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Uso de precatórios e Fundeb para Renda Cidadã derruba Bolsa brasileira

Na contramão do mercado internacional, Ibovespa cai mais de 2% e dólar sobe 1,5%, a R$ 5,64, maior valor desde maio

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São Paulo

O mercado financeiro foi pego de surpresa com a sugestão do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) para o financiamento do Renda Cidadã. Os recursos para o programa social que substituirá o Bolsa Família viriam de recursos de precatórios (dívidas do governo cobradas pela Justiça) e do Fundeb (fundo para a educação).

A Bolsa brasileira, que operava em alta de mais de 1% até o início da tarde, tombou com o anúncio e o Ibovespa fechou em queda de 2,4%, a 94.666 pontos, menor valor desde 26 de junho. O dólar subiu 1,5%, a R$ 5,6390, maior valor desde 20 de maio. O turismo está a R$ 5,78.

Painel com flutuações do mercado na B3; Ibovespa caiu 2,4% com anúncio do Renda Cidadã nesta segunda (28) - REUTERS/Paulo Whitaker

“Estão ampliando programas que não estavam no orçamento sem uma contrapartida de recurso. Ou o tira de algum lugar, ou cria algum imposto. O mercado não viu o uso de precatórios como coerente, parece algo para fugir de um furo do teto, mas talvez esteja mal explicado”, diz Fábio Galdino, diretor de renda variável da Vero Investimentos.

A solução foi encontrada após Bolsonaro vetar a extinção de outros programas existentes hoje para custear o benefício. A proposta anunciada, no entanto, é alvo de críticas de especialistas, parlamentares e do TCU (Tribunal de Contas da União), que questionam sua legalidade.

Eles também consideram que o uso de recursos do Fundeb para o programa social desrespeita o teto de gastos, abaixo do qual está o Bolsa Família —o Fundeb não está sob teto de gastos.

O aumento de gastos do governo aumenta o receio de investidores com a saúde fiscal do país, o que se reflete na alta dos juros futuros.

Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos com base na evolução dos indicadores econômicos atuais. Eles são a principal referência para as taxas de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

O juro para janeiro de 2025 subiu de 6,22% ao ano na sexta (25) para 6,65% ao ano nesta segunda.

”O problema não é o anúncio da Renda Cidadã, mas a falta de transparência de como serão realocados os recursos públicos e qual será o impacto fiscal e sobre a dívida pública em um anúncio atropelado, sem grandes detalhes”, diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 0,65%, a 251 pontos.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

Segundo Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, o Renda Cidadã é o menor dos problemas em relação ao estouro orçamentário.

“O aumento da arrecadação com a aceleração da atividade a partir de medidas mais eficazes de recuperação econômica pode ser mais efetivo na redução do déficit gerado. Com a pandemia, acabou o teoria o teto, que foi embora a partir do estado de emergência.”

Ele afirma que o governo desistiu de controlar os gastos neste ano. “Com o estouro beirando R$ 1 trilhão, eles desistiram. Agora é pensar o que fazer para os próximos anos e aprovar as reformas e o fundamental um pacote de recuperação da economia”, diz Velloni.

No exterior, o pregão foi positivo para as principais Bolsas, após dados apontarem que os lucros das empresas industriais da China subiram pelo quarto mês consecutivo em agosto. O índice europeu Stoxx 600, que reúne as principais empresas da região, subiu 2,22%. Nos Estados Unidos, S&P 500 subiu 1,6%, Dow Jones, 1,5% e Nasdaq, 1,9%.

Na Bolsa brasileira, o destaque positivo foi a Embraer, que liderou ganhos do Ibovespa, com alta de 3,9%, a R$ 6,36.

No domingo, a companhia aérea Azul informou que recebeu aprovação para operar um jato Embraer E195 modificado para funções de cargueiro. A empresa também informou que espera que outras três aeronaves sejam adaptadas até o final do ano para fornecer serviços a clientes do setor de comércio eletrônico.

"Temos visto um forte aumento na demanda pelos serviços da Azul Cargo Express", afirmou John Rodgerson, o presidente da Azul, em comunicado ao mercado.

As ações da Azul , que chegaram a subir mais de 3% no pregão, fecharam em queda de 3%, a R$ 25,95.

Cosan cancela IPO da Compass devido às condições do mercado

A Cosan anunciou nesta segunda o cancelamento do pedido de registro para oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de sua controlada Compass Gás e Energia, citando "a deterioração das condições de mercado".

O grupo de energia e infraestrutura solicitou aval da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para o IPO da Compass no fim de julho, numa operação que deveria ser precificada nesta segunda e que poderia movimentar até R$ 4,4 bilhões, um dos mairoes IPOs do ano.

“A noticia de hoje é um baque bem forte para as empresas que estão com pedidos protocolados. Todo mundo estava achando que o IPO da Compass ia sair”, diz Pedro Lang, diretor de renda variável da Valor Investimentos.

Segundo Lang, a empresa deve ter levantado um valor abaixo do esperado.

Na quarta (23), o banco de investimento BR Partners também cancelou seu IPO e na quinta (24), a Caixa suspendeu o IPO da Caixa Seguridade, que seria a maior oferta do ano, movimentando mais de R$ 10 bilhões —até o momento, o maior IPO de 2020 é da Hidrovias do Brasil, que estreou na Bolsa na sexta (25), com R$ 3,4 bilhões.

Com o cancelamento de ofertas e captações abaixo da expectativa, alguns investidores já veem a janela de IPOs como encerrada neste ano.

“O termômetro final vai ser o follow-on [oferta subsequente de ações] de Suzano”, diz Lang. O BNDESPar vai vender sua fatia na empresa por meio da oferta.

Nesta segunda, a Melnick, construtora da Even, fechou em queda de 1,76% em sua estreia na B3, a R$ 8,35. A companhia precificou os papéis na entrada da Bolsa a R$ 8,50, no piso da faixa indicativa, levantando R$ 713,6 milhões.

Nas últimas semanas, três subsidiárias da Cyrela, Lavvi, Plano & Plano e Cury, estrearam na Bolsa com um valor abaixo do projetado. O mesmo ocorreu com a rede de farmácias Pague Menos. Com baixa procura, as construtoras Riva 9 e You cancelaram suas ofertas em julho e agosto, respectivamente.

Já a Boa Vista, um dos IPOs mais aguardados do ano, contrariou a tendência e precificou sua ação a R$ 12,20, no centro da faixa estimada pelos coordenadores da oferta, que ia de R$ 10,80 a R$ 13,60.

No total, a oferta alcançou R$ 2,17, R$ 870 milhões para os atuais sócios --a empresa de private equity TMG Capital e a Associação Comercial de São Paulo-- e R$ 1,3 bilhão para o caixa. Os recursos serão usados para aquisições.

A empresa de informações crédito deve estrear no pregão da B3 na quarta-feira (30).

(Com Reuters)

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