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Com pandemia, empresas jogam fora velhos livros de regra e inovam

Na economia de hoje, maior risco não são os erros, e sim o fracasso em mudar de direção quando o cenário se altera

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Reed Hastings

Fundador e copresidente-executivo da Netflix, autor de "A Regra é Não Ter Regras - A Netflix e a Cultura da Reinvenção" (Intrínseca), em coautoria Erin Meyer

A Covid-19 forçou o mundo a se adaptar de formas inesperadas, incluindo novas regras sobre onde trabalhar e o que vestir. Quando a pandemia terminar, não sabemos quais serão seus efeitos a longo prazo.

Mas, com milhões de pessoas trabalhando em casa, uma mudança que a crise pode ter é em favor de uma abordagem menos controlada e burocrática do trabalho que permita que as empresas se adaptem mais rapidamente enquanto dão mais autonomia e flexibilidade a seus funcionários.

Isso é algo que temos praticado por mais de duas décadas na construção da Netflix, pois nos reinventamos de enviar DVDs pelo correio para o streaming e, mais recentemente, do licenciamento de séries e filmes para nossas próprias produções.

A capacidade da Netflix em competir em uma indústria que passa por mudanças profundas contra concorrentes maiores e mais consolidados está ligada à quantidade incomum de independência que temos dado às pessoas em todos os níveis da empresa.

Nós chamamos isso de "liberdade com responsabilidade". Em outras palavras, encorajamos as pessoas que trabalham na Netflix a pensarem por si mesmas –em vez de fazer o que seus chefes supõem ser certo. Para que isso aconteça, eliminamos as políticas em torno de despesas e viagens, horário de trabalho obrigatório e período de férias.

Quando fundamos a empresa, não nos propusemos a eliminar especificamente todas essas regras, mas sim a incentivar os funcionários a assumir riscos, visto que eles têm uma participação importante no negócio. Pelas mesmas razões, disponibilizamos internamente todos os tipos de informação confidencial que muitas empresas mantêm em segredo –como contratos ou como nosso negócio está funcionando no dia a dia.

Assim, em março, quando muitos países entraram em "lockdown", nossas equipes mudaram milhares de funcionários e parceiros em áreas como atendimento ao cliente, animação, efeitos visuais e dublagem para o trabalho remoto –tudo isso sem ter que checar comigo ou com a liderança.

Não é que não estivéssemos disponíveis para dar conselhos, mas sim que essas equipes tiveram a liberdade de exercer seu julgamento. Ainda não aconteceu, mas acredito que o trimestre mais bem-sucedido que eu poderia ter como presidente-executivo é aquele em que eu não tomo uma única decisão.

Há mais de 200 anos, a Revolução Industrial levou a uma série de surpreendentes avanços tecnológicos que tornaram possível a fabricação em escala pela primeira vez.

O objetivo para a maioria das empresas era a produção em massa com a menor variação e o menor número possível de erros no produto final –fossem automóveis, roupas ou aviões. O modelo depende de uma tomada de decisão hierárquica reforçada por regras e processos para eliminar erros.

Mas, na economia criativa de hoje, a prioridade é inovação, velocidade e agilidade. O maior risco não são os erros; é o fracasso em inventar novos produtos ou mudar de direção quando o cenário se altera.

Mas a inovação é, por natureza, um processo de tentativa e erro. Geralmente não se faz progresso sem falhar. É por isso que tantas empresas falham quando a tecnologia se transforma. A Nokia não viu o smartphone chegando. A AOL não impulsionou a mudança da internet discada para a banda larga. E a Blockbuster não conseguiu passar do domínio de DVDs para o streaming.

Nossa abordagem dos negócios pode parecer radical. E você não pode tirar controles e processos para estimular a inovação e a tomada de riscos sem antes garantir que você tenha as pessoas certas. Mas, uma vez que o faça, por que gerir aqueles funcionários que abusam de suas despesas ou não trabalham no melhor interesse da empresa, quando os benefícios para a maioria ao serem tratados como adultos são enormes? Não temos código de vestimenta, mas ninguém escolhe vir trabalhar pelado.

Olhando para o que ocorreu durante a pandemia, é claro que já há uma mudança acontecendo –com empresas jogando fora velhos livros de regras, descobrindo como ser produtivos com seus funcionários fora do escritório ou como mudar rapidamente suas vendas on-line.

Dados os enormes recursos que estão sendo investidos por governos e empresas farmacêuticas e a colaboração com pesquisadores, a perspectiva de uma vacina para a Covid-19 é boa. A recuperação, espera-se, não está distante.

Como podemos tirar algum proveito dessa tragédia para restaurar as economias e impulsionar a inovação? Olhando para trás nas últimas duas décadas, não há de fato um retorno ao normal após uma crise. A história mostra que novas mudanças, muitas vezes desconfortáveis, persistem, mas levam a novas oportunidades e crescimento.

Por exemplo, o ecommerce explodiu na Ásia durante a epidemia de Sars de 2002, quando as pessoas estavam em quarentena.

A economia compartilhada, com empresas iniciantes como Uber e Airbnb, decolou após a crise financeira de 2009, quando as pessoas estavam procurando novas fontes de renda muito necessárias.

Enquanto esperamos por um futuro mais seguro e menos desafiador, podemos talvez encontrar as regras de crescimento e sucesso reescritas novamente –e menos delas.

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