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Retomada no Brasil não será em V e deve perder ritmo no 4º trimestre, diz BNP Paribas

Banco avalia que inflação não preocupa e vê Selic a 2% até pelo menos final de 2021

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São Paulo

A recuperação da economia brasileira não será em V, como tem propagado o ministro da Economia Paulo Guedes, avalia o banco francês BNP Paribas.

Segundo Gustavo Arruda, economista chefe do banco, o terceiro trimestre poderá dar essa impressão, quando é esperada alta forte do PIB, após queda de 9,7% no segundo trimestre, mas a partir do quarto trimestre a retomada deve perder ritmo, com o início da retirada dos estímulos fiscais de combate à pandemia no Brasil.

Na visão do banco, também as eleições americanas devem trazer volatilidade aos mercados globais no fim de ano, prejudicando o crescimento da economia mundial e dos países emergentes. O cenário básico do BNP é de que o democrata Joe Biden seja eleito, mas com um processo conturbado, com acusações de fraude por parte de Donald Trump.

O BNP Paribas revisou nesta quinta-feira (10) sua estimativa para o desempenho do PIB brasileiro em 2020 de uma queda de 7% para recuo de 5%.

Conforme Arruda, o fator determinante na melhora da projeção foi o desempenho melhor do que o esperado da economia do país no segundo trimestre, com a recuperação da atividade se iniciando em maio –quando era esperada pelo banco apenas para junho.

“A explicação dessa surpresa é a política fiscal”, avaliou Arruda, em coletiva de imprensa para apresentar a revisão de cenário do banco.

“Nosso cenário era de um coronavoucher com duração de três meses, talvez cinco já com redução de valores e um custo de 2,5% do PIB. Hoje vemos que ele vai custar 5% do PIB sozinho, sem contar todas as outras medidas implementadas, isso surpreendeu e ajudou muito no processo de suavização da crise.”

Apesar dessa melhora na projeção para o desempenho da economia no ano, o economista chefe do BNP Paribas avalia como improvável uma recuperação em V.

“No terceiro trimestre, vai parecer um V, porque nosso PIB caiu 9,7% no segundo trimestre e deve recuperar na casa de 8% no trimestre seguinte. Mas isso não deve continuar, devido ao início da retirada dos estímulos.”

Arruda destaca que é bastante diferente um cenário com 65 milhões de pessoas recebendo um auxílio emergencial de R$ 600 e outro com menos pessoas recebendo R$ 300. “Isso vai necessariamente afetar a dinâmica de crescimento nos próximos trimestres.”

Assim, o BNP Paribas projeta alta de apenas 1% do PIB no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior com ajuste sazonal, e estabilidade no primeiro trimestre de 2021, quando é esperado o fim do auxílio emergencial e também de outros programas de estímulo, como o BEm (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda).

O crescimento trimestral médio esperado para o próximo ano é de 0,5%, o que deve levar o PIB a uma alta de 3%, após a queda de 5% esperada para esse ano.

Com isso, o BNP Paribas avalia que o Brasil só deve retornar ao patamar de atividade anterior à crise por volta da metade de 2022.

Inflação e cenário fiscal

Diante deste cenário de uma demanda ainda contida por bastante tempo, Arruda avalia que a inflação não preocupa, apesar do repique recente nos preços dos alimentos. E acredita que há espaço para a taxa básica de juros se manter em 2% pelo menos até o fim de 2021, voltando a subir apenas no ano seguinte.

O BNP Paribas projeta que a inflação encerre 2020 em alta de 1,5%, chegando a 3% em 2021 e convergindo para a nova meta de 3,5% somente em 2022.

Quanto à trajetória da dívida pública, o banco espera que ela feche esse ano a 96% do PIB, caminhando para 98% a 99% no próximo ano, com uma estabilização a um patamar entre 90% e 95% a partir de 2022.

O pressuposto para esse cenário de estabilização é que o governo volte a receber recursos do BNDES a partir do próximo ano e especialmente em 2022. “O BNDES ainda deve algo como R$ 230 bilhões a R$ 250 bilhões ao governo federal e isso ajuda a reduzir o tamanho do endividamento.”

Arruda destaca que o cenário atual é muito distinto daquele anterior à pandemia, quando se esperava que a dívida bateria a um nível máximo de 75% a 76% do PIB e começaria cair nos próximos anos com a queda dos juros e a devolução do BNDES.

“Não dá para brincar com política fiscal, atingimos níveis elevadíssimos de dívida pública e daqui aos próximos anos vamos precisar necessariamente passar por um período de austeridade, apesar das pressões sociais para aumento de gastos”, afirma Arruda, reforçando a importância da manutenção de juros baixos para que a dinâmica da dívida seja administrável.

O BNP Paribas trabalha com um cenário de cumprimento do teto de gastos no próximo ano. Assim, avalia que a eventual criação do programa Renda Brasil poderá ser viabilizada com uma readaptação do orçamento, mas sem criação de novos gastos.

“O debate sobre se o teto de gastos é a melhor âncora fiscal pode existir, mas não nesse momento. Nesse momento o que vemos é um gasto muito grande e o importante é a sinalização de que o compromisso fiscal permanece.”

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