conversa com Paulo Lima Galo, líder do movimento dos entregadores dos aplicativos, e a jornalista Daniela Lima, apresentadora da CNN Brasil. O livro em formato ebook já foi lançado. No dia 10 de setembro, estará à venda em papel.

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