Após barreiras, advogada se especializa em área de conflitos e é contratada por câmara de arbitragem
Haydée Paixão Soula conta que barreiras para entrar no sistema acabaram a motivando a entendê-lo melhor
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A advogada Haydée Paixão Soula, 32, já havia desistido há muito tempo de trabalhar para instituições de grande porte na área do Direito ou escritórios famosos de advocacia.
As barreiras que a profissão impõe a quem tem a cor da pele de Haydée –cuja mãe é brasileira, negra, e o pai é argentino, branco,– começaram a ser sentidas por ela logo no início da faculdade.
“Cursei Direito na PUC-SP, uma faculdade de elite. Foi uma trajetória marcada pelo racismo”, diz ela, que nasceu e cresceu na periferia de São Paulo.
“Às vezes, um colega perguntava: ‘Você conhece fulana’? Eu respondia: ‘Não, por quê’? E ouvia: ‘Porque você se parece muito com ela, ela é minha empregada doméstica’”, disse.
“Durante a faculdade, pensava em tentar trabalhar em algum escritório grande, mas minhas poucas amigas negras que estavam nesses ambientes narravam episódios de racismo que sofriam, como pedidos para alisar os cabelos”.
Haydée diz nunca ter se intimidado. Sempre se posicionava e participava das aulas de retórica, mas ouvia risinhos de deboche nesses momentos.
“Fui a única advogada negra do meu ano de formatura, quando começou a terminar o elitismo agudo na PUC”, conta Haydée, que estudou com financiamento do Fies.
Haydée conta que as barreiras para que ela entrasse no sistema acabaram a motivando a entendê-lo melhor.
“Comecei a advogar por conta própria, o que me deu a oportunidade de transitar em quase todas as áreas do Direito, e decidi que a melhor forma de me fortalecer era continuar estudando em paralelo”.
Haydée cursou, então, uma segunda graduação em Ciências Socias, na USP, e frequenta, atualmente, o mestrado em Antropologia, também na universidade estadual.
“Comecei a compreender melhor o racismo estrutural. Descobri, por exemplo, que a Justiça brasileira, com pouquíssimos juízes e desembargadores negros, é uma das maiores perpetuadoras da discriminação no país”.
O principal tema de estudo de Haydée passou a ser o direito sistêmico, área que envolve soluções alternativas para resoluções de conflito.
Essa trajetória acabou a levando aonde ela não esperava.
Recentemente, a advogada foi procurada para participar de um processo de seleção do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá.
“A área de recursos humanos me encontrou pelo LinkedIn”, diz Haydée.
“Foi uma surpresa para mim” afirma ela, que acabou sendo contratada como advogada da instituição.
A CAM-CCBC, maior centro de resolução privada de conflitos do Brasil e da América Latina, tem arbitrado alguns dos principais litígios do país. Presidido desde 2019 pela advogada Eleonora Coelho, a instituição tem tentado aumentar sua diversidade interna.
“Existe um mito de que não há profissionais negros preparados para assumir postos como esse, mas não é verdade. Eles existem, são muitos, só estavam invisíveis, esperando uma oportunidade”, diz Eleonora.
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