Siga a folha

País gera mais de 313 mil vagas com carteira assinada em setembro

É o terceiro mês consecutivo de saldo positivo no Caged, mas, no acumulado do ano, saldo é negativo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

3 meses por R$1,90

+ 6 de R$ 19,90 R$ 9,90

ASSINE A FOLHA
ou

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

Foram criadas 313.564 vagas com carteira assinada no país em setembro. Esse, segundo o ministro Paulo Guedes (Economia), foi o melhor resultado da história para os meses de setembro.

Embora os números sejam positivos, especialistas ouvidos pela Folha apostam em um início de 2021 problemático no mercado de trabalho formal.

"É o maior ritmo de criação de empregos já registrado em qualquer setembro. Todos os setores, todas as regiões do Brasil criando novos empregos, o que configura o fenômeno na volta em 'V' da economia brasileira", afirmou Guedes, após a divulgação dos dados.

A série histórica do levantamento começou em 1992.

A recuperação em "V" é citada por ele no discurso de que, após o tombo no auge da crise econômica da Covid-19, a atividade no país irá avançar rapidamente.

Apesar da recente retomada da geração de postos de trabalho, no acumulado de janeiro a setembro, o saldo ainda é negativo, com o desligamento de 558.597 trabalhadores. No mesmo período do ano anterior, foram gerados 761.776 novos empregos com carteira assinada.

Guedes, no entanto, destacou que, em outros anos de queda do PIB (Produto Interno Bruto), o resultado foi pior. Em 2015, houve fechamento de 657.761 até setembro, e em 2016, 683.597 vagas foram cortadas no mesmo período.

Na avaliação do secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, o desempenho de 2020, diante da pandemia, teve efeito do programa emergencial de preservação do emprego.

Esse programa permite a redução de jornada do trabalhador, com corte proporcional no salário, e a suspensão temporária de contratos de trabalho.

Isso, segundo o governo, evitou a demissão de aproximadamente 10 milhões de trabalhadores diante da crise econômica provocada pelo novo coronavírus. O custo desse programa, atualmente, está estimado em R$ 31,4 bilhões, pois o governo compensou parte dessas reduções de renda do trabalhador.

"Mantivemos empregos e empresas. Isso significa que a nossa retomada fica mais simples, menos custosa, pela manutenção desses pilares fundamentais da economia", afirmou Bianco.

Em 2020, o mercado de trabalho brasileiro apresenta, desde julho, uma recuperação após o fechamento de vagas no começo da crise do coronavírus —1,2 milhão de vagas desapareceram nos seis primeiros meses deste ano.

Setembro foi o terceiro mês consecutivo de saldo positivo.

Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apresentados nesta quinta-feira (29) pelo Ministério da Economia, mostram que, em setembro, o país teve 1,379 milhão de contratações formais e 1,065 milhão desligamentos.

Pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV/IBRE, Daniel Duque diz que o saldo do mês ficou em linha com o que ele projetava (300 mil). Isso porque o nível de admissões no país está voltando ao patamar dos anos anteriores, enquanto que as demissões estão mais baixas.

Um dos motivos é a estabilidade temporária garantida aos trabalhadores que tiveram os salários reduzidos durante a pandemia ou cujos contratos foram momentaneamente suspensos.

No entanto, ele prevê efeitos negativos para o mercado formal de empregos a partir do início de 2021, quando a estabilidade temporária da maioria dos trabalhadores deixará de existir e o governo deverá parar de pagar o auxílio emergencial a trabalhadores informais, o que tem estimulado o consumo durante a pandemia.

“O consumo da classe média deve crescer no próximo ano, mas, além do fim do auxílio e da estabilidade [de trabalhadores], a inflação está em alta. Isso deve afetar a economia”, declarou Duque.

O pesquisador Bruno Ottoni, do IDados e do Ibre, prevê que o resultado do Caged no primeiro trimestre de 2021 será “bem ruim”. Para ele, “o saldo [de vagas formais] será negativo e o desemprego ficará mais alto” no período.

Outro fator apontado por Ottoni é a segunda onda de coronavírus na Europa, que, a depender da reação das economias do continente, poderá atrapalhar o desempenho do mercado de trabalho no Brasil no próximo ano.

Ottoni e Duque avaliam ainda que a afirmação de Guedes de que o resultado de setembro é o melhor da história deve ser visto com cautela. Isso porque o Caged passou por uma mudança de metodologia esse ano, o que dificulta a comparação com os dados históricos.

“Não gosto dessa comparação porque houve uma quebra da série”, diz Ottoni.

A divulgação do Caged ficou suspensa esse ano entre fevereiro e abril, após o governo mudar a forma de entrega de dados pelas empresas, de um sistema próprio para o eSocial. Com a mudança, houve uma quebra na série do indicador, o que não permite uma comparação exata entre os números de 2020 e os de anos anteriores.

“É uma situação horrível, porque estamos numa baita crise, uma situação já super atípica e em cima disso ainda vem uma mudança de série. Isso dificulta muito realmente a análise”, afirma o economista da iDados.

“Não há somente uma quebra da série com relação à metodologia de captação, mas também uma quebra estrutural da série histórica que foi a Covid-19. Se as empresas estão compensando agora o que perderam nos últimos meses, é natural termos números de geração de vagas formais muito fortes”, diz Duque. “A questão mesmo é como vai estar a economia pós-Orçamento de Guerra.”

Todos os setores da economia brasileira registraram criação de vagas em setembro. O resultado foi puxado pela indústria, com a abertura de 110.868 vagas. Em seguida, figuram serviços (80.481), comércio (69.239), construção (45.249) e agricultura (7.751).

As cinco regiões do país registraram saldo positivo. Das 313,5 mil vagas abertas em setembro, a maior fatia foi registrada no Sudeste (128.094), seguida por Nordeste (85.336), Sul (60.319), Norte (20.640) e Centro-Oeste (19.194).

Tradicionalmente, o período entre agosto e outubro concentra a maior parte de contratações de temporários nas fábricas para produzir as demandas das festas de fim de ano.

Depois, principalmente em dezembro, o resultado costuma ser negativo por causa da dispensa desses trabalhadores.

O governo espera que, apesar da crise da Covid-19, essa tendência continue em 2020. O Ministério da Economia, porém, não faz projeções para o desempenho do mercado de trabalho.

Neste ano, o pior mês registrado pelo Caged foi abril, logo no início da pandemia.

Em janeiro, foram gerados 114 mil empregos formais. Influenciado pela crise, o mercado de trabalho variou no ano: fevereiro (com saldo positivo de 224 mil), março (-268 mil), abril (-940 mil), maio (-362 mil), junho (-24 mil), julho (geração de 140 mil) e agosto (com saldo positivo de 244 mil).

Colaborou Thais Carrança

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas