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Banco Central vê pressão inflacionária e suspende ciclo de cortes da Selic

Pela primeira vez desde a chegada do vírus ao país, o colegiado avaliou que a inflação deve se elevar no curto prazo

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Brasília

Conforme sinalizado ao mercado na reunião anterior, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) a 2% ao ano nesta quarta-feira (16).

Pela primeira vez desde a chegada do novo coronavírus ao país, o colegiado avaliou que a inflação deve se elevar no curto prazo.

"Contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade", segundo o comunicado do comitê.

"As diversas medidas de inflação subjacente permanecem abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária. "

O Copom destacou, na decisão, que permanecem fatores de risco para a inflação em duas direções. A queda da atividade econômica puxa a inflação para baixo, principalmente com maior tombo no setor de serviços.

"Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional."

Entretanto, políticas fiscais de enfrentamento à Covid-19 e possível frustração na continuidade das reformas podem elevar o risco e empurrar a inflação para cima.

"Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco", colocou.

O BC citou ainda uma "assimetria ao balanço de riscos" ocasionada por programas de crédito e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, que podem gerar inflação.

"[Os programas] Podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", explicou.

​Nos últimos dias, o risco inflacionário voltou a ganhar atenção após o governo zerar, na semana passada, o imposto de importação do arroz para ajudar a reduzir a pressão do alimento no índice de preços.

Além disso, o mercado aumentou a expectativa de inflação para 2020. Segundo o relatório Focus do BC de agosto, a expectativa era de 1,64%.

Nesta semana, a projeção subiu para 1,94%, mas ainda abaixo da meta de 4%, com tolerância de 1,5 ponto para baixo ou para cima, fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Ainda assim, analistas ouvidos pela Bloomberg previram a manutenção da taxa, como indicado pelo comitê na reunião anterior.

A Selic é um dos instrumentos usados pelo BC para controlar a inflação. Quando o índice está alto, a autoridade monetária sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços.

Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o BC frisou que se trata de uma elevação temporária nos preços e, por isso, não deve mudar os rumos da política monetária.

"É um cenário transitório e em um setor [alimentos] pouco sensível à política monetária. Por mais que se altere a Selic hoje, o preço do arroz vai continuar o mesmo, é mais associado à renda e ao clima", explicou o analista.

O superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander, Maurício Oreng, disse acreditar que o BC não adotou tom alarmista com relação à inflação no curto prazo. "Na minha leitura, a autoridade monetária fez um reconhecimento. Há uma meta de inflação a perseguir e movimentos atípicos devem ser mencionados", afirmou.

O Santander projeta que a Selic deve terminar 2020 e 2021 a 2%. "Tudo depende das decisões fiscais do governo. O BC deixou bem claro que há essa preocupação", ressaltou Oreng.

Para Breno Martins, economista da MAG Investimentos, a decisão veio em linha com o esperado. "o BC manteve o entendimento de que a inflação segue confortável e que o principal risco reside no quadro fiscal", destacou.

De acordo com o comunicado, no cenário híbrido, com a taxa de juros a 2% a.a. em 2020, 2,5% a.a. em 2021 e 4,50% a.a. em 2022, e o dólar constante a R$ 5,30, as projeções do Copom para a inflação são de 2,1% para 2020, 2,9% para 2021 e 3,3% para 2022.

Já no cenário com taxa de juros constante a 2% a.a. e taxa de câmbio constante a R$ 5,30, as projeções para a inflação são de torno de 2,1% para 2020, 3,0% para 2021 e 3,8% para 2022.

A indicação do comitê para a próxima reunião permaneceu a mesma da reunião passada, em agosto, quando a autoridade monetária sinalizou que o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houvesse, seria pequeno e seria feito de forma mais gradual.

Assim, o BC indicou que a taxa continuaria no mesmo patamar nas próximas reuniões, mas deixou espaço para ajustes, que seriam feitos de forma intercalada e de 0,25 ponto.

O Copom ressaltou que a retomada das atividades nos países desenvolvidos trouxe alívio no cenário externo, especialmente para os emergentes.

O texto, no entanto, mostrou preocupação com o fim das medidas emergenciais do governo e os desdobramentos na economia.

"Contudo, há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia da Covid-19", ponderou no comunicado.

"A incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", completou.

Na ata da reunião de agosto, o BC destacou que, considerando o longo histórico de taxas de juros em nível muito elevado, a Selic mais baixa pode comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos. A mensagem foi reforçada na decisão desta quarta.

O documento esclareceu que Copom passou a usar o chamado “foward guidance”, ou prescrição futura, como instrumento de política monetária.

Com isso, o BC pretende diminuir a especulação em torno da taxa básica de juros futura. Em diversas ocasiões, no entanto, a autoridade monetária não conseguiu cumprir o sinalizado no comunicado anterior.

Antes da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, a autoridade monetária havia indicado, em fevereiro, que a taxa ficaria em 4,25% ao ano nas reuniões seguintes.

O BC retomou o ciclo de queda da Selic com a deterioração do cenário econômico. De lá para cá, os juros caíram em todas as reuniões.

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